segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O sucessor de Pedro e as meias verdades

 

O cargo de Pontifex Máximus está vago. Bento XVI anunciou sua renúncia como suposto sucessor de São Pedro.

O pontifex era uma magistratura sacerdotal romana criada séculos antes do cristianismo e que se dedicava aos rituais de Estado. Júlio César foi um deles (a César o que é de César).

Para a Igreja institucional a adaptação foi perfeita, pois ela seria tudo aquilo que Jesus sempre repudiou: política e meias verdades.

Para Pedro, símbolo moral da igreja espiritual, esse cargo que ele nunca exerceu e certamente também repudiaria, é uma ofensa à Jesus, à sua proposta de humildade e opção pelos pobres e oprimidos. Pedro nunca foi papa e não há provas históricas disso. Seria incompatível com essa doutrina de dogmas e rituais do paganismo.

Tudo que vai contra à sua política e as meias verdades, a Igreja logo trata de punir e extirpar dos seus quadros. Francisco de Assis foi um exemplo disso. Foi enviado pelo Plano Espiritual Superior para neutralizar os abusos e desvios do clero e foi seriamente perseguido. As tentativas de renovação foram inúmeras, mas o poder clerical é sempre mais forte do que a fé e a humildade.

Sempre pegaram no pé o Espiritismo, desde o início, porque sentiram que a coisa era séria e poderia abalar definitivamente os alicerces frágeis do catolicismo. Kardec logo foi vítima da Inquisição e seus livros foram queimados na Espanha, principal reduto obscuro da Igreja corrompida.

Mas não adianta, a fé a Verdade se farão nos quatro cantos do mundo, queiram ou não queiram os homens.


Eis a mensagem que Kardec recebeu dos seus orientadores sobre esse assunto:


A Igreja

PARIS, 30 DE SETEMBRO DE 1863.

(Méd. sr. d’A...)

Eis-te de retorno, meu amigo, e não perdeste o teu tempo; à obra ainda, porque não é preciso queimar a bigorna. Forja, forja armas bem temperadas; repousa de teus trabalhos por trabalhos mais difíceis; todos os elementos ser-te-ão colocados nas mãos, na medida da necessidade.
É chegada a hora em que a Igreja deverá prestar conta do depósito que lhe foi confiado, da maneira pela qual praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade ao qual conduziu os espíritos; é chegada a hora em que ela deverá dar a César o que é de César e incorrer na responsabilidade de todos os seus atos. Deus a julgou, e a reconheceu imprópria, doravante, para a missão de progresso que incumbe a toda autoridade espiritual. Não seria senão por uma transformação absoluta que poderia viver; ela, porém se resignará a essa transformação? Não, porque então não seria mais a Igreja; para se assimilar as verdades e as descobertas da ciência, seria necessário renunciar aos dogmas que lhe servem de fundamento; para retornar à prática rigorosa dos preceitos do Evangelho, ser-lhe-ia necessário renunciar ao poder, à dominação, trocar o fausto e a púrpura pela simplicidade e a humildade apostólicas. Está entre duas alternativas; se ela se transforma, se suicida; se permanece estacionária, sucumbe sob a opressão do progresso.
De resto, já Roma está na ansiedade, e sabe-se, na Vida Eterna, pelas revelações irrecusáveis, que a Doutrina Espírita está chamada a causar uma viva dor ao papado, porque o Cisma se prepara rigorosamente na Itália. Não é preciso, pois, admirar-se da obstinação que o clero põe para combater o Espiritismo, sendo a isso levado pelo instinto de conservação; mas já viu as suas armas se enfraquecerem contra esse poder nascente; os seus argumentos não puderam ter a inflexível lógica; não lhe resta senão o demônio; é um pobre auxiliar no século XIX.
De resto, a luta está aberta entre a Igreja e o progresso, mais do que entre ela e o Espiritismo; é o progresso geral das idéias que lhe rebate os argumentos de todos os lados, e sob o qual sucumbirá, como tudo o que não se coloca em seu nível. A marcha rápida das coisas deve vos fazer pressentir que o desfecho não se fará esperar por muito tempo; a própria Igreja parece impelida fatalmente para o precipício. (Espírito d’E.)