sexta-feira, 18 de abril de 2014

Encontro casual em Paris

George Sand (Aurore Dupin), escritora, crítica de teatro, feminista, lésbica. Viveu no século XIX e foi durante alguns anos companheira afetiva de Chopin.
 
Reza a lenda que foi a primeira pessoa que recebeu das mãos de Allan Kardec um exemplar inédito de O Livro dos Espíritos, num encontro casual nas ruas de Paris, na manhã de 18 de abril de 1857. A escritora, que era antiga amiga do Prof. Rivail, recusou educadamente o presente, dizendo não ser digna de tamanha honra, pois se tratava de uma joia que a sua personalidade polêmica iria ofuscar.
 
Cem anos depois, no mundo espiritual, George Sand reencontrou Allan Kardec, no mundo espiritual, durante as comemorações do centenário de lançamento do livro base da Doutrina Espírita.

O Paracleto


No século XIX entramos numa profunda crise existencial e passamos a duvidar de tudo e de todos. Nietszche matou Deus e inventou o Super Homem. Marx destruiu o encanto místico e todos nós passamos a duvidar da imortalidade.
Mas no Mundo Oculto havia uma grande conspiração para sacudir o planeta e as bases do materialismo. Era uma invasão organizada dos Mortos denunciando a vida além túmulo. No mundo inteiro, a partir de 1848, ocorreram fenômenos assustadores nos quais as paredes tremiam e as pedras falavam. As mesas passaram girar quando as pessoas se reuniam de mãos dadas para investigar esse grande mistério.
 
Era o Paracleto.
 
Em Paris, um grupo de artistas e intelectuais entregaram para o Prof. Rivail um caderno com relatos de todas essas coisas estranhas que eles presenciaram; e pediram a ele que fizesse uma investigação científica e uma síntese dessa nova realidade.
 
Em 18 de abril de 1857 Rivail concluiu seus estudos e publicou a obra que iria modificar definitivamente as relações entre a Terra e o Céu, entre o Homem e a Natureza e entre as criaturas e o Criador.
 
São 1019 perguntas e 1019 respostas sobre todas as coisas que sempre desejamos saber sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
 
O Prof. Rivail tornou-se Allan Kardec e o antigo Livros dos Mortos do velho Egito tornou-se o Livro dos Espíritos, um novo guia das almas para decifrar os mais profundos enigmas do Universo.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Cultuar Rivail e ocultar Kardec


 


Alguns pesquisadores espíritas continuam cometendo um ingênuo erro histórico ao confundir Rivail com Allan Kardec. A história de Rivail nada tem a ver com o Espiritismo, a não ser na pura imaginação dessas pessoas.

 Não existe, até agora, nenhum tipo de documento ou evidência que possa fazer essa relação entre duas pessoas tão diferentes: uma que não era espírita e outra que se tornou espírita após os 50 anos de idade. Nada que Kardec faz antes dessa idade tem relação com o Espiritismo e isso o próprio Kardec deixa claro e evidente em Obras Póstumas.

 
Não podemos falsificar a memória do fundador do Espiritismo imaginando coisas, associando ideias sem conexão ou simplesmente tentando dar sentido às coisas que não tem cabimento, simplesmente porque isso satisfaz o preenchimento forçado de algumas lacunas teóricas.

 
A vida de 14 anos de Allan Kardec é muito rica em fatos inexplorados e historicamente compatíveis com o Espiritismo. Porém, ainda não sabemos os motivos que impedem esses pesquisadores a não desvendar esses acontecimentos.
 
Será que essas pesquisas realmente tem como alvo o Espiritismo ou apenas interesses particulares?

sábado, 5 de abril de 2014

Quem se importa com o Espiritismo?

 
Para os espíritas (e isso não é consenso), o Espiritismo teve pontos importantes com fenômeno histórico: a reafirmação da imortalidade em bases científicas; a difusão do conceito de reencarnação; intercomunicação entre planos ou dimensões por meio de inteligências encarnadas e desencarnadas; e sobretudo o resgate do cristianismo em bases morais humanistas, desvinculado das igrejas.

Socialmente falando, a Doutrina Espírita é importante somente para os espíritas e seus simpatizantes, que não são muitos quando comparados aos segmentos culturais existentes no mundo. Não podemos confundir informação com propaganda. Informação deve ser pautada pela verdade e a propaganda nem sempre é fiel à verdade. Quando se fala da importância do Espiritismo nós devemos sempre considerar dois aspectos: os espíritas falando, incluindo o Espíritos; e a opinião pública não espírita. Nós espíritas sabemos dessa importância porque somos comprometidos com esses valores; já a opinião pública, que não é espírita, não tem o mesmo ponto de vista. Isso significa que, verdadeiramente, fora do nosso círculo doutrinário e do seu movimento social, o Espiritismo pouco significa e influi como visão de mundo, cultura moral e pratica social: como ciência o Espiritismo não existe formalmente; geograficamente falando, o Espiritismo ainda é numericamente insignificante e também pouco influente entre os grupos das grandes religiões e filosofias morais atuantes no mundo. Essa é a realidade.

Qual é a causa dessa insignificância de uma doutrina que já ultrapassou um século e meio de existência?

Uma delas é a indiferença, autêntica ou fingida. A doutrina espírita foi e continua sendo sistematicamente ignorada pela intelectualidade reinante no cenário acadêmico. Com exceção de alguns pequenos núcleos de pesquisa e tímidas dissertações, feitas geralmente por adeptos e simpatizantes, não se fala em Espiritismo como conhecimento científico, pensamento filosófico ou epistemológico. O Espiritismo só é permitido nesses ambientes de formalidade como tema religioso do imaginário social.

Outra constatação importante: o Espiritismo foi banido da história, sendo ignorado pela produção historiográfica. Primeiro porque ele não teve nenhuma participação conhecida nos grandes eventos históricos europeus e mundiais. Segundo porque é visto como uma ameaça aos dogmas religiosos tradicionais e aos paradigmas científicos dominantes; o fenômeno e a moral espíritas são temas incômodos nos círculos tradicionais do saber porque essa doutrina desafia o materialismo aristotélico das correntes científicas e também o dogmatismo das correntes religiosas. Não podemos esquecer que cientistas e sacerdotes são produtos de uma mesma linha histórica e ideológica, de uma mesma elite intelectual, os inventores da academia. São inimigos aparentes e possuem mais afinidades do que antipatias. 

Portanto, falar em Espiritismo, de forma direta, continua sendo proibido nas universidades (novo reduto dos templos antigos) e nos veículos de comunicação, que ainda são as principais fontes de produção do conhecimento. Nos meios de comunicação até que se fala com mais liberdade e abertura sobre a doutrina, porém sempre sob a tutela das autoridades acadêmicas. Falar publicamente sobre Espiritismo continua sendo um tabu. Para que isso aconteça é preciso criar mecanismos de disfarce e optar por abordagens que possam adaptar as temáticas espíritas às áreas científicas já conhecidas e seus modelos epistemológicos. Não podemos falar diretamente de mediunidade ou de comunicação com “mortos”, pois essas informações não são compatíveis com a linguagem científica convencional, muito menos de reencarnação. Para a ciência esses temas são da cultura religiosa e também não foram contemplados pelos filósofos clássicos traduzidos na Idade Média e utilizados pela tradição sacerdotal. O mesmo aconteceu com as mulheres pensadoras e cientistas. Não se conhece mulheres filósofas e cientistas, a não ser pelo nomes e histórias obscuras (Aspásia e Hipácia de Alexandria; ou raridades como Marie Curie por exemplo), porque as traduções sobre seus trabalhos foram e continuam sendo rejeitadas pelas corporações religiosas, predominantemente masculinas.

Então, a solução é sempre a mesma: adaptar o temas espíritas para a sociologia, especificamente para antropologia; ou então para a medicina como pratica alternativa.

Infelizmente, Allan Kardec continua sendo um ilustre desconhecido do grande público contemporâneo. No Brasil ainda existe um certo conhecimento por causa da história social do movimento espírita e das novelas exibidas na TV abordando temas espíritas, bem como as cinebiografias de Bezerra de Menezes e Chico Xavier. O jogador de futebol Allan Kardec, que não é espirita, parece ser mais famoso do que o codificador do Espiritismo. No exterior, incluindo a França, não existe esse conhecimento nem reconhecimento do Espiritismo, não como fenômeno social significativo. Durante muitos anos acreditávamos que os livros e os oradores espíritas que iam para o exterior estavam fazendo grande sucesso e divulgando a doutrina em terras estrangeiras. Na verdade tudo ficava restrito a pouquíssimas pessoas interessadas no assunto, geralmente brasileiros que viviam fora do país. Nesse aspecto, ainda predomina a opinião de J. Herculano Pires: Allan Kardec realmente ainda é desconhecido em sua obra e não "desatualizado" como se pensa. 

O século XXI talvez seja o período em que o Espiritismo atinja a sua maturidade, liberto das fases anteriores (fenomênico, filosófico e religioso) para atingir uma plenitude ética integral. Isso significa que muitos pontos ainda incompreendidos da doutrina serão desvendados nessa nova sociedade das aristocracias intelectuais, a chamada "superclasse" de David Hotkopf, que influi mais pelas ideias do que pelo dinheiro e armas. Desatualização de conceitos não acontecem por causas cronológicas, só porque o tempo passou. Ela acontece por causas epistemológicas e novas abordagens científicas. Nem a filosofia nem a ciência explorou suficientemente os princípios espiritas para apontar uma desatualização. A imortalidade, reencarnação e a moral espíritas continua sendo vistas como crenças pela maioria dos adeptos do Espiritismo e também pelos não espíritas. Poucos se dão conta desses aspectos epistemológicos. Apenas aceitam, acreditam e pronto. Muitos outros aspectos que podem ser relacionados à doutrina espírita aguardam uma solução de continuidade: a arte, a política, a tecnologia, a sustentabilidade, a educação, enfim, coisas que Allan Kardec pensou, porém não teve tempo para realizar. Portanto, a obra de Kardec não encontrará problemas de desatualização ou de contextualização, mesmo por que ele deixou claro que o Espiritismo sempre teria como bússola as tendências do conhecimento.

O conhecimento espírita avançou muito pouco como filosofia e ciência. Só crescemos, numericamente como busca e expressão religiosa, em função dos mesmos e persistentes conflitos humanos: as questões da dor, da morte e do destino. Não avançamos porque nossa epistemologia ainda não foi desvendada em sua amplitude, nem mesmo pelos espíritas. Muitos de nós continuamos comprometidos com as cosmogonias teocráticas, absolutas, impedindo uma transformação de mentalidade. Somente agora - 150 anos depois do lançamento do Livros do Espíritos - é que estamos dando os primeiros passos nesse sentido multidimensional da doutrina. 

Ainda estamos muitos tímidos, pisando em ovos nas universidades e laboratórios, presos aos paradigmas positivos de ciências e ao modelo filosófico greco-romano, o mesmo que foi ideologicamente selecionado, preservado e imposto pela Igreja. Não sabemos ainda sobre dimensões da física quântica, da visão complexa de mundo, da incerteza e instabilidade aparente que governa o Universo. Parece que a cultura religiosa e mística que herdamos do catolicismo ainda causa temor e desconfiança nas pesquisa espíritas. Nossa psicologia ainda fica restrita aos processos da consciência moral e não explora as potencialidades mentais, como tecnologia cognitiva e educacional.

Nossos livros ilustrativos da obras de Kardec, de produção psicográfica, estão ficando velhos, quase centenários e brevemente terão problemas para explicar epistemologicamente suas abordagens literárias. Ainda ficamos assustados e irritados com os questionamentos e desconfianças do mundo cético, tão natural entre os primeiros adeptos espíritas como León Denis, Camille Flamarion, Gabriel Dellane e o próprio Kardec. Ainda somos fascinados por narrativas fantásticas ou de auto-ajuda sobre os fenômenos espíritas, quando ainda não conhecemos nem as bases históricas e filosóficas dessas considerações.