quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Vinícius, o poeta que cantou as dores da solidão e do suicídio




Falando em amizade e compaixão, ninguém melhor do que Vinícius de Moraes, intérprete da alma humana e praticante da boa camaradagem, para definir como isso funciona na prática e como dimensionar o valor de uma amizade para quem está diante dessa possibilidade de tirar a própria vida.  Sozinho ele sempre demonstrou uma intensa necessidade em definir a tristeza e a solidão, males que certamente levam os mais fracos ao suicídio: 
 
Bom dia, amigo/Que a paz seja contigo/ Eu vim somente dizer/ Que eu te amo tanto/Que vou morrer/ Amigo... adeus... 
 
 Com o seu parceiro Toquinho, com quem formou uma das duplas mais conhecidas da música popular brasileira dos anos 70 e 80, cantou as mais interessantes emoções dessas duas experiências, com muitos sucessos e poucas músicas desconhecidas do grande público. Entre essas últimas constava do repertório deles o samba Um Homem chamado Alfredo, talvez o único do gênero que fala de maneira sincera e comovente sobre suicídio. Ele sabia falar dessas coisas dolorosas da vida de uma maneira muito especial, como fez em Gente Humilde.  Mas numa letra em que fala do vizinho Alfredo (vizinho de todos nós), ele se superou e foi a fundo, tão fundo que ao ouvirmos o relato também dá na gente uma enorme “vontade de chorar”. O samba começa indo direto ao ponto, sem rodeios e pudores:

“O meu vizinho do lado se matou de solidão /Ligou o gás, o coitado, último gás do bujão/Porque ninguém o queria, ninguém lhe dava atenção/ Porque ninguém mais lhe abria as portas do coração/Levou com ele seu louro e um gato de estimação” 


E no verso seguinte - Ah! Quanta gente sozinha...  - o poeta lamenta que não era apenas o Alfredo o qual sofria desse mal, mas também as multidões de gente triste, solitária e desesperada, gente simples e anônima, gente importante e famosa. É verdade, gente famosa, gente que a “gente que gente nem imagina”, a maioria artistas desiludidos e cansados da objetividade e mesmice da vida exterior, também se mata como o desconhecido Alfredo. 

Como Vai Você? – CVV, 50 anos ouvindo pessoas. Dalmo Duque dos Santos.  Editora Aliança