terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Luciano e o verdadeiro André Luiz

Luciano dos Anjos nos enviou, como colher de chá adoçada em mel, parte do capítulo 6 ( As Comprovações) do seu livro “O Verdadeiro André Luiz”.

Trata-se do ítem 18 – O Papel da Mulher - que fala de Odete Portugal , esposa do Dr. Faustino Esposel, comparando-a com a esposa de André Luiz.

Na época a FEB fez algumas recomendações de cortes em vários assuntos que, segundo seus dirigentes, eram considerados polêmicos (feminismo, sexualidade e política) e que poderiam atrair propaganda negativa para a obra e também para o Espiritismo.

O assunto pesquisado por Luciano vem à tona num momento muito propício, não somente pelo estrondoso sucesso de Nosso Lar no cinema, mas principalmente por ser um divisor de águas nas discussões doutrinárias do movimento espírita. Como se sabe, até hoje a obra de André Luiz causa incômodo em alguns críticos que não aceitam essa abordagem como literatura fiel aos princípios kardecistas. Apesar de Herculano Pires – um dos principais defensores da ortodoxia espírita- ter afiançado que André Luiz seria totalmente compatível com as obras da Codificação, a narrativa ousada do médico carioca ainda atrai muitos contestadores das teses científicas expostas na série psicografada por Chico Xavier.

Capítulo 6 – As comprovações


18. O Papel da Mulher

Georgeana van Erven, era uma dos oito filhos do fazendeiro Antônio de Sampaio van Erven, casado com Maria Clara de Faria Salgado. Eram proprietários de catorze grandes fazendas, no estado do Rio de Janeiro. Segundo registros da família, anotados pelo descendente Domingos de Gusmão van Erven, com quem até hoje me correspondo, Antônio de Sampaio era homem de grande visão. Prevendo o fracasso da cafeicultura, voltou as vistas para a pecuária, que iniciava seus avanços. Nesta empreitada, contou com a colaboração do dr. José Teixeira Portugal, clínico de renome, que casara com a Georgeana. Tiveram duas filhas, Odete e Olga. Em 1922, Odete se casa com Faustino Monteiro Esposel, colega médico de seu pai. Ele deixa o endereço da rua São Clemente nº 393 e vai morar ali perto, no casarão da rua Martins Ferreira nº 23. Quando José Teixeira Portugal desencarna, em 1927, Antônio de Sampaio van Erven prosseguiu praticamente sozinho à frente das fazendas e das indústrias de leite e café, valendo-se, às vezes, da colaboração daquela filha.

Faustino Esposel (quem me narra é a Odete) não via com muito agrado a sogra nessa atividade, preferindo que algum irmão dela, como homem, assumisse os encargos. Ficava incomodado quando a Georgeana buscava, em casa, alguma ajuda das filhas Odete e Olga, embora de forma muito esporádica.

Em 1930, é o pai da Georgeana quem desencarna, O patrimônio passa aos sucessores e ela assume o papel de principal gestora dos negócios. Faustino Esposel já está bastante adoentado, tendo inclusive renunciado à presidência do Flamengo. Daí que a Odete, assistindo o marido, não tem mesmo muitas condições de ajudar a mãe. Mas também não o faz porque o Faustino, alinhado ao raciocínio da época, sempre fora avesso a que as mulheres trabalhassem fora de casa, e que deveriam dedicar-se tão somente às tarefas do lar. Até porque ele tem ótima situação financeira e não necessitava de maiores recursos.

Nesse particular, a Odete me confirmava sorridente que o Faustino não transigia; não queria que ela trabalhasse fora, mesmo em seu próprio negócio, preferindo que o acompanhasse nas programações sociais.

Ocorre que logo no final do ano seguinte o Faustino desencarna, em 1931. Georgeana, a mãe da Odete, prossegue à frente dos negócios, que irá ampliar-se, a partir de 1938, quando é iniciada a fabricação da afamada manteiga Van Erven, cuja razão social era Van Erven Portugal e Filhos. Ao mesmo tempo, Georgeana assume a presidência da Cooperativa de Cordeiro, para onde mandava doze mil litros de leite por mês. Em 1943, a Fazenda Santa Clara era a maior produtora de leite e de manteiga da região.

Bem, é com esse entendimento do papel da mulher – forte e generalizado naquela época – que Faustino Monteiro Esposel desencarna. É verdade que já não eram as décadas radicais de 20 e 30, mas, na década de 40 ainda existia muito preconceito, que só vai amainar com a explosão da II Grande Guerra, dada a imperiosa necessidade de mão de obra em substituição aos convocados para o front e de novas fontes de recursos para subsistência das famílias.

E, então, podemos também entender, agora, por que, ao ditar, em 1943, Nosso Lar, André Luiz/Faustino Esposel escreve, no capítulo 20:

A mulher não pode ir ao duelo com os homens, através de escritórios e gabinetes, onde se reserva atividade justa ao espírito masculino. Nossa colônia, porém, ensina que existem nobres serviços de extensão do lar, para as mulheres. A enfermagem, o ensino, a indústria do fio, a informação, os serviços de paciência, representam atividades assaz expressivas. O homem deve aprender a carrear para o ambiente doméstico a riqueza de suas experiências, e a mulher precisa conduzir a doçura do lar para os labores ásperos do homem. Dentro de casa, a inspiração; fora dela, a atividade. Uma não viverá sem a outra. Como sustentar-se o rio sem a fonte, e como espalhar-se a água da fonte sem o leito do rio?

Prossigo transcrevendo parte do capítulo em que abordo o assunto, em meu livro O Verdadeiro André Luiz, quando falo dos cortes ou alterações que eram sugeridos pela FEB para serem submetidos ao espírito, através do próprio Chico Xavier.

Em 1943 e 1944, quando Nosso Lar é psicografado e lançado, persistia – friso outra vez – a mentalidade de que mulher não deveria trabalhar fora do lar. O quadro que já podia ser observado, com as fábricas cheias de operárias, não significou de pronto qualquer mudança de conceito, sendo encarado apenas como emergencial. Era esse, pois, o entendimento de André Luiz. As lições do capítulo 20 são lindas e perfeitas na visão esférica dos papeis do homem e da mulher quanto à divisão de tarefas e à mais forte característica de cada sexo. Não podemos dizer que a colocação de André Luiz esteja errada, ao refletir o conceito firmado na sociedade. Faustino Esposel pensava no mesmo diapasão. No entanto, não seria uma colocação que valesse para sempre. Assim, a omissão dessa colocação (que, no fundo é mais um alerta do que uma recomendação determinativa) teria evitado a justa crítica dos leitores dos anos do pós-guerra, quando o papel da mulher efetivamente se ampliou de direito e de verdade, valorizando-se. Andaria bem a FEB se tivesse, mais uma vez, consultado André Luiz sobre a conveniência de ser cortado o pequeno trecho. Ou que a redação fosse aprimorada. Como nos demais casos, não tenho dúvida de que o espírito concordaria, a despeito do ranço de sua ideia pessoal. Salvo se desconheço que tenha havido mais essa consulta e que, de repente, André Luiz recomendou que o texto fosse mantido. Mas o Wantuil nunca me falou dessa recomendação.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cachoeira continua sem respostas para os fenômenos



Os moradores do pequeno distrito de Cachoeira, em Itatira-Ceará, continuam sem respostas para os fenômenos ocorridos na escola local. Os fenômenos não cessaram, pelo contrário, surgem novos casos e ocorrem em diferentes lugares. Para evitar a publicidade e expor a comunidade na mídia, os moradores foram instruídos a evitar falar sobre o assunto. As alunas que entraram em transe estão proibidas de frequentar as aulas.
 
Trata-se de um caso típico de mediunidade que poderia ser esclarecido de forma instrutiva e equilibrada, mas quando entra em cena os questionamentos sobre as causas e efeitos dos acontecimentos, certamente ocorre uma forte reação a cultura dogmática e dos interesses religiosos tradicionais. Quando interessa tais fatos são divulgados como “milagrosos” , porém, quando se tornam inconvenientes, são interpretados como “eventos diabólicos”. Há também a interpretação “paranormal” e “psiquiátrica”, rotulando o fenômeno como “surto psicótico”. Mesmo com toda essa diversidade de leituras, a população continua sem respostas plausíveis e as vítimas em situação de sofrimento, agora agravada pelas ameaças e discriminação social. Elas foram encaminhadas e atendidas no hospital da cidade como se o problema fosse simplesmente de ordem médica. Como não houve nenhuma solução e também a persistência dos fenômenos, optou-se então pela lei do silêncio, como mostram diversas reportagens feitas por emissoras da região.
 
Lembrando de fatos semelhantes ocorridos em outras épocas, denominados por Conan Doyle de “invasão organizada”, é possível que Cachoeira venha ser alvo de uma ação mais ampla e que esses fenômenos sejam apenas eventos precursores de grandes manifestações psíquicas no futuro. Uma ex-professora lembrou que na década de 1980 houve uma onda de fenômenos semelhantes naquela região.
 
Comunidades onde acontecem tais fenômenos , de acordo com inúmeros relatos históricos, são escolhidas previamente pelo Plano Espiritual para a reencarnação e atuação de médiuns com missões e tarefas de grande impacto social. Isso ocorreu em Hydesville , nos EUA, em 1848, com a irmãs Fox e em diversas cidades da Europa nos anos que antecederam o movimento Espiritualista anglo-saxônico e a codificação do Espiritismo na França. Na mesma época no distrito de São João da Mata , na Bahia, foram registrados casos semelhantes. As regiões de Minas Gerais onde atuaram Eurípedes Barsanulfo, Maria Modesto Cravo, Chico Xavier e Zé Arigó também foram palco de intensos fenômenos precursores das atividades mediúnicas desses missionários. A presença de meninas da mesma faixa etária (entre 11 e 14 anos) também é histórica, pois estas são mais sensíveis e vulneráveis aos fenômenos. Além da irmãs Fox, lembramos que grande parte das informações obtidas por Allan Kardec para compor os livros da Codificação Espírita foram obtidas através do trabalho equilibrado em bem conduzido de três adolescentes: as irmãs Baudin e a menina Japhet, todas filhas de pais médiuns e educadas na tradição espiritualista cristã.
 
Apesar da presença predominante do catolicismo, o Ceará possui uma significativa trajetória histórica espírita iniciada pela família do Barão de Vasconcellos, mais tarde consagrada pelas atividades do médico Adolfo Bezerra de Menezes, na época radicado no Rio de Janeiro. O Dr. Bezerra, nascido em Riacho do Sangue, era conhecido como o Médico dos Pobres.


 

AJUDA DE TODOS
Diretora da escola defende ajuda de todas as fontes de conhecimento.
“O desespero gerado pela repetição do transe coletivo que vem atingindo, há cerca de um mês, alunos das escolas de Ensino Fundamental Eduardo Barbosa e Estadual Nazaré Guerra - que funcionam no mesmo prédio, em Cachoeira, no Sertão Central do Ceará – levou a direção e o prefeito de Itatira, José Ferreira Matheus, a pedir ajuda a outras religiões. Sem entender o fenômeno, os moradores da cidade, de maioria católica, estão em pânico. A primeira tentativa de pôr fim ao sofrimento dos estudantes e de suas famílias foi sugerida por um padre, mais ainda não surtiu efeito.
 
- Procuramos um especialista (o padre José Élio Correia de Freitas, parapsicólogo) e ele nos orientou a fazer acompanhamento psicológico dos jovens. O trabalho começou na semana passada, mas os casos voltaram a ocorrer. Eu quero uma resposta. Se for para ir atrás dos espíritas, eu vou – afirma Maria Eliane Dias, diretora da Nazaré Guerra, escola cuja sede fica em Lagoa do Mato, mas que possui um anexo em Cachoeira para 159 alunos do ensino médio.
Maria Eliane colocou o telefone da escola sede ((88) 3436-3890) à disposição de especialistas que possam auxiliar os estudantes. Desde que os primeiros transes ocorreram, evangélicos e espíritas da cidade vizinha de Canindé estiveram em Cachoeira para oferecer ajuda. A diretora explica por que não aceitou a opinião de outros religiosos logo após os primeiros casos:
 
- Depois que o padre indicou o acompanhamento com psicólogos, não deixamos mais ninguém entrar para não misturar as estações, nem criar rumores. Se fizéssemos tudo paralelamente, ficaríamos sem saber o que tinha resolvido o problema. Os pastores queriam fazer um culto na escola, mas não queríamos aglomerar os alunos no pátio novamente. Um deles disse que ia expulsar o demônio das meninas no dia da missa, impôs as mãos sobre elas, mas não conseguiu.
Prefeito de Itatira, município ao qual Cachoeira pertence, José Ferreira Matheus presenciou o transe de 25 pessoas no pátio da escola, no dia 2 de junho. Ele também se diz receptivo a todo tipo de apoio.
 
- A gente aceita ajuda de igreja A ou B. Estamos procurando um filho de Nossa Senhora que nos ajude. Os alunos não querem mais ir à escola, que sempre foi bem estruturada. Isso é péssimo para o nosso município.
De acordo com o prefeito, um caso semelhante ao que vem acontecendo com os alunos já teria sido registrado, há cerca de 20 anos, no distrito de Lagoa do Mato.
 
- Ouvi falar só de uma pessoa, uma senhora que ficava com a voz diferente. Mas só acontecia na casa dela”.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Discutindo Jesus ou a nossa mania de perfeição

Jesus e a samaritana em cena descrita pelo discípulo João: " O Messias sou eu que falo contigo!"


Volta e meia Jesus entra em discussão no meio espírita. Isso não é perigoso, pelo contrário: é maravilhoso. Personalidade de múltiplas facetas no imaginário social, o rabi nazareno é líder em elucubrações e significações filosóficas humanas, que vão desde simples “ carpinteiro” até “governador planetário”. Entre muitas coisas, Jesus é psicólogo, líder político, educador, médico, advogado, ecologista, escritor, astrônomo, químico e físico. Só não faz muito sucesso como líder religioso ou espiritual. Fora desse aspecto comum, Jesus também é um ser mitológico, cuja imagem construída pela coletividade de anseios e expectativas recebe títulos pomposos e responsabilidades fora das possibilidades mortais. O tratamento místico e sobrenatural também se estende ao seu antigo círculo familiar judaico e aos grupos de discípulos e ativistas.

Tudo isso por que publicou oral e vivencialmente uma obra considerada desconcertante na experiência humana. Seu Evangelho funciona ao mesmo tempo como relógio e bússola da experiência do Espírito: o primeiro para a existência carnal e o segundo para a consciência espiritual. Indecisos entre o determinismo e o livre arbítrio, o ego e o Eu, quem entra em contato autêntico com as suas observações éticas sofre danos irreversíveis na personalidade, provocando as mais curiosas crises e reações comportamentais : arrependimento, lágrimas sentidas, gargalhadas irônicas, medo, entusiasmo, ódio, inveja, esperança, ansiedade, inconformismo. Lembrando o Espírito Verdade, a obra confunde os orgulhosos e glorifica os justos. Também dissipa as trevas, ilumina caminhos e abre os olhos aos cegos.

Recentemente um conhecido místico judeu declarou que Jesus cometeu apenas um erro, que lhe foi fatal: revelou sua luz interna, que deveria ser mantida oculta, restrita ao mundo sacerdotal. Sem comentários.

No movimento espírita Jesus é um pouco de tudo isso. Não poderia ser diferente. É só lembrar a diversidade social e psicológica que compõe a nossa vasta agremiação. Somos herdeiros da cultura cristã em vários aspectos históricos e sociológicos. Allan Kardec fez essa avaliação para entender e depois compreender por que o Espiritismo repercute de forma tão diferenciada nas pessoas. Publicou os resultados e sua avaliação na Revista Espírita num curioso artigo denominado “Quem são os Espíritas”. Sua apreciação sobre os espíritas lyoneses – segundo ele os mais autênticos e históricos – é forrada de adjetivos e características cristãs.

O Brasil, nação autenticamente espírita (afirmação dos antropólogos), é filha de Portugal e sobrinha da Espanha, países forjados secularmente nas lutas medievais entre cristãos, bárbaros e muçulmanos. O nome original do nosso País não era esse apelido vulgar dado à madeira e aos contrabandistas de pau-brasil (Brasil e brasileiros), mas Terra de Santa Cruz ou Vera Cruz. Os nossos mais influentes líderes foram forjados nas mais diferentes escolas espiritualistas, que vai do catolicismo simplório do mundo colonial até os mais ousados núcleos esotéricos e escolas científicas contemporâneas. Até mesmo alguns setores considerados anti-místicos e areligiosos não conseguem se livrar dos antigos hábitos da lei adoração e auxílio ao próximo, mesmo dando nomes modernos e disfarçados para essas antigas práticas de caridade cristã.

Enfim, Jesus está entre nós. Mais do que nunca. Quanto mais questionamos, mais atraímos e nos aproximamos dessa grande força inteligente e transformadora das pessoas e da sociedade. Ainda não sabemos ao certo quem é e o que realmente significa Jesus e seu Reino, porém estamos certos que essa é uma marca que nos torna mais iguais e muito mais próximos dos nossos semelhantes de outras crenças e filosofias de vida.

À propósito:

Um Feliz Natal à todos!

sábado, 18 de dezembro de 2010

O fio tênue entre o crime e a justiça

Cena do filme 5 x Favela


Dia desses ouvimos, com certa decepção, a opinião de um professor indignado com a expansão da criminalidade. “A situação é de guerra e todos que estão fora da lei devem ser fuzilados. Não há outra maneira de resolver a situação”, desabafava o colega, assustado e inconformado com a aparente impotência do Estado e da sociedade durante a recente crise nas favelas cariocas.

Diante das novas circunstâncias e interesses políticos, as forças de segurança agiram rapidamente em conjunto; alguns criminosos foram presos; muito deles fugiram e algumas comunidades foram libertadas. Até quando estarão livres dessa opressão? Tudo vai depender de como as coisas serão conduzidas pelas autoridades e também pela população.

Na década de 1960 surgiu no Brasil, precisamente no Rio de Janeiro, o chamado “esquadrão da Morte” , grupo clandestino que praticava a execução sumária de criminosos e suspeitos. Esse modelo de justiça paralela se disseminou no Brasil, ganhando notoriedade em São Paulo em 1970, quando o país vivia sob a ditadura militar. A crença social imediatista de que a pena de morte (legalizada ou não) seria a solução para o problema da criminalidade seduzia tantos os executores quantos os apoiadores dessa prática, abrindo precedentes perigosos na organização e na hierarquia dos sistemas públicos de segurança. Segundo o jornalista Percival de Souza, conhecido especialista no assunto, foram exatamente essas práticas que , a longo prazo , estimularam a criação das facções criminosas que hoje desafiam as autoridades e ameaçam a sociedade com as suas ações cada vez mais ousadas e surpreendentes. Todo grupo social ameaçado em sua integridade tende a criar situações defensivas e também ofensivas diante da possibilidade de extinção. Todos sabem que tais ações jamais serviram para extirpar o crime da sociedade. Pelo contrário, com elas as coisas pioraram em todos os aspectos, pois o comportamento defensivo e também as ofensivas violentas se ampliaram assustadoramente nos dois lados, colocando em risco a vida dos cidadãos. As desigualdades e a degeneração social contribuíram para que as coisas chegassem ao ponto mais crítico, como vinham sendo mostradas diariamente na mídia.

Mas os mortos não se calam como pensam os imediatistas. Mais ainda: eles também voltam como fantasmas vivos para assombrar a sociedade da qual fazem parte, queiram ou não queiram os homens e suas crenças. Criminosos também reencarnam e voltam ao mesmo cenário onde sofreram suas experiências trágicas. Muitos voltam em papéis invertidos e não conseguem sustentar as promessas de regeneração; outros ingressam nos antigos quadros adversários com a intenção de cometer crimes sob a proteção ou disfarce das instituições as quais juraram honrar. Poucos conseguem distinguir o fio tênue que separa o crime e a justiça no cenário da carne (veja abaixo história do detetive Perpétuo de Freitas).

Muitos criminosos mortos nos anos 50, 60 e 70 provavelmente reencarnaram nas décadas 80 e 90 e hoje se encontram na fase mais crítica da existência física, novamente privados das mínimas condições de educação e dignidade social. A maioria são descendentes de antigos escravos e filhos de retirantes nordestinos (principalmente no Rio e São Paulo), os dois grupos sociais onde estão concentrados a parte mais significativa dos nossos problemas sociais e os mais graves débitos espirituais. Não é coincidência que eles sejam a população predominante nos cárceres e nas estatísticas de criminalidade. Diante das novas condições e dos cenários que todos nós conhecemos de pobreza e discriminação, sucumbem facilmente às tentações de consumo e poder. São espíritos fracos, endividados, mergulhados em situações de regates expiatórios desanimadores aos olhos comuns e que ainda desconhecem a complexidade da vida espiritual. Precisam do rigor da educação familiar e do bom exemplo da sociedade e das instituições. Algumas iniciativas diferenciadas já acolhem esses desvios e os transformam em novas perspectivas de vida. Mas é preciso ter paciência e serenidade, pois muitos ainda não compreendem essas oportunidades, preferindo o caminho mais fácil e o conseqüente choque com as leis humanas. Como já disse o Dr. Bezerra, comentando as origens desse antigo problema, “continuam a apanhar sucessivas surras da vida”, até que se dobrem ao cansaço.

A Lei das Favelas - Revista Time

A foto da revista O Cruzeiro registra a prisão de Mauro Guerra (no centro), criminoso considerado de altíssima periculosidade nos anos 50. Enquanto vivo, Perpétuo visitou regularmente Mauro Guerra na Lemos de Brito. Passavam horas conversando. Perpétuo começou a levar revistas e depois livros. Mauro Guerra cumpriu a pena, arrumou emprego, casou, teve filhos e netos. Pelo que eu sei, é um simpático velhinho aposentado que mora em São Gonçalo.



As favelas do Rio de Janeiro são a parte mais problemática da cidade: bairros pobres que não param de crescer, cujo índice de crimes, por comparação, faz o Harlem parecer um local tranqüilo. Os aglomerados de barracos pintados em tom pastel têm nomes enganosos - “Morro dos Prazeres”, “Pavãozinho”, “Chácara do Céu” - e neles proliferam bandidos com apelidos como “Maremoto”, “Tião Medonho” e “Carne-Seca”.

Os policiais pouco podem fazer. Sempre patrulham em grupos e somente durante o dia. Exceto um. Nos últimos 25 anos, a lei das favelas, ou o que ainda existe de lei nelas, depende bastante de um detetive da cidade: Perpétuo de Freitas.

Para ganhar autoridade nos bairros pobres, Perpétuo precisava ser bom, inteligente - e ter muita sorte. Nunca perdeu tempo prendendo pés-de-chinelo, distribuía balas para a criançada, arranjou emprego para dezenas de ex-presidiários, pessoalmente enviava comida e roupas a mães convertidas em viúvas por assassinos que Perpétuo não conseguira prender em tempo.

Era capaz de sacar sua 45 mais rápido do que qualquer bandido e tinha mira tão certeira que fazia criminosos se entregarem apenas por saberem que Perpétuo estava atrás deles. Por tantas vezes, as balas não o acertaram que parecia que isso nunca aconteceria. Uma vez, subiu ileso um morro, em meio a uma saraivada de tiros, e desceu trazendo dois pistoleiros pelo colarinho. Em outra ocasião, conseguiu prender um pistoleiro que descarregara o revólver disparando contra ele à queima-roupa.

Por um erro.

Há três semanas, a sorte de Perpétuo do “corpo-fechado” teve fim. Seu trágico destino iniciou quando um assassino condenado, Manuel Moreira, o “Cara-de-Cavalo”, conseguiu liberdade condicional “por um erro” e, assim que saiu da prisão, matou a tiros um grande companheiro de Perpétuo.

Furioso com a negligência burocrática que prontamente dera liberdade a Cara-de-Cavalo, Perpétuo largou tudo e foi atrás do assassino. Embora o restante da força policial nada conseguisse descobrir, Perpétuo encontrou uma boa pista após dois dias.

Enquanto aguardava Cara-de-Cavalo aparecer em uma birosca na Favela do Esqueleto, surgiram dois policiais de outro distrito. Ciumentos da fama de Perpétuo, iniciaram uma discussão sobre quem tinha autoridade naquela região e começaram uma briga. De repente, um deles puxou a arma, enquanto o outro segurava por trás os braços de Perpétuo. Assim, sem ter como se defender, Perpétuo do corpo-fechado, 51 anos, foi assassinado a tiros por outro policial.

Seu funeral atraiu figurões e poderosos. Mas Perpétuo pertencia aos favelados e 5 mil deles apareceram para marchar na procissão e se aglomerar ao redor do caixão para um último olhar, ou toque, ou lágrima. Após o enterro, líderes da favela do Esqueleto se reuniram solenes com o objetivo de discutir a mudança de nome para favela Perpétuo. “Ele iria gostar”, era a explicação.

Revista Time - 25 de setembro de 1964 - citado no Blog do Freitas

domingo, 5 de dezembro de 2010

Finalmente Hawking “amadurece” seu conceito de criação


O físico britânico Stephen Hawking parece estar mais maduro na sua visão sobre Deus e o Universo. O problema ainda está na concepção sobre o verdadeiro sentido de “divindade” e “criação” , fator tradicional de oposição entre religião e ciência. Para as religiões dogmáticas a criação continua sendo uma ação sobrenatural e mágica, produto da vontade absoluta de um ente superior (incriado). O cientista tenta explicar a sua visão de mundo, mas ainda esbarra numa definição mais precisa, o que afeta as explicações teológicas religiosas, que aliás não possuem nada de lógica, mas somente mitológica. Para elas Deus é alguém ou pessoa simbolizada no Verbo. É uma espécie de humanização teórica que permite nos aproximar de algo ainda incompreensível. É difícil compreender que Deus não se trata de alguém, mas de alguma coisa que não conseguimos explicar.

- O que é Deus? perguntou Kardec aos Espíritos.

E estes lhe responderam: - É a inteligência suprema, causa de todas as coisas.

E perguntamos nós: mas seria somente Deus o responsável pela manifestação da vida?

Seres inteligentes, criados à sua imagem e semelhança , não seriam capazes de atuar como agentes criadores ou co-criadores, executando suas vontades ou leis naturalmente estabelecidas pela sua supremacia inteligente?

'Não é preciso um Deus para criar o Universo', diz Hawking

Cientista britânico polemiza papel da religião na criação do universo em seu novo livro


Estadão - 13 de novembro de 2010

MADRI - Em seu mais recente livro, "The Grand Design" (O Grande Projeto, em tradução livre), o cientista britânico Stephen Hawking, afirma que "não é preciso um Deus para criar o Universo", pois o Big Bang seria "uma consequência" de leis da Física.

"O fato de que nosso Universo pareça milagrosamente ajustado em suas leis físicas, para que possa haver vida, não seria uma demonstração conclusiva de que foi criado por Deus com a intenção de que a vida exista, mas um resultado do acaso", explicou um dos tradutores da obra, o professor de Física da Matéria Condensada David Jou, da Universidade Autônoma de Barcelona.

Há 22 anos, em seu livro "Uma Nova História do Tempo", Hawking via na racionalidade das leis cósmicas uma "mente de Deus". O cientista inglês acredita agora que as próprias leis físicas produzem universos sem necessidade de que um Deus exterior a elas "ateie fogo" às equações e faça com que suas soluções matemáticas adquiram existência material.

Assim, aquela "mente que regia nosso mundo" se perde na distância dessa multiplicidade cósmica, segundo o tradutor. Hawking admite a existência das equações como fundamento da realidade, mas despreza se perguntar se tais equações poderiam ser obras de um Deus que as superasse e que transcendesse todos os universos.


EXTRA-TERRESTRES

Hawking afirma em um novo documentário intitulado “Into the Universe with Stephen Hawking” que formas de vida alienígena inteligente certamente existem, mas adverte que se comunicar com eles poderia ser “muito arriscado”.

“Nós só temos que olhar para nós mesmos para ver como a vida inteligente pode evoluir para algo que não gostaríamos de encontrar”, disse Hawking.

“Imagino que possam existir em grandes naves … ter esgotado todos os recursos de seu planeta natal. Esses extraterrestres avançados poderiam ser nômades, buscando conquistar e colonizar planetas em busca de alimentos para suas populações e/ou matéria prima para suas naves.”
O cientista de 68 anos, disse que a visita de extraterrestres à Terra poderia ser como Cristóvão Colombo chegando nas Américas “, que determinou o fim das civilizações nativas.”


sábado, 27 de novembro de 2010

As novas gerações de espíritos

O adolescente Bill Gates no início dos anos 1970: protótipo de um nova humanidade?


Recebemos o convite de uma publicação especializada para opinar sobre as novas gerações de espíritos, questão polêmica que significa discussão empolgante e ao mesmo tempo delicada.

As principais correntes espiritualistas, sempre na vanguarda , naturalmente tendem a se posicionar de maneira aberta sobre o assunto: algumas com restrições e critérios cautelosos, outras com empatia e entusiasmo, porém sem a postura crítica necessária, o que pode prejudicar o estudo e uma melhor definição do tema.

Os espíritas também se dividiram nessas duas categorias, mesmo tendo como referência as citações de Allan Kardec sobre as futuras gerações. Alguns médiuns, demonstrando até certa ousadia, já fizeram “revelações” sobre a reencarnação desses espíritos, apontando inclusive a origem dos mesmos.

Temos que considerar que essas informações ainda são apenas opiniões e não certezas. Ainda não existe nenhuma evidência positiva, ou seja, não há fenômenos cientificamente comprovados que possam atestar objetivamente a presença desses espíritos, não da forma como vem sendo apresentada pelos seus divulgadores. Os sinais comprobatórios seguem as leis da natureza e apenas dão pistas que só podem ser desvendadas com observações de longo prazo.

As velhas gerações que hoje controlam o saber no planeta um dia foram gerações novas e também causaram espanto e especulações. Em todas as épocas nós encontramos protótipos humanos revolucionários e que tiveram um papel extremamente importante na transformação social do planeta. Protótipos são modelos históricos, cujas experiências são reconhecidas e culturalmente registradas. Todos eles dominavam saberes revolucionários, novas tecnologias, intuições artísticas intrigantes e possuíam um padrão moral diferente do comum, embora não fossem vistos por seus pares com seres extra-terrestres e anormais.

Tecnologia e intuição também não são novidades nem exclusividade do tempo atual e futuro. Elas sempre existiram e se manifestaram através desses protótipos, que aprenderam a lidar com o fogo, a agricultura, a escrita e as famosas máquinas industriais, administrando todas as consequências sociais dessas mudanças. Recentemente passamos por grande revolução nas áreas da informação e da genética. Os proponentes dessas descobertas não são pessoas comuns, possuem uma inteligência acima da média e não se diferenciam das gerações anteriores de brilhantes cientistas, inventores e artistas. O padrão moral deles também não é muito diferente dos seus antecessores. De onde teriam vindo tais espíritos?

A história e a antropologia mostram que as grandes mudanças tecnológicas e sociais ocorreram pelos processos naturais de socialização, ou seja, os protótipos aparecem com suas características intelectivas mais avançadas e, em determinadas circunstâncias, passam a influir culturalmente de forma mais significativa sobre a geração daquele contexto, mudando os paradigmas até então dominantes. Os chamados Espíritos Superiores , encarnados e desencarnados, que influíram na fundação da Doutrina Espírita e também nas antigas doutrinas históricas, também eram protótipos avançados, bem diferentes em inteligência e moral dos espíritos que geralmente se manifestaram de forma limitada e medíocre no planeta. Esse foi o diferencial que logo foi percebido, identificado e explicado por Allan Kardec. Qual a origem e caráter dessa superioridade intelecto-moral ? Aliás, devemos lembrar do texto “As aristocracias”, no qual Kardec também expõe, nessa perspectiva histórica e antropológica, a sua visão sobre as gerações futuras.

Também no tocante a esse assunto, é bom lembrar que o movimento espírita foi bastante influenciado pela tese dos capelinos – revelada por Emmanuel e amplamente discutida e opinada por Edgard Armond. O tema já havia sido rapidamente comentado por Kardec em A Gênese. Essa influência mais recente, fundada numa revelação de natureza mística, alimentou bastante o nosso imaginário sobre essas reencarnações coletivas.

É certo que não estamos vivendo uma época comum da Humanidade. Estamos vivendo uma grande transição e as mudanças velozes e impactantes estão aí para comprovar. Isso alimenta ainda mais essa visão mística, porém não podemos esquecer que as coisas não mudam ao sabor da nossa imaginação e sim no ritmo próprio dos acontecimentos.

Particularmente gostamos muito de duas abordagens sobre esse assunto e que nos fazem refletir melhor sobre essa idéia de uma nova humanidade: primeiro, o texto do psicólogo norte-americano Carl Rogers, denominado “Um novo mundo, uma nova pessoa”, escrito em 1981; e segundo, o artigo brilhante de Richard Sinonetti, escrito há alguns anos, quando o movimento espírita foi atingido em cheio pela onda das chamadas “crianças índigo”. Rogers escreveu sob efeito do risco de uma catástrofe nuclear, revelando uma impressionante capacidade de observação, síntese e lucidez. É um texto ao mesmo tempo profético e científico, pois a visão sobre o futuro humano e planetário é tratada como probabilidade e hipótese. Já o texto de Simonetti , não tão profundo mas somente sincero e sensato, seguiu o modelo de Kardec, dando um banho de água fria sobre os excessos dos entusiastas e também um grande conforto para os conservadores mais temerosos.


Um novo mundo , uma nova pessoas - Carl Rogers

http://observadorespirita.blogspot.com/search?updated-min=2007-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2008-01-01T00:00:00-08:00&max-results=5

As Crianças Índigo - Richard Simonetti

http://www.geb-portugal.org/Admin/Ficheiros/REVISTAV225.pdf


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O peso da carne e o impacto de Nosso Lar


Mesmo entre espíritas pesam as influências e os efeitos da experiência existencial na carne. O conhecimento auxilia, e muito, mas não é suficiente para conter os desvios de percurso e o entorpecimento causado pelos desejos e preocupações que ocupam a mente dos que se submetem às provas da reencarnação. Difícil fugir da ilusão da matéria e dizer não às velhas tendências e inclinações. Difícil estar atento para não cair nos mesmos erros que nos afastam sutilmente do cumprimento das nossas promessas.

É o que sentimos ao ver Nosso Lar e talvez tenha sido esse o sentimento desse expectador de Belo Horizonte:


“Saí do cinema com as energias renovadas, mais disposto a caminhar cada vez melhor. Não raro passam desapercebidas aos nossos olhos atitudes que vão nos matando aos poucos. E às vezes até temos senso crítico para isto mas ainda assim fazemos vista grossa. Tenho feito uma auto análise do meu progresso, e percebo que cada pequena atitude forma um pilar sólido que servirá de base para o progresso maior. Tenho aprendido a perdoar, a relevar grosserias, a não culpar situações externas ou pessoas se algo não sai como gostaria. Ao contrário de desejar mal, tenho pedido luz para que desperte a consciência de quem ainda caminha com maus pensamentos.

Outra observação sobre o filme é o valor do trabalho. André Luiz, o protagonista do filme, era médico aqui na terra, mas para progredir teve de descobrir o prazer de ser útil em trabalhos elementares. Trabalho diretamente com pessoas e tenho gostado e aprendido muito com isso, especialmente a resolver situações com tranquilo diálogo enquanto a outra parte está com os nervos à flor da pele. Neste ano tenho despertado um interesse inimaginável por trabalhos manuais, mais especificamente reparos domésticos. Estou literalmente colocando a mão na massa nas obras em minha casa e arranjando soluções criativas para coisas que estavam entulhadas. Também estou fazendo curso de pintor, e estou gostando demais!

Mesmo se você não for espírita, recomendo assistir o filme, com disposição a rever seus pontos de vista”.

Leo, o Andarilho Virtual, Belo Horizonte, MG, Brazil


Fonte: blog Entre o Concreto e o Abstrato

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Simplesmente Hercílio Maes

A biografia de Hercílio Maes e as antigas edições publicadas pela Livraria Freitas Bastos


Um curiosa e realmente simples biografia de Hercílio Maes está sendo lançada pela Editora do Conhecimento (184 páginas, R$30,00). O relato é feito por Mauro Maes, herdeiro não somente do nome do pai, mas sobretudo do estigma construído em torno de Hercílio, simplesmente pelo fato de ter sido o primeiro, o mais prolífico e também o mais conhecido médium do Espírito Ramatis.
Médium de alto potencial e independente, Hercílio nunca escondeu suas tendências e atração por aquilo que hoje se define como movimento holístico, isto é, o reconhecimento de todas as correntes filosóficas e religiosas como fator de evolução espiritual. Maçom, rosacruz e teosofista, Hercílio entrou em choque com o stablishment espírita-kardecista encabeçado por Herculano Pires não apenas por causa dos livros de Ramatis, mas principalmente pela sua postura aberta e autêntica em não admitir uma admiração exclusiva pelo Espiritismo. Era uma época de graves transformações na civilização e também muitas inovações e novidades no movimento espírita. Grupos organizados como o Clube dos Jornalistas Espíritas e líderes formadores de opinião, como Ary Lex, adotaram o estilo defensivo e ortodoxo, causando uma enorme polarização em torno do assunto “pureza doutrinária”. O alvo principal era Hercílio e os livros de Ramatis, que na época estouravam em vendas no meio espírita, superando inclusive os livros de Allan Kardec. O grupo conservador considerou esse aspecto uma verdadeira “infiltração” espiritual “a serviço da confusão” no movimento espírita, sobretudo porque os temas universalistas realçavam as tendências de duplicidade doutrinária já existentes em muitas casas espíritas. Os mesmos críticos que consideravam rículas e fantasiosas as mensagens psicografadas por Hercílio Maes também não se livraram da chacota da opinão pública ao apoiar e organizar "esquisitos" eventos de "música mediúnica". Coisas da mediunidade.
A apologia do vegetarianismo também rendeu a Hercílio Maes alguns inimigos, que simplesmente deixavam de convidá-lo para novas palestras cujo conteúdo principal era extraído do livro Fisiologia da Alma. Esse foi, segundo o biógrafo, o motivo do seu banimento da Federação Espírita do Paraná, na época tendo como dirigentes e conselheiros alguns "adeptos de churrascadas" e “carnívoros inveterados”. Muitos dirigentes espíritas de prestígio sabiam da importância Hercílio como médium, da sua missão e nunca esconderam essa admiração , como foi o caso de Edgard Armond, por quem Hercílio tinha reverência especial reconhecendo nele um espírito que salvou sua vida em épocas remotas. Quando lemos esse texto biográfico, meses antes da publicação, percebemos um certo ressentimento de Mauro ao conduzir o relato, talvez pelo fato de relembrar todos os problemas enfrentados pelo pai no meio espírita. Mas não foram somente os espíritas conservadores que combateram Hercílio. O médium era alvo permanente de ataques de forças trevosas que não gostavam das revelações sobre os processos de magia encontrados nas práticas afro-indigenas e que atingiam diretamente os interesses de manipulação dos médiuns que trabalham nessa linha.
Hercílio Maes era radiestesista e concentrou sua ação de caridade nesse trabalho de cura. Conhecia e também praticava a homeopatia. Como o próprio título afirma, a biografia é simples, mas o conteúdo é muito mais do que isso: é curioso e cheio de revelações, tanto que lemos de uma só vez numa tarde de sábado. É leitura obrigatória para quem apenas “ouviu falar” de Hercílio Maes. Mas, de tudo o que foi escrito, o que mais chama a atenção é o aspecto humano do relato. Hercílio tinha tudo para ser materialmente bem sucedido na vida. Intelectualmente bem preparado, formou-se em Direito e Contabilidade e chegou a cursar três anos de medicina. Mas nem sempre a inteligência entra em sincronia com a oportunidade e ele teve que se contentar apenas com o suficiente para manter a família. Conhecendo essas tramas do destino , aprendemos, mais uma vez, que o médium, seja qual for a sua linha de ação, é sempre alguém que está destinado a enfrentar situações sempre mais dolorosas do que os devedores comuns.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Aristóteles e o "animais espíritas"

O que acontece quando os espíritas divergem entre si? É incompatibilidade de idéias ou disputa de poder? É normal a divisão e separação de grupos, bem como a formação de agremiações espíritas dissidentes? A disputa política mancha a honra e a pureza doutrinária das instituições espíritas. A deposição de um grupo e deserção dos seus membros é de alta gravidade ética entre os espíritas?

A resposta para todas essas dúvidas é uma só: quando se trata de política, tudo é possível, mesmo entre os espíritas. Não que a política seja algo sujo e imoral. Pelo contrário. Os espíritas, como todos os seres humanos encarnados, são no dizer de Aristóteles “animais políticos”. Fazemos política como atividade humana fundamental para viver em sociedade. Todos os nossos gestos ativos são na sua maioria gestos políticos, com a finalidade de expressar nossas vontades e necessidades, desde a decisão de levantar do sofá para tomar um copo de água, reivindicar o acesso ao banheiro ocupado abusivamente por algum membro da nossa família, bem como as decisões mais complexas e graves do nosso destino.

A antiga pólis grega, símbolo clássico de todos os espaços de exercício político, continua nos lembrando que não mudamos a nossa natureza humana e zoológica (zoopolyticon). Trazemos o potencial político no instinto gregário desde quando éramos nômades e o aperfeiçoamos quando criamos nossos endereços sedentários, sobretudo no ambiente da cidade (cidadania) ou da civita (civilidade).

Quando Allan Kardec criou a idéia do “centro espírita” é provável que estivesse imaginando o ambiente cultural das antigas cidades greco-romanas, tão amplamente cultivado nos núcleos urbanos europeus do século XIX. Centros espíritas seriam então centros culturais, locais de encontro de pessoas simpatizantes do espiritismo e naturalmente preocupadas em ampliar sua dimensão cultural para os segmentos da sociedade.

O encontro regular dos espíritas gera naturalmente os hábitos políticos decorrentes dessa reunião de necessidades e expectativas, seja de comunhão, seja de desunião de propósitos; de divergência ou de convergência de idéias. Os liderados geralmente aceitam e seguem as sugestões apontadas pelos líderes, revelando uma tendência natural de acomodação. Já os líderes natos dificilmente seguem a mesma tendência quando têm que seguir as sugestões de outros líderes. Normalmente fazem resistência, questionam, criam obstáculos, lutam para não perder a posição (status quo) que alcançaram ou que pretendem alcançar.

Tudo isso não tem nada de mal ou negatividade pois trata-se de um comportamento espontâneo, a não ser que as condições sejam muitos tensas e sem possibilidade de negociação (ceder, compartilhar, respeitar e reconhecer as ações contrárias). Aí, sim, revelariam um desvio do comportamento político natural, ou seja, explorar as possibilidades. Impedir que o “diálogo do possível” se manifeste é uma reação de inconformismo passional, de orgulho, egocentrismo que conduz aos extremos da divergência. Do contrário, tudo pode caminhar para o centro convergente, mesmo que as diferenças e particularidades persistam. Esse é o espírito original da política.

Já tivemos a oportunidade de presenciar alguns lances de disputa de poder em instituições espíritas e que tomaram diferentes rumos*, legítimos e ilegítimos, legais e ilegais, positivos e negativos. Alguns cederam ao radicalismo e inviabilizaram a continuidade do projeto; outros reconheceram a inviabilidade das suas idéias e partiram para outras possibilidades de exercício de cidadania; outros ainda cederam nos pontos mais críticos e optaram pela preservação do projeto, adiando as mudanças pretendidas. Com exceção dos primeiros, todos eram líderes que possuíam mais pontos positivos do que negativos e não se deixaram levar pelas suas paixões egocêntricas. Já os líderes radicais e extremistas cometeram duas falhas inaceitáveis na sua condição de condutores: a deserção institucional, retirando-se de forma deseducada e, mais grave, o abandono do ideal, revelando uma identidade e opinião de aparência e a falta de compromisso.
Bom seria que os espíritas aprendessem a cultivar a liderança centrada no grupo e não somente nos líderes, combatendo o comodismo e a dependência. Enquanto isso não acontece, o melhor possível certamente recai sobre a tolerância e a paciência, virtudes que os gregos antigos admiravam e que os espíritas transformaram em obrigação moral.

NOTA*

Edgard Armond, líder espírita enérgico que muitos pensam equivocadamente ter sido autoritário, interpretava e conduzia a disputa de poder nas instituições espíritas como uma oportunidade para valorizar lideranças novas e estimular a criação de novas frentes de trabalho. Sua idéia sobre esse fenômeno social era o princípio da vida celular: “dividir para multiplicar”.

O psicólogo Carl Rogers "facilitando" um encontro: liderança centrado no grupo


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O espiritismo e a física da alma

Visões de mundo, ampliação sucessiva de horizontes e mentalidades


Na semana passada , por coincidência ou não, na emblemática data brasileira de 12 de outubro, recebemos com a alegria e a preocupação dos leigos a primeira aula de Física da Alma, da pesquisadora e professora Claudia de Abreu. Elas estão disponíveis no blog Ciência e Espírito (http://www.cienciaeespirito.blogspot.com/) e convida os novos leitores a conhecer a história e os mais novos conceitos da física quântica para finalmente relacioná-los adequadamente aos fenômenos do espírito.

Não pude deixar de recordar Eurípedes Barsanulfo e das aulas de astronomia que ministrava no Colégio Allan Kardec. O que teria levado Eurípedes a tomar uma medida educativa tão avançada e radical para sua época? Por quê astronomia e por quê o nome Allan Kardec para uma escola localizada naquela longínqua região da Serra da Canastra?

Segundo Corina Novelino, o espírito Maria de Nazareth manifestou-se em Sacramento no início do século passado e sugeriu a Eurípedes que mudasse o nome do seu educandário para Colégio Allan Kardec e colocasse no currículo da nova escola essa disciplina tão fascinante. A astronomia muda a visão de mundo e desperta o espírito encarnado, ainda preso à concepções estreitas, para a pluralidade cósmica e a complexidade do espírito.

O leitor comum, que desconhece o potencial espiritual e mediúnico daquela região, especificamente naquele contexto histórico, pode estranhar a manifestação de espíritos tão elevados, sobretudo os da tradição judaico-cristã. O apóstolo João Evangelista fazia dissertações evangélicas em linguagem e profundidade conceitual através de médiuns de cultura rústica, semi-analfabetos, que atuavam nas reuniões espíritas da Fazenda Santa Maria. Aliás, como manda esse tipo de tradição, toda aquela região foi preparada com antecedência precursora para receber essas manifestações e preparar o cenário para a afirmação da cultura espírita –cristã naquela parte geográfica estratégica do nosso País. Foi dessa região que surgiria também Maria Modesto Cravo, Dona Modesta, médium de alto potencial e que recebia instruções diretas do espírito Ismael. Lendo os textos biográficos escritos por Corina Novelino, ex-aluna de Eurípedes, Chico Xavier declarou espontaneamente que tudo aquilo se tratava de um reflexo histórico do Evangelho de João. O espírito Emmanuel confirmou essa marca e revelou a identidade antiga de Eurípedes como personagem de um de seus romances históricos do cristianismo primitivo. Era o escravo cristão Rufo, radicado nas Gálias. Numa outra existência Eurípedes havia sido aluno de Inácio de Antioquia, discípulo de João Evangelista, de quem tornou-se seguidor muito próximo. Corina revela ainda que dois espíritos acompanhavam bem de perto a missão de Eurípedes: Bezerra de Menezes e Vicente de Paulo, de quem recebeu instruções incisivas para afastar-se da Igreja Católica e trilhar o apostolado espírita.

A idéia dos espíritos era quebrar paradigmas e dogmas, abrir campo para a revolução científica e filosófica contida na mensagem espírita. Pesquisar a astronomia - como fez Camille Flammarion- e cultivar o espírito lúcido de Allan Kardec, era garantia de que não haveria manipulação mística e sacerdotal dos fenômenos mediúnicos. Não haveria segredos nem códigos secretos.

Certamente essa é a intenção da professora Claudia ao oferecer preciosas aulas de física quântica aos espíritas: corrigir equívocos da linguagem científica e também afastá-los dos perigos da superstição e do engodo mediúnco.
Nas horas vagas a professora Claudia segue, entre outros, o blog da Casa Espírita João Evangelista (http://casaespiritadrp.blogspot.com/)


O Observatório de Juvisy, dirigido por Camille Flammarion: mediunidade e astronomia na afirmação da cultura espírita e da complexidade universal.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Nova História do Espiritismo em edição revista e ampliada

O livro Nova História do Espiritismo - dos precursores de Kardec a Chico Xavier está sendo relançado pela Editora do Conhecimento. A nova edição foi revisada e ampliada pelo autor a partir da última edição feita em 2007 ganhando novos textos e uma atualização cronológica entre 1733 e 2010.
Diferente da obra clássica de Arthur Conan Doyle, essa nova historiografia do espiritismo avança no tempo e atualiza os principais fatos desde a publicação feita pelo famoso escritor inglês. Passaram-se mais de 150 anos, o movimento espírita tomou novos rumos, surgiram tendências, as divergências e a constante busca da convergência unificadora.
Essa segunda parte da história não foi contada por Conan Doyle e nem poderia, já que a maioria dos acontecimentos marcantes ainda estava por vir e bem distante daquele contexto eurocêntrico da Belle Époque.
O Espiritismo desapareceu da França e explodiu no Brasil como opção religiosa de milhões de adeptos no século 20. Nesse novo capítulo da história espírita mundial o médium brasileiro Chico Xavier torna-se a figura mais expressiva do movimento espírita e sua obra literária brilha como a principal referência em relação a Allan Kardec, sendo transposta para a teledramaturgia e também para o cinema. Chico chega a ser apontado por adeptos mais afoitos como a reencarnação do próprio Kardec, em missão existencial complementar.
A Federação Espírita Brasileira e muitas outras entidades federativas vão assumindo as rédeas da propaganda e das diretrizes do movimento através da ação de inúmeros médiuns e influentes líderes espíritas, de múltiplas concepções e tendências sobre a filosofia espírita.
E finalmente, no início do século 21, o Brasil configura-se como a principal nação espírita do mundo e uma das principais culturas reencarnacionistas do planeta.
A Nova História do Espiritismo é composta de sete tomos (ver coluna ao lado) , contemplando não somente a linha cronológica factual, mas principalmente os personagens e questões mais influentes do movimento espírita.


Galeria D'Orleans, local da Livraria Dentu e do lançamento de O Livro dos Espíritos, no dia 18 de abril de 1857.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Paulo Coelho e Chico Xavier

Nunca tivemos dúvida de que Paulo Coelho “psicografa” seus livros e que seu “mestre” é um espírito desencarnado. Como católico praticante, ele nunca admitiu abertamente essa verdade, mas também nunca a negou . Isso fica bem claro nessa entrevista dada a Paula Bonelli, da coluna Direto da Fonte (Sônia Racy) , do Estadão, na última segunda-feira (dia 4).


Paulo Coelho parece uma máquina sobrenatural. Escreve em duas semanas livros que já venderam 145 milhões de exemplares em 150 países. No Brasil, é sucesso de público, mas não de crítica. O que ele caracteriza como inveja: "Volta e meia, leio um ou outro comentário menosprezando o meu trabalho. Mas sempre interpreto como "eu gostaria de ser Paulo Coelho", analisa o escritor sem temor da modéstia, acostumado a rebater a jato tudo que é dirigido contra ele. Coelho concordou em dar entrevista somente por e-mail. E respondeu 25 das 30 questões sem direito a réplica. Ele que, em 2006, gravou vídeo de apoio à campanha de reeleição de Lula, teria ficado ressentido por não ter recebido sequer mesmo um só telefonema de agradecimento. E ignorou perguntas sobre eleições e a respeito do amigo José Dirceu.

Sua última obra, lançada até agora apenas no Brasil, O Aleph, é repleta de viagens no tempo, encontros com vidas passadas e sinais a serem interpretados, efeitos típicos do cardápio que celebrizou o autor. O lançamento mundial de As Valkírias transformou-se num sucesso estrondoso, ocupando a primeira posição das listas de livros mais vendidos em pelo menos oito países.

Como um bom mago, Paulo Coelho oculta os truques. Não revela o que realmente ocorreu de fantástico em O Aleph. "Essa pergunta não vou responder porque entrega o que aconteceu no livro", justifica. A obra relata sua viagem pela ferrovia Transiberiana, realizada há quatro anos, em busca de crescimento espiritual em momento de profunda crise de fé.

Quando tira a espada, da exclusiva ordem religiosa R.A.M, em que foi ordenado mago, ou o fardão de imortal da Academia Brasileira de Letras, adota um visual básico e despretensioso: "Não preciso de tudo que está nas vitrines. Compro camisetas da GAP e calças Levi"s".

Como tudo que faz sucesso é copiado, Paulo Coelho inventou uma fórmula ousada para se promover por meio da autopirataria: criou o site Pirate Coelho, que oferece versões de seus livros para serem baixados de graça pela web.

Você acha que a internet poderia estar prejudicando as vendas de seus livros no Brasil?

Quem consegue chegar ao "Pirate Coelho" (não é tão fácil assim) poderá baixar grande parte dos meus livros. Mas o que concluí? Desde que os livros estão disponíveis, as vendagens aumentaram. Ninguém lê livro em tela de computador, mas podem ter uma ideia do conteúdo e decidirem se desejam comprar. Até o momento, a resposta é: "Sim, desejamos comprar".

Os suportes eletrônicos não competem com o livro impresso?

Na minha opinião, até o momento, não. Apenas permitem que um leitor na Tailândia ou na Costa do Marfim possa baixar meu livro em português. A tal competição acontecerá talvez daqui a cinco anos, mas qualquer previsão sobre tecnologia é semelhante a previsões econômicas: sempre acontece o que ninguém está esperando. Acho que os livros continuarão por longo tempo na forma impressa.

Você é extremamente reconhecido no exterior. Acha que o seu trabalho não é tão bem compreendido no Brasil?

Acho que se não fosse o Brasil e o entusiasmo dos leitores brasileiros, meus livros jamais teriam chegado ao exterior.

Quando foi eleito para a Academia Brasileira de Letras sentiu que houve escritores que torceram o nariz para você?

Não, ninguém torceu o nariz. Podem ter ficado surpresos, mas nada além disso. Volta e meia leio um ou outro comentário menosprezando o meu trabalho, mas sempre interpreto como: "Eu gostaria de ser Paulo Coelho".

Como assim?

Recentemente, no Twitter da Biblioteca Nacional, o seu ex-diretor Affonso Romano de Santana disse que leu O Alquimista em 1986 e ficou na dúvida se devia me dizer para não publicá-lo. Interpretei como leituras psicografadas, já que o livro só foi escrito dois anos depois.

O que é a crise de fé que o motivou a viajar pela Transiberiana e a escrever O Aleph?

Um homem em crise é um homem que está sempre crescendo. Já tive muitas e espero ter muitas ainda, porque assim sou obrigado a me questionar constantemente.

Falar em crise da fé não é uma redundância no mundo desencantado e tecnológico em que vivemos?

Acho que estamos em um mundo encantado e técnico, sendo que a tecnologia, através das comunidades sociais, tem colaborado para aproximar as pessoas. No meu caso, o contato com os leitores é muito mais direto. No lançamento de O Aleph não dei nenhuma entrevista, tudo foi feito através das comunidades sociais.

Que acontecimento fantástico relatado no livro realmente ocorreu nessa sua experiência cruzando a Rússia?

Essa pergunta não vou responder porque entrega o que aconteceu no livro. Posso dizer que nem tudo que aconteceu na viagem está no livro. Mas tudo que aconteceu no livro também ocorreu na viagem.

Há alguma relação com a obra homônima de Borges?

Borges, Paracelso, e muitos matemáticos tocaram no famoso ponto, o Aleph, onde tudo converge ao mesmo tempo. O meu livro também trata do tema.

Seus livros sensibilizam milhões de pessoas das mais variadas regiões do mundo, com valores completamente distintos entre si. Isso te surpreende?

Sim, é uma surpresa que se prolonga por mais de 20 anos. Neste momento estou lançando no mundo inteiro As Valkírias, quase 20 anos depois de publicado no Brasil. E o livro está em 1° em todas as listas. Se eu soubesse o segredo, talvez isso não estivesse acontecendo mais.

E como estão sendo recebidas as versões virtuais dos livros?

As versões digitais estão vendendo muito além do esperado; os originais em português e as versões em inglês, francês, espanhol e alemão (eu comprei os direitos das traduções) estão em praticamente todos os suportes eletrônicos, do iPhone ao Nook.

Usa iPad, Kindle?

Uso Kindle, não me adaptei com iPad, embora minha mulher tenha adorado.

Usa roupa de marca? Que tipo de prazeres você se dá ao luxo?

Não preciso de tudo que está nas vitrines. Compro camisetas da GAP, calças Levi"s. Sempre que viajo tomo o vinho local que pode ser bom ou pode ser ruim, mas é uma experiência nova. Não frequento restaurantes badalados, exceto quando sou obrigado por questões profissionais (eventos, etc.). Normalmente a melhor comida é aquela que você come quando sente fome. Já entrei em muitos restaurantes esperando encontrar a Capela Sistina da gastronomia, e saí decepcionado. Já entrei em muitos bares esperando apenas matar a fome e encontrei uma Capela Sistina da gastronomia.

Já foi convidado para eventos como a Flip e o Fórum de Ouro Preto? Frequenta rodas literárias?

Sim, fui convidado para a Flip, mas não pude ir. Frequento o campo, os aeroportos, as praias, e as livrarias - onde está o material para escritores.

O que você acha do Chico Xavier?

Uma pessoa extraordinária. Tive o prazer de conhecê-lo enquanto passeava neste mundo, e fiquei muito impressionado com ele.

Como ele, acredita em vida após a morte?

Acredito, sim, em vida após a morte, assim como há vida antes do nascimento.

O que é fé para você? Com quais religiões se identifica?

Fé é uma escolha pessoal. Sou católico, em profunda crise neste momento com as atitudes do atual Papa.

Tem algo de que você se arrependa?

Me arrependo de muitas coisas, mas isso significa que vivi intensamente, e pedi desculpas sempre que tive oportunidade. Quem não se arrepende de nada, das duas uma: ou não tem senso crítico, ou não viveu.

E do que se orgulha?

A coisa que mais me orgulho em mim é minha coragem: tenho meus medos, mas jamais me deixei paralisar por eles. A coragem é o medo que faz suas preces.

Em quais projetos está envolvido no momento? Algum novo livro?

Como falei acima, estou envolvido em caminhadas, livrarias, internet, bares, viagens, sempre aproveitando cada minuto da minha vida. Faço isso desde adolescente. Os projetos - que no momento não existem - surgem de uma hora para a outra, justamente quando estou relaxado.

Segundo a Publishers Weekly, você é um dos cinco escritores vivos mais lidos do mundo. Aonde mais quer chegar?

Onde minhas pernas me levarem, onde meu coração me exigir, onde minha alegria de viver me conduzir. Ninguém no mundo pode pretender mais que isso.


O escritor nos anos 80, relembrando a época em que fazia letras para as músicas de Raul Seixas.