quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Discutindo Jesus ou a nossa mania de perfeição

Jesus e a samaritana em cena descrita pelo discípulo João: " O Messias sou eu que falo contigo!"


Volta e meia Jesus entra em discussão no meio espírita. Isso não é perigoso, pelo contrário: é maravilhoso. Personalidade de múltiplas facetas no imaginário social, o rabi nazareno é líder em elucubrações e significações filosóficas humanas, que vão desde simples “ carpinteiro” até “governador planetário”. Entre muitas coisas, Jesus é psicólogo, líder político, educador, médico, advogado, ecologista, escritor, astrônomo, químico e físico. Só não faz muito sucesso como líder religioso ou espiritual. Fora desse aspecto comum, Jesus também é um ser mitológico, cuja imagem construída pela coletividade de anseios e expectativas recebe títulos pomposos e responsabilidades fora das possibilidades mortais. O tratamento místico e sobrenatural também se estende ao seu antigo círculo familiar judaico e aos grupos de discípulos e ativistas.

Tudo isso por que publicou oral e vivencialmente uma obra considerada desconcertante na experiência humana. Seu Evangelho funciona ao mesmo tempo como relógio e bússola da experiência do Espírito: o primeiro para a existência carnal e o segundo para a consciência espiritual. Indecisos entre o determinismo e o livre arbítrio, o ego e o Eu, quem entra em contato autêntico com as suas observações éticas sofre danos irreversíveis na personalidade, provocando as mais curiosas crises e reações comportamentais : arrependimento, lágrimas sentidas, gargalhadas irônicas, medo, entusiasmo, ódio, inveja, esperança, ansiedade, inconformismo. Lembrando o Espírito Verdade, a obra confunde os orgulhosos e glorifica os justos. Também dissipa as trevas, ilumina caminhos e abre os olhos aos cegos.

Recentemente um conhecido místico judeu declarou que Jesus cometeu apenas um erro, que lhe foi fatal: revelou sua luz interna, que deveria ser mantida oculta, restrita ao mundo sacerdotal. Sem comentários.

No movimento espírita Jesus é um pouco de tudo isso. Não poderia ser diferente. É só lembrar a diversidade social e psicológica que compõe a nossa vasta agremiação. Somos herdeiros da cultura cristã em vários aspectos históricos e sociológicos. Allan Kardec fez essa avaliação para entender e depois compreender por que o Espiritismo repercute de forma tão diferenciada nas pessoas. Publicou os resultados e sua avaliação na Revista Espírita num curioso artigo denominado “Quem são os Espíritas”. Sua apreciação sobre os espíritas lyoneses – segundo ele os mais autênticos e históricos – é forrada de adjetivos e características cristãs.

O Brasil, nação autenticamente espírita (afirmação dos antropólogos), é filha de Portugal e sobrinha da Espanha, países forjados secularmente nas lutas medievais entre cristãos, bárbaros e muçulmanos. O nome original do nosso País não era esse apelido vulgar dado à madeira e aos contrabandistas de pau-brasil (Brasil e brasileiros), mas Terra de Santa Cruz ou Vera Cruz. Os nossos mais influentes líderes foram forjados nas mais diferentes escolas espiritualistas, que vai do catolicismo simplório do mundo colonial até os mais ousados núcleos esotéricos e escolas científicas contemporâneas. Até mesmo alguns setores considerados anti-místicos e areligiosos não conseguem se livrar dos antigos hábitos da lei adoração e auxílio ao próximo, mesmo dando nomes modernos e disfarçados para essas antigas práticas de caridade cristã.

Enfim, Jesus está entre nós. Mais do que nunca. Quanto mais questionamos, mais atraímos e nos aproximamos dessa grande força inteligente e transformadora das pessoas e da sociedade. Ainda não sabemos ao certo quem é e o que realmente significa Jesus e seu Reino, porém estamos certos que essa é uma marca que nos torna mais iguais e muito mais próximos dos nossos semelhantes de outras crenças e filosofias de vida.

À propósito:

Um Feliz Natal à todos!

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