sábado, 27 de novembro de 2010

As novas gerações de espíritos

O adolescente Bill Gates no início dos anos 1970: protótipo de um nova humanidade?


Recebemos o convite de uma publicação especializada para opinar sobre as novas gerações de espíritos, questão polêmica que significa discussão empolgante e ao mesmo tempo delicada.

As principais correntes espiritualistas, sempre na vanguarda , naturalmente tendem a se posicionar de maneira aberta sobre o assunto: algumas com restrições e critérios cautelosos, outras com empatia e entusiasmo, porém sem a postura crítica necessária, o que pode prejudicar o estudo e uma melhor definição do tema.

Os espíritas também se dividiram nessas duas categorias, mesmo tendo como referência as citações de Allan Kardec sobre as futuras gerações. Alguns médiuns, demonstrando até certa ousadia, já fizeram “revelações” sobre a reencarnação desses espíritos, apontando inclusive a origem dos mesmos.

Temos que considerar que essas informações ainda são apenas opiniões e não certezas. Ainda não existe nenhuma evidência positiva, ou seja, não há fenômenos cientificamente comprovados que possam atestar objetivamente a presença desses espíritos, não da forma como vem sendo apresentada pelos seus divulgadores. Os sinais comprobatórios seguem as leis da natureza e apenas dão pistas que só podem ser desvendadas com observações de longo prazo.

As velhas gerações que hoje controlam o saber no planeta um dia foram gerações novas e também causaram espanto e especulações. Em todas as épocas nós encontramos protótipos humanos revolucionários e que tiveram um papel extremamente importante na transformação social do planeta. Protótipos são modelos históricos, cujas experiências são reconhecidas e culturalmente registradas. Todos eles dominavam saberes revolucionários, novas tecnologias, intuições artísticas intrigantes e possuíam um padrão moral diferente do comum, embora não fossem vistos por seus pares com seres extra-terrestres e anormais.

Tecnologia e intuição também não são novidades nem exclusividade do tempo atual e futuro. Elas sempre existiram e se manifestaram através desses protótipos, que aprenderam a lidar com o fogo, a agricultura, a escrita e as famosas máquinas industriais, administrando todas as consequências sociais dessas mudanças. Recentemente passamos por grande revolução nas áreas da informação e da genética. Os proponentes dessas descobertas não são pessoas comuns, possuem uma inteligência acima da média e não se diferenciam das gerações anteriores de brilhantes cientistas, inventores e artistas. O padrão moral deles também não é muito diferente dos seus antecessores. De onde teriam vindo tais espíritos?

A história e a antropologia mostram que as grandes mudanças tecnológicas e sociais ocorreram pelos processos naturais de socialização, ou seja, os protótipos aparecem com suas características intelectivas mais avançadas e, em determinadas circunstâncias, passam a influir culturalmente de forma mais significativa sobre a geração daquele contexto, mudando os paradigmas até então dominantes. Os chamados Espíritos Superiores , encarnados e desencarnados, que influíram na fundação da Doutrina Espírita e também nas antigas doutrinas históricas, também eram protótipos avançados, bem diferentes em inteligência e moral dos espíritos que geralmente se manifestaram de forma limitada e medíocre no planeta. Esse foi o diferencial que logo foi percebido, identificado e explicado por Allan Kardec. Qual a origem e caráter dessa superioridade intelecto-moral ? Aliás, devemos lembrar do texto “As aristocracias”, no qual Kardec também expõe, nessa perspectiva histórica e antropológica, a sua visão sobre as gerações futuras.

Também no tocante a esse assunto, é bom lembrar que o movimento espírita foi bastante influenciado pela tese dos capelinos – revelada por Emmanuel e amplamente discutida e opinada por Edgard Armond. O tema já havia sido rapidamente comentado por Kardec em A Gênese. Essa influência mais recente, fundada numa revelação de natureza mística, alimentou bastante o nosso imaginário sobre essas reencarnações coletivas.

É certo que não estamos vivendo uma época comum da Humanidade. Estamos vivendo uma grande transição e as mudanças velozes e impactantes estão aí para comprovar. Isso alimenta ainda mais essa visão mística, porém não podemos esquecer que as coisas não mudam ao sabor da nossa imaginação e sim no ritmo próprio dos acontecimentos.

Particularmente gostamos muito de duas abordagens sobre esse assunto e que nos fazem refletir melhor sobre essa idéia de uma nova humanidade: primeiro, o texto do psicólogo norte-americano Carl Rogers, denominado “Um novo mundo, uma nova pessoa”, escrito em 1981; e segundo, o artigo brilhante de Richard Sinonetti, escrito há alguns anos, quando o movimento espírita foi atingido em cheio pela onda das chamadas “crianças índigo”. Rogers escreveu sob efeito do risco de uma catástrofe nuclear, revelando uma impressionante capacidade de observação, síntese e lucidez. É um texto ao mesmo tempo profético e científico, pois a visão sobre o futuro humano e planetário é tratada como probabilidade e hipótese. Já o texto de Simonetti , não tão profundo mas somente sincero e sensato, seguiu o modelo de Kardec, dando um banho de água fria sobre os excessos dos entusiastas e também um grande conforto para os conservadores mais temerosos.


Um novo mundo , uma nova pessoas - Carl Rogers

http://observadorespirita.blogspot.com/search?updated-min=2007-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2008-01-01T00:00:00-08:00&max-results=5

As Crianças Índigo - Richard Simonetti

http://www.geb-portugal.org/Admin/Ficheiros/REVISTAV225.pdf


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O peso da carne e o impacto de Nosso Lar


Mesmo entre espíritas pesam as influências e os efeitos da experiência existencial na carne. O conhecimento auxilia, e muito, mas não é suficiente para conter os desvios de percurso e o entorpecimento causado pelos desejos e preocupações que ocupam a mente dos que se submetem às provas da reencarnação. Difícil fugir da ilusão da matéria e dizer não às velhas tendências e inclinações. Difícil estar atento para não cair nos mesmos erros que nos afastam sutilmente do cumprimento das nossas promessas.

É o que sentimos ao ver Nosso Lar e talvez tenha sido esse o sentimento desse expectador de Belo Horizonte:


“Saí do cinema com as energias renovadas, mais disposto a caminhar cada vez melhor. Não raro passam desapercebidas aos nossos olhos atitudes que vão nos matando aos poucos. E às vezes até temos senso crítico para isto mas ainda assim fazemos vista grossa. Tenho feito uma auto análise do meu progresso, e percebo que cada pequena atitude forma um pilar sólido que servirá de base para o progresso maior. Tenho aprendido a perdoar, a relevar grosserias, a não culpar situações externas ou pessoas se algo não sai como gostaria. Ao contrário de desejar mal, tenho pedido luz para que desperte a consciência de quem ainda caminha com maus pensamentos.

Outra observação sobre o filme é o valor do trabalho. André Luiz, o protagonista do filme, era médico aqui na terra, mas para progredir teve de descobrir o prazer de ser útil em trabalhos elementares. Trabalho diretamente com pessoas e tenho gostado e aprendido muito com isso, especialmente a resolver situações com tranquilo diálogo enquanto a outra parte está com os nervos à flor da pele. Neste ano tenho despertado um interesse inimaginável por trabalhos manuais, mais especificamente reparos domésticos. Estou literalmente colocando a mão na massa nas obras em minha casa e arranjando soluções criativas para coisas que estavam entulhadas. Também estou fazendo curso de pintor, e estou gostando demais!

Mesmo se você não for espírita, recomendo assistir o filme, com disposição a rever seus pontos de vista”.

Leo, o Andarilho Virtual, Belo Horizonte, MG, Brazil


Fonte: blog Entre o Concreto e o Abstrato

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Simplesmente Hercílio Maes

A biografia de Hercílio Maes e as antigas edições publicadas pela Livraria Freitas Bastos


Um curiosa e realmente simples biografia de Hercílio Maes está sendo lançada pela Editora do Conhecimento (184 páginas, R$30,00). O relato é feito por Mauro Maes, herdeiro não somente do nome do pai, mas sobretudo do estigma construído em torno de Hercílio, simplesmente pelo fato de ter sido o primeiro, o mais prolífico e também o mais conhecido médium do Espírito Ramatis.
Médium de alto potencial e independente, Hercílio nunca escondeu suas tendências e atração por aquilo que hoje se define como movimento holístico, isto é, o reconhecimento de todas as correntes filosóficas e religiosas como fator de evolução espiritual. Maçom, rosacruz e teosofista, Hercílio entrou em choque com o stablishment espírita-kardecista encabeçado por Herculano Pires não apenas por causa dos livros de Ramatis, mas principalmente pela sua postura aberta e autêntica em não admitir uma admiração exclusiva pelo Espiritismo. Era uma época de graves transformações na civilização e também muitas inovações e novidades no movimento espírita. Grupos organizados como o Clube dos Jornalistas Espíritas e líderes formadores de opinião, como Ary Lex, adotaram o estilo defensivo e ortodoxo, causando uma enorme polarização em torno do assunto “pureza doutrinária”. O alvo principal era Hercílio e os livros de Ramatis, que na época estouravam em vendas no meio espírita, superando inclusive os livros de Allan Kardec. O grupo conservador considerou esse aspecto uma verdadeira “infiltração” espiritual “a serviço da confusão” no movimento espírita, sobretudo porque os temas universalistas realçavam as tendências de duplicidade doutrinária já existentes em muitas casas espíritas. Os mesmos críticos que consideravam rículas e fantasiosas as mensagens psicografadas por Hercílio Maes também não se livraram da chacota da opinão pública ao apoiar e organizar "esquisitos" eventos de "música mediúnica". Coisas da mediunidade.
A apologia do vegetarianismo também rendeu a Hercílio Maes alguns inimigos, que simplesmente deixavam de convidá-lo para novas palestras cujo conteúdo principal era extraído do livro Fisiologia da Alma. Esse foi, segundo o biógrafo, o motivo do seu banimento da Federação Espírita do Paraná, na época tendo como dirigentes e conselheiros alguns "adeptos de churrascadas" e “carnívoros inveterados”. Muitos dirigentes espíritas de prestígio sabiam da importância Hercílio como médium, da sua missão e nunca esconderam essa admiração , como foi o caso de Edgard Armond, por quem Hercílio tinha reverência especial reconhecendo nele um espírito que salvou sua vida em épocas remotas. Quando lemos esse texto biográfico, meses antes da publicação, percebemos um certo ressentimento de Mauro ao conduzir o relato, talvez pelo fato de relembrar todos os problemas enfrentados pelo pai no meio espírita. Mas não foram somente os espíritas conservadores que combateram Hercílio. O médium era alvo permanente de ataques de forças trevosas que não gostavam das revelações sobre os processos de magia encontrados nas práticas afro-indigenas e que atingiam diretamente os interesses de manipulação dos médiuns que trabalham nessa linha.
Hercílio Maes era radiestesista e concentrou sua ação de caridade nesse trabalho de cura. Conhecia e também praticava a homeopatia. Como o próprio título afirma, a biografia é simples, mas o conteúdo é muito mais do que isso: é curioso e cheio de revelações, tanto que lemos de uma só vez numa tarde de sábado. É leitura obrigatória para quem apenas “ouviu falar” de Hercílio Maes. Mas, de tudo o que foi escrito, o que mais chama a atenção é o aspecto humano do relato. Hercílio tinha tudo para ser materialmente bem sucedido na vida. Intelectualmente bem preparado, formou-se em Direito e Contabilidade e chegou a cursar três anos de medicina. Mas nem sempre a inteligência entra em sincronia com a oportunidade e ele teve que se contentar apenas com o suficiente para manter a família. Conhecendo essas tramas do destino , aprendemos, mais uma vez, que o médium, seja qual for a sua linha de ação, é sempre alguém que está destinado a enfrentar situações sempre mais dolorosas do que os devedores comuns.