sábado, 26 de julho de 2008

Espiritismo na TV

Na minha adolescência em São Vicente, sentado no meio fio da calçada com os colegas da rua Rio de Janeiro, ficava admirado, como todos, quando por lá aparecia uma senhora discreta, que descia de um táxi para visitar uma prima na vizinhança. Alguém então comentava: “Aquela é a Ivani Ribeiro, escritora de novelas. É prima da mãe da Silvia Helena".

Ivani Ribeiro era “calunga”, nascida e criada na antiga vila paulista e, de vez em quando, aparecia para matar as saudades. Ela teve o privilégio de ser a primeira autora espírita de sucesso em novelas de TV. Foi precedida nos anos 60 por Wanda Marlene e os pioneiros da TV Itacolomi, de Belo Horizonte, mas foram os seus textos que mostraram definitivamente ao Brasil a cara da doutrina como expressão de arte.

Nos anos 70 a televisão iria explodir no Brasil como meio de comunicação de massa e as telenovelas seriam o principal recurso desse vínculo entre as emissoras e o público. Já em 1973, o Programa Pinga Fogo , da Rede Tupi, mostrara que a relação entre Espiritismo e a sociedade brasileira não era apenas modismo e sim um fenômeno de forte identificação cultural. Não tardaria então para que se cobrasse dos diretores e autores algo mais palpável nesse sentido. A maioria deles tinha relação direta ou indireta com os temas da espiritualidade, mas Ivani Ribeiro foi quem rompeu essa simpatia distante para entrar de cabeça e coração no tema, sem temer as conseqüências. Levou Allan Kardec para a teledramaturgia. E a base literária dessa transmutação de texto escrito para texto visual foi Chico Xavier, com a consultoria impecável de J. Herculano Pires. “Nosso Lar”, de André Luiz, tornou-se então “A Viagem”, um grande campeão de audiência que foi ao ar em duas versões: uma na Tupi, em 1975, e outra na Rede Globo, em 2004.

A partir dessa ousadia de Ivani e dos produtores, a fenomenologia espírita tornou-se praticamente obrigatória nos roteiros dramáticos da televisão brasileira. Os outros autores, também por influência do cinema, mesmo com reservas, começaram a mostrar suas impressões sobre as coisas do outro mundo. Até mesmo o teatro, que certamente havia sido o primeiro formador desse público, voltou a encenar e deu um grande impulso na profissionalização das peças espíritas. Agora só falta o cinema nacional dar a sua contribuição. Aliás, faltava! Em agosto, de Riacho do Sangue para o mundo, teremos finalmente nos cinemas o filme “Bezerra de Menezes- Diário de um Espírito”, interpretado por Carlos Vereza. O longa metragem com grande elenco, é dirigido por Glauber Filho e Joe Pimentel. O roteiro é de Luciano Klein Filho. A estréia é muito emblemática e obrigatória para todos os espíritas: dia 29 de agosto, aniversário do nosso querido Bom Velhinho.


A calunga Ivani Ribeiro, ousadia e ruptura. Abaixo o elenco de 2004, sob a direção de Wolf Maia. Clique e veja trechos das duas versões da novela.

http://ca.youtube.com/watch?v=U2n-hhyXDb8&feature=related



sábado, 19 de julho de 2008

Decepções e alegrias da História


A história, quando contada pelos seus próprios atores e agentes, têm o brilho da autenticidade, mesmo que ela desagrade alguns corações e suas respectivas lembranças. Essa foi a impressão que tivemos ao ler pela primeira vez “60 anos de Espiritismo no Estado de São Paulo”, do Dr. Ary Lex.

Há alguns anos, quando buscávamos fontes para compor a nossa "Nova História do Espiritismo", achamos o livro numa pilha de muitos exemplares semelhantes, sendo vendidos a preço de banana num sebo do centro paulistano. Nossa história sendo vendida a 4 reais nos deu a alegria da oferta e do achado , mas também a tristeza de constatar o desinteresse e o desprezo pela memór
ia do Espiritismo. O autor provavelmente só conseguiu publicar o livro por causa do seu prestígio junto a então diretoria FEESP, já que, certamente, nenhuma editora correria o risco do encalhe. Nosso exemplar insignificante, retirado daquela imensa pilha escondida nos fundos da livraria de usados, hoje é destaque em nossa modesta estante doméstica, cheio de anotações à lápis. É leitura fundamental para quem pretende defender ou atacar o Espiritismo.

Um detalhe: o sub-título "Nossa Vivência" é uma alfinetada no manual "Vivência do Espiritismo Religioso", com autoria de Edgard Armond, atribuída pelos diretores da Aliança Espírita Evangélica.

Merece atenção também a forma como o Dr. Ary Lex analisava o problema do ensino espírita, assunto em que desenvolveu opinião curiosa quando tomou parte nas tentativas de materialização de projetos educacionais, como a chamada “pedagogia espírita”.

Surpreendentemente, ele não compreendia a educação andragógica ou iniciática, quando tornou-se um crítico curricular das Escolas de Aprendizes do Evangelho, embora admitindo sua grande eficiência técnica e social. Mas também não conseguia enxergar nem as raízes e muito menos os rumos da educação pedagógica, na época objeto de grande interesse idealístico de J. Herculano Pires.

Não conhecemos pessoalmente o Dr. Ary Lex, mas muito ouvimos falar da sua fama de purista doutrinário, polemista e eterno desconfiado das manifestações mediúnicas. Para ele , Ismael era simplesmente “aquele espírito mentor da FEB”. Por outro lado, tinha um enorme respeito, quase místico, pelas receitas do Dr. Bezerra de Menezes.

Um antigo livreiro, bastante conhecido, nos contou que, em certa ocasião, Ary Lex fez uma lista de erros científicos contidos nas obras de André Luiz, incluindo os de anatomia. A crítica certamente não se limitava a esse aspecto e avançava no terreno das “revelações”. O Espírito reagiu e mandou um recado para o Dr. Ary dizendo que, se toda a obra escrita por ele através de Chico Xavier não tivesse algum valor no seu conjunto, então ele não se importaria se a mesma fosse jogada no lixo...

Evidentemente esse episódio, como tantos outros, não está no livro, mas nele encontramos muitas preciosidades para reflexão, sobretudo as que desmistificam personalidades “sacralizadas” no Movimento Espírita.

Aliás, essa é a temática central da obra, assunto que mais o incomodou durante a sua trajetória como militante. Já na empolgante introdução, como aviso do que vai acontecer nas próximas 180 páginas, ele propõe, bem ao estilo médico-positivista, uma curiosa tipologia da militância espírita com que se deparou nessas seis décadas de percurso. Nela identificamos claramente as nossas reminiscências e tendências, incluindo o próprio estilo e características do autor. Quando tivermos alguma dúvida sobre as nossas atitudes perante a doutrina, às instituições e aos companheiros de jornada, seria muito útil consultar esses perfis e rever as nossas posturas.


TIPOLOGIA LEXIANA


“Conhecemos muitos tipos de pessoas:

- as TÍMIDAS, que freqüentam ambientes espíritas durantes anos, sem manifestar suas opiniões;

- as EXTROVERTIDAS, sempre falantes, com muitas idéias, mas sem realizações práticas;

- as SONHADORAS, com planos mirabolantes e inexeqüíveis, querendo modificar tudo e criar estruturas obras faraônicas;

- as DITADORAS, que não admitem qualquer contestação às suas idéias;

- as IRRITADAS, sempre contra tudo e contra todos;

- as MÍSTICAS, que buscam um Espiritismo que se assemelhe ás práticas de antes, cheias de rituais, substituindo os santos pelos guias e os deuses pelos espíritos desencarnados;

- e , finalmente, as EGOÍSTAS, que não perdem a oportunidade para a sua auto-promoção".

sábado, 12 de julho de 2008

Paulo e Estêvão



O cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo P. Scherer, escreveu neste sábado no “Estadão” um belo artigo sobre a trajetória e a importância histórica do Apóstolo Paulo. Baseada em textos do Novo Testamento, a narrativa de Dom Odilo desperta nos cristãos e nos homens de bem um forte sentimento de alegria e dignidade humanas ao lembrar episódios marcantes da biografia do Apóstolo dos Gentios. É assim que nos sentimos quando relembramos a transformação de Saulo ocorrida na estrada de Damasco e sua luta, muitas vezes solitária, para difundir o novo ideal. Em momento algum o arcebispo faz a apologia do catolicismo e sempre se refere à Igreja como uma entidade superior às instituições humanas, a Igreja de todos nós, da Humanidade, de cristãos e não cristãos.
Enquanto lia o artigo não pude deixar lembrar o relato de Emmanuel em “Paulo e Estevão”, obra que lançou inúmeras luzes sobre esses acontecimentos, antes somente restrito aos Atos dos Apóstolos e às famosas Epístolas. Chico Xavier conta que este livro foi psicografado com a ajuda de recursos ainda incompreensíveis para a ciência humana: desdobrado em corpo espiritual, o médium tinha a sensação de estar assistindo a um filme no qual observava vivamente como expectador os acontecimentos que deveria transcrever. Por ocasião da cerimônia que lhe concedeu o título de Cidadão Paulistano, Chico também nos presenteou com uma grata revelação de que, nos temos remotos da nossa Capitania, o Apóstolo apareceu “nimbado de luz” ao padre Manoel da Nóbrega, indicando a ele as diretrizes e o futuro da sua missão fundadora no Planalto de Piratininga.
A médium Marta Galego Thomas, mais recentemente , relatou numa obra sobre o aspecto espiritual da metrópole paulistana, que as primeiras pregações dos jesuítas aconteciam ao redor de uma grande pedra, exatamente onde hoje localiza-se o prédio da Federação Espírita do Estado de São Paulo. A FEESP, foi na década de 1940 palco de acontecimentos históricos na organização do movimento espírita paulista, com a criação das Escolas de Aprendizes do Evangelho, reunindo naquela casa antigos trabalhadores da cristandade, reencarnados e operantes em atividades anônimas e de alto grau de espiritualidade. Foi nessa época que o Espírito Ismael, manifestando-se através de um médium desconhecido que passava pela rua, investiu espiritualmente sobre esses operários da FEESP a tarefa de expandir a nova evangelização em bases espíritas “para o Brasil e para mundo”, nas palavras de Bezerra de Menezes. Lembrei também da participação de Paulo nos textos mediúnicos colhidos por Kardec e da inesquecível “Epístola aos Espíritas lyoneses”, enviada por Erasto, discípulo de Paulo, lembrando a remota de ligação dos cristãos de Lyon com os apóstolos contemporâneos do Espiritismo. São os espíritas do primeiro grau, a luz, diferentes da lama e da água que ainda vivem dentro de nós. Essa é a Igreja Viva que reconhecemos, que admiramos e queremos para todos os povos.


São Paulo, 2 mil anos

Dom Odilo P. Scherer


O apóstolo São Paulo é, sem dúvida, um dos personagens mais marcantes do início do cristianismo. Judeu da diáspora, nasceu em Tarso, na província romana da Silícia, hoje na Turquia; seu nome era Saulo, provavelmente em homenagem a Saul, o primeiro rei dos hebreus. Recebeu sólida educação nas tradições religiosas do seu povo e se tornou um ardoroso membro do grupo dos fariseus, que se destacava pela observância rigorosa das prescrições mosaicas. Em nome dessas tradições, ainda jovem, passou a perseguir de maneira impiedosa os seguidores de Jesus Cristo. Os Atos dos Apóstolos referem-se a ele no primeiro relato de martírios cristãos: "E Saulo estava lá, consentindo na execução de Estêvão" (Atos 8,1).

A mudança em sua vida aconteceu quando, às portas de Damasco, ele foi fulminado e cegado por uma luz fortíssima e interpelado por uma voz a lhe perguntar: "Saulo, Saulo, por que me persegues?!" Perseguia os cristãos e queria lançá-los na prisão; ele mesmo diz que a voz era de Jesus: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (cf. Atos 9, 1-22). Aquele encontro tão desconcertante provocou uma nova trajetória na vida de Saulo, que passou a ser chamado Paulo; em várias passagens de seus escritos ele conta o que lhe aconteceu perto de Damasco (cf. Atos 22; 26; Carta aos Gálatas 1).

Daí em diante, Paulo dedicou todas as suas energias à pregação do Evangelho de Cristo. Com Barnabé, Lucas, Silas, Marcos e outros companheiros, fez diversas viagens missionárias pela Ásia Menor e pela Grécia, fundando comunidades cristãs e instruindo-as, depois, com suas cartas. O privilégio da cidadania romana lhe salvou a vida diante do tribunal de Jerusalém, que ameaçava condená-lo à morte por infidelidade religiosa; por seu apelo ao tribunal de César, foi levado a Roma, onde, mesmo prisioneiro, continuou sua atividade missionária. Sofreu o martírio, por decapitação, segundo uma tradição antiga, durante a perseguição movida contra os cristãos pelo imperador Nero, pelo ano 64 dC.

Seu túmulo é conservado sob o altar principal da Basílica Romana de São Paulo Fora dos Muros, uma esplêndida edificação em estilo romano feita construir pelo imperador Constantino no século 4º; depois do incêndio devastador de 1823, foi reconstruída no seu antigo esplendor com a contribuição de organizações e grupos do mundo inteiro. Estudos arqueológicos recentes confirmaram a autenticidade histórica do túmulo do apóstolo, venerado sob o altar. A basílica é meta de constantes peregrinações de religiosos, estudiosos e turistas e uma referência para encontros ecumênicos de cristãos. Uma comunidade monástica beneditina zela pela igreja e acolhe os visitantes.

Mesmo sem endossar a afirmação de Wrede, um estudioso do início do século 20, segundo o qual é Paulo o verdadeiro fundador do cristianismo, é inegável a importância do grande apóstolo para a Igreja. Mais que os outros apóstolos e discípulos de Jesus Cristo, ele difundiu o Evangelho entre os povos e fez uma primeira aproximação da mensagem cristã com as culturas da época, dando um cunho universalista ao "caminho" vivido pelos cristãos. Isso foi fundamental para que, ao longo dos séculos, os povos - sem deixarem de lado a sua identidade cultural - pudessem conviver na mesma grande comunidade de fé.

Na sua pregação, Paulo já faz um primeiro desenvolvimento da "doutrina cristã"; partindo do Evangelho de Jesus Cristo, ele reflete sobre os vários temas centrais da fé cristã, como as afirmações sobre Deus e a clara configuração trinitária de Deus. Por outro lado, Paulo desenvolveu muito a reflexão sobre Jesus Cristo, abordando aspectos relativos à obra, aos ensinamentos e à pessoa do Mestre. Sua cristologia foi determinante para a definição das verdades da fé cristã nos concílios ecumênicos dos primeiros séculos do cristianismo.

A cosmovisão de Paulo e sua maneira de entender a existência humana neste mundo, a convivência e as relações sociais e os valores morais também foram e são determinantes para o cristianismo. Sua reflexão sobre a Igreja é bem estruturada e parte sempre da experiência do seu próprio encontro com Cristo; mas também tem em conta sua missão nas comunidades que fundou e acompanhou e suas relações com Pedro, outros apóstolos e os demais companheiros de missão. Ele tem clara consciência de não ser o fundador da Igreja, mas colaborador numa causa bem maior que seus projetos pessoais. Para ele, a Igreja não é uma estrutura abstrata e meramente funcional, mas uma realidade viva, através da qual Jesus Cristo continua presente e sua missão se prolonga no mundo.

Paulo nasceu, segundo os estudiosos, entre os anos 6 e 9 depois de Cristo. Para comemorar os 2 mil anos do nascimento do grande apóstolo, o papa Bento XVI abriu no dia 28 de junho passado um ano santo especial. Durante este período, a Igreja convida às práticas habituais previstas para os anos jubilares, como peregrinações aos "lugares paulinos", a busca da reconciliação e do perdão de Deus e as celebrações especiais em igrejas localmente estabelecidas como metas de peregrinação. Para conhecer melhor o apóstolo é recomendada, de maneira especial, a leitura e o estudo dos escritos de São Paulo, no Novo Testamento.

Fica o registro deste aniversário histórico. Nossa cidade, o Estado e um número considerável de instituições e organizações da sociedade, inclusive nossa Arquidiocese e este jornal, levam o nome de São Paulo. Mesmo sem referência direta à fé religiosa, resta o fato que o apóstolo é um personagem da História da humanidade. Bem mais do que muitos filósofos, conquistadores e aventureiros, e sem recorrer à violência, ele influenciou a cultura de muitos povos.

Dom Odilo P. Scherer é cardeal-arcebispo de São Paulo

Sábado, 12 de Julho de 2008 Versão Impressa



O Marco Zero da capital paulista: daqui para o Brasil e para mundo.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Dias Gomes: o ser e o destino


Dias Gomes com Janete Clair

No dia 17 de maio de 1999, ainda residindo em São Paulo, eu e dois irmãos que são músicos, fomos visitar um amigo, pianista, onde ficamos até altas horas conversando. Na volta entramos na avenida 9 de julho e fomos em direção aos Jardins, para chegar até o Butantã, onde morava nossa mãe. A avenida estava praticamente vazia. Nesse instante passa por nós, em alta velocidade, um taxi Fiat Uno branco. Apressado, o táxi entrou na faixa exclusiva , talvez para fugir do semáforo, quando então escutamos um barulho forte , seco, uma pancada de som metálico. Sem parar, olhamos para trás e vimos que um ônibus havia batido no carro deixando-o muito amassado e com a frente voltada na direção contrária do seu destino. Continuamos lentamente, pois ali não era permitido estacionar, mas tentando saber o que se passava enquanto chegavam de alguns curiosos.
No dia seguinte soubemos pela TV o que realmente havia acontecido. Ao entrar na faixa exclusiva, o táxi colidiu violentamente com o ônibus, que seguia no mesmo sentido. No choque, o ilustre passageiro foi lançado para fora do carro e morreu na hora ao bater a cabeça numa mureta. O passageiro era o dramaturgo Dias Gomes, que voltava de um teatro no centro da cidade, onde tinha ido assistir a estréia de uma de suas peças.
Impressionado com o que ocorrera, comecei a pensar sobre a trajetória do famoso teatrólogo brasileiro. Teria sido mera coincidência esse fato? Nessa época eu costumava fazer caminhadas nos finais de tarde na Cidade Universitária e lá algumas questões tomaram conta do meu silêncio íntimo. Pensava: o Dias Gomes era realmente um cara genial, sempre lutando contra a censura, a opressão , a corrupção e os dogmas religiosos. Lembrei das suas peças mais famosas – O Pagador de Promessa e O Santo Inquérito. Lembrei das novelas O Bem Amado, Saramandaia, Roque Santeiro e a inesquecível Mandala, adaptação da tragédia Édipo- Rei, de Sófocles. Como os antigos dramaturgos gregos, ele ria constantemente das coisas sagradas e também brincava muito com destino. Talvez no futuro essa sua morte trágica e banal se transforme em folclore, como aconteceu com Ésquilo. Segundo a lenda, esse dramaturgo grego morreu quando uma águia, confundindo sua calva com um pedra (para que o casco partisse), soltou uma tartaruga sobre sua cabeça.


BIOGRAFIAS


Alfredo de Freitas Dias Gomes (mais conhecido como Dias Gomes). Salvador, 19 de outubro de 1922 — São Paulo, 18 de maio de 1999) foi um dramaturgo e autor de telenovelas brasileiro. Foi casado com Janete Clair, famosa autora de telenovelas da TV Globo, falecida em 1983, com quem teve quatro filhos: os músicos Guilherme Dias Gomes (trompetista) e Alfredo Dias Gomes (baterista), a poeta e violoncelista Denise Emmer e um falecido ainda criança. É avô, através de Alfredo, da também autora de telenovelas Renata Dias Gomes. Morreu num acidente de trânsito, ao ser lançado para fora de um táxi que colidira em uma manobra irregular do motorista, que sobreviveu. Um dos temas explorados com freqüência em seus trabalhos era o de uma visão esquerdista, de oposição à religião popular, considerada um instrumento das elites para pacificar e subjugar as massas pobres do país em prol dos interesses de poderosos como latifundiários, políticos e coronéis do Nordeste do Brasil, além dos próprios religiosos que se beneficavam desses interesses obscuros. Já havia ganho notoriedade como escritor teatral e projeção nacional em virtude do sucesso da peça O Pagador de Promessas (convertida em minissérie em 1988). Estreou como autor de telenovelas em 1969, quando escreveu A Ponte dos Suspiros. Em Saramandaia, sete anos mais tarde, criou o realismo fantástico na telenovela brasileira. Essa idéia seria aproveitada pelo futuro novelista pernambucano Aguinaldo Silva em trabalhos como Pedra sobre pedra (1992), Fera ferida (1993) e A indomada (1997). A novela Roque Santeiro foi baseada em uma antiga peça teatral de sua autoria, O berço do herói, escrita em 1963 e censurada dois anos após, às vésperas da estréia. No lugar foi exibida uma reprise compacta de Selva de pedra, de sua esposa Janete Clair, que então escreveria outro grande sucesso: Pecado capital. Roque Santeiro só foi liberada em 1985, no governo de José Sarney, obtendo estrondoso sucesso. No entanto, em sua reprise de 2000, como parte das comemorações dos 35 anos da TV Globo, não repetiu o mesmo êxito da exibição original. Também é pai da escritora Mayra Dias Gomes, e da atriz Luana Dias Gomes, filhas de seu segundo casamento com a atriz Bernadeth Lyzio.

Obras: Teatro: Pé-de-Cabra ; O Pagador de Promessas ; A Revolução dos Beatos ; O Santo Inquérito ; O berço do herói ; O Rei de Ramos ; Sargento Getúlio ; Grito no Escuro (O Crime do Silêncio) ; Meu Reino Por Um Cavalo ; Os Cinco Fugitivos do Juízo Final ; A Invasão ; O Bem-Amado . Televisão: A Ponte dos Suspiros - 1969 ; Verão Vermelho - 1970 ; Assim na Terra como no Céu - 1970/1971 ; Bandeira 2 - 1971/1972 , O Bem Amado - 1973 ; O Espigão - 1974 ; Roque Santeiro - 1ª versão censurada - 1975 ; Saramandaia - 1976 ; Sinal de Alerta - 1978/1979 ; Carga Pesada - seriado - supervisão de texto - 1979/1980 ; O Bem Amado - seriado - 1980/1984 ; Roque Santeiro - 1985/1986 ; Mandala - 1987/1988 - até o 35° capítulo ; O Pagador de Promessas - minissérie - 1988 ; Araponga - 1990/1991 ; As Noivas de Copacabana - minissérie - 1992 ; Irmãos Coragem - remake - supervisão de texto - 1995 ; Decadência - minissérie - 1995 ; O Fim do Mundo - 1996



Ésquilo - Elêusis c. 525 a.C. - Gela 456 a.C. - foi um poeta trágico grego. É considerado como o fundador da tragédia. Foi soldado em Maratona, Salamina e Plateias (o que explica várias peças de cariz militarista, como Sete contra Tebas e sobretudo, derivado da sua experiência direta, Os persas). Na sua biografia ressalta desde logo a sua naturalidade: Eleusis, na Ática, cidade famosa pelos Mistérios de Elêusis, cerimónia iniciática de que ainda se desconhece a verdadeira componente (a este propósito Ésquilo terá sido julgado pelo fato de ter revelado os Mistérios, tendo, no entanto, sido absolvido). Ao longo da sua vida Ésquilo assistiu à consolidação da democracia ateniense, tendo posteriormente viajado para Siracusa a convite do tirano Hiéron, onde terá travado conhecimento com os místicos pitagóricos. Na sua obra destaca-se a importância dada ao sofrimento, narrando as sagas dos Deuses e dos Mitos (como por exemplo em Prometeu Acorrentado). Terá escrito 79 tragédias (segundo alguns autores cerca de 90), das quais se conservaram apenas sete tragédias completas (para além de inúmeros fragmentos dispersos de outras): Os Persas (472 a.C.); Sete Contra Tebas (467 a.C.); As Suplicantes (c. 463 a.C.); Prometeu Acorrentado (c. 462-459 a.C.); Agamemnon (458 a.C.); Coéforas (458 a.C.); Eumênides (458 a.C.). As três últimas constituem a única trilogia que chegou inteira até nós: a Orestéia (ou Oréstia), uma das mais pungentes tragédias da Grécia Antiga narrando o drama protagonizado pelos últimos Atridas: Agamémon, Clitemnestra, Egisto, Electra e, naturalmente, Orestes (em torno do qual se realizam grande parte dos oráculos anunciados e que dá o nome de conjunto à trilogia). Fonte: Wikipédia