sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ser e não ser espírita


Não vivemos mais na época do “crê ou morre”, mas volta e meia circula entre nós – agora na velocidade dos e-mails – algumas idéias sobre pureza e conduta doutrinária que nos causam um certo espanto. Seguindo uma obscura e infeliz tradição em nosso meio , alguns autores falam fartamente das práticas classificadas por eles como “estranhas”, “antidoutrinárias”, “ignorantes”, “de conhecimento incompleto” e muitos outros adjetivos aplicados aos procedimentos que vão desde os mais corriqueiros gestos de sincretismo religioso aos abusos e escândalos de fazer corar os mais tradicionalistas. Interessante é que esses articulistas chegam mesmo a dar nome a certas práticas que eles e muito outros não aceitam como “autenticamente espíritas”, o que para nós, ao invés de esclarecer, confunde ainda mais, pela absoluta falta de critério ou categorização dessas análises. Não basta pegar trechos soltos da Codificação para justificar esse tipo raciocínio e julgamento crítico. É preciso ter ética. É um hábito historicamente perigoso esse de medir o comportamento alheio com a régua das nossas exigências e pontos de vista , muito próximos das conhecidas práticas intolerantes e inquisitoriais do passado. Como discurso pessoal, até dá para aceitar e respeitar. Admiramos, inclusive, pela coragem. Mas quando carregado de ideologia particularista, com marca institucional das associações e entidades , fica bastante preocupante e muito incoerente.

Ao ler esse tipo de discurso retilínio, típico dos “zelotes” da moral e dos bons costumes dos templos, também ficamos desconfiados e inevitavelmente nos vêm do íntimo sempre as mesmas dúvidas.

Afinal, o que é ser espírita, ideologicamente falando?

Que parâmetros temos para julgar ou analisar se algo é ou não é espírita?

Quem tem o poder para decidir e a capacidade de mensurar o grau de fidelidade ou comprometimento com a ideologia espírita?

Existe um padrão, referência ou paradigma de conduta e ideologia espírita?

Afinal, somos ou não somos cristãos? Podemos ou não podemos ser cristãos, sendo espíritas?

Por que as críticas contra esses comportamentos “não espíritas” quase sempre ficam no terreno das subjetivas “práticas doutrinárias” e nunca no comportamento daqueles que articulam e disputam posições políticas no meio espírita?

Será que só existem “missionários” e “mistificadores” entre os médiuns e os obreiros de tarefas simples das casas espíritas?

Por acaso não temos dirigentes e articuladores que se comportam de forma indigma nas suas atitudes entre irmãos de ideologia?

Não é coincidência que o discurso purista e ortodoxo no movimento espírita quase sempre partiu, historicamente falando, de pessoas ligadas aos setores profissionais tradicionalmente corporativos, cuja credibilidade sempre foi sustentada, não pela competência , mas pelo exercício da exclusividade e do privilégio. E essas características, todos sabem, vêm sendo mantidas a duras penas diante da decadência moral e proletarização social de suas funções. Antes eram somente algumas categorias profissionais que se incomodavam com as práticas exercidas nos centros espíritas. Agora temos novas corporações que estão adotando o velho discurso reacionário e que afrontam as mais antigas tradições de bondade e respeito pela dor humana. Estes, quando ascendem ao poder de cargos institucionais e de comunicação, são geralmente os mais exigentes e intolerantes nas suas opiniões e ações políticas nos centros espíritas e outros segmentos. Perguntem a profissão desses intolerantes e , com raríssimas exceções , não vamos descobrir a verdadeira gama de interesses e limitações pessoais que estão ocultos em seus discursos puristas e ortodoxos.

sábado, 25 de outubro de 2008

Viver é fazer escolhas

Robin Willians e Annabella Sciorra em "Amor Além da Vida": desvendando os enigmas da morte.


Algum tempo atrás o amigo Bruno nos enviou este e-mail com algumas dúvidas sobre coisas que realmente são preocupantes em pessoas que estão tendo a oportunidade de passar por momentos de transformação. Dessa forma, trocamos as seguintes impressões:

“Dalmo, assisti a uma reportagem sua no programa Fronteiras da Ciência, da Unisanta TV, e gostaria de pedir sua ajuda a respeito de dúvidas que possuo sobre a mediunidade. Tenho um imenso medo da morte e do que existe depois dela e, apesar de considerar a vida no pós-morte, sou um pouco cético. Por favor, se puder ajudar a tornar-me um médium, ou me dar diretrizes para que eu tenha algum contato com algum espírito de forma a me fazer sentir sua presença, isso tornaria minha vida extremamente mais suave e feliz, pois todos os dias que passo eu penso na morte. E isso me traz uma aflição enorme e quando passei a ouvir relatos de pessoas próximas me acalmei um pouco. Então preciso sentir pessoalmente essa realidade. Se puder ajudar, eu lhe agradeço desde já,
Muito obrigado


Resposta


“Caro Bruno, não somos nenhum mestre das coisas espirituais, mas podemos lhe falar um pouca da nossa experiência pessoal sobre esse assunto. Talvez lhe ajude de alguma forma.

1. O melhor ambiente para nos acostumarmos com a realidade espiritual é o Centro Espírita. Encontre um centro onde você possa freqüentar habitualmente, receber passes e orientações doutrinárias. Esse contato é muito importante não somente para a aprendizagem intelectual, mas principalmente para a nossa transformação moral, efeito inexorável dos novos conhecimentos. Não basta mudar o ponto de vista, é preciso mudar de atitude. Allan Kardec e muitos outros grandes nomes conheceram o Espiritismo já na maturidade e só compreenderam os ensinamentos quando perceberam que era preciso ir além das informações teóricas. No centro você vai encontrar muitas oportunidades de romper essas barreiras. Se você não gosta de sair de casa, faça da sua casa ou do seu corpo um centro espírita: faça orações pela família, pelos vizinhos, pelos companheiros de trabalho e principalmente pelos inimigos, se os tiver; estude e reflita sobre temas sérios; ajude o próximo ( os familiares são os mais próximos, pois são os nossos maiores credores) com auxílio material possível e também com a caridade de ouvir e incentivar coisas positivas e benéficas. Tudo isso quebra o nosso egoísmo, gera desprendimento de coisas materiais e nos torna mais próximos das coisas espirituais.

2. Todos somos médiuns, em potencial. Se você realmente for médium de tarefa, ou seja, tem compromissos assumidos antes da atual encarnação, a faculdade mediúnica deve desabrochar num ambiente adequado, harmônico e seguro, que é o centro Espírita. Do contrário ela se manifesta através de perturbações: medos, neuroses, doenças físicas, complicações na vida doméstica e profissional, ataques de Espíritos inimigos ou desafetos que vem nos cobrar dívidas passadas. No caso de Espíritos imperfeitos como nós, a mediunidade deve ser sempre trabalho em favor do próximo ou então é foco de graves problemas pessoais.

3. O medo da morte e dos mortos não é privilégio de alguns , mas de milhões de seres humanos. Quando estamos no mundo espiritual também temos medo de reencarnar, pois tememos o fracasso das nossas tarefas. Outro motivo é o apego excessivo às coisas materiais: bens, conforto e prazeres, vícios, orgulho e baixa aceitação dos nossos defeitos (Comportamento defensivo). O ceticismo também é uma forma de esconder o medo, uma defesa da mente contra o desconhecido. Todos tememos a morte, por mais que tenhamos conhecimento. Isso é instinto de conservação e apego ao corpo. A morte é sempre uma crise pessoal, um momento particular de mudanças íntimas que ninguém pode viver por nós. Deus e os benfeitores espirituais são a nossa única companhia nesse momento doloroso de grande expectativa. Oração e vigilância constantes são sempre úteis porque nunca sabemos o exato momento da morte. Segundo Jesus, o importante é manter o coração sereno e confiante. E coração confiante e sereno é acima de tudo consciência tranquila. Como não somos poços de virtudes, o ideal é estudar, confraternizar, corrigir nossas falhas mais graves, mudar nossos sentimentos mais negativos, auxiliar quem precisa de ajuda e ficar atento para o momento derradeiro. Depois da passagem, dizem os mais experientes, é só colher os frutos daquilo que semeamos. Conhecer novos ambientes, novos amigos, novos conhecimentos, replanejar novas existências de trabalho e resgate, nesse ou em outros mundos.Enfim, evoluir. Grato pelo seu contato e muita paz para você e seus companheiros de jornada”.


Retorno

“Muitíssimo obrigado pela sua resposta. Tenha certeza de que ela me ajudou bastante. Vou encontrar um centro espírita e lá eu irei estudar mais sobre a doutrina espírita e encontrar um pouco de paz.

Mas se for possível, gostaria de pedir que me respondesse a mais duas duvidas que possuo: Primeiramente, tenho receio de encontrar um centro que não seja serio, como posso fazer para me certificar de que um determinado centro espírita promove um trabalho serio?

E , se sentir a vontade em responder esta, por favor: com toda a experiência que tem na doutrina espírita, já viu um espírito? Digo, teve uma comprovação física da existência dessas entidades?

Agradeço muito mesmo pela consideração do senhor em me ajudar com essas questões.

Resposta

Caro Bruno, na sua cidade existem muitas casas espíritas autênticas, isto é, que seguem a linha kardecista, atendem gratuitamente e são frequentadas por pessoas honestas e esclarecidas. Ainda assim há diferenças entre elas na forma de compreender a doutrina, bem como oferecer ajuda e orientação. Você terá que fazer a escolha por conta própria. A seriedade ou adequação às suas necessidades você mesmo poderá avaliar através da sua busca. Creio que todas elas são sérias, levando-se em conta que nelas atuam seres humanos de boa vontade, porém ainda imperfeitos. Nunca vi Espíritos, se os vi não soube distinguir se eram encarnados ou não, coisa que é muito comum. Já tive contato com parentes desencarnados e com o meu mentor espiritual, sempre através de médiuns de incorporação, experiências que me deixaram bastante satisfeito quanto à autenticidade do fenômeno. Também durante o sono físico, costumo ter contatos com seres espirituais, numa espécie de sonho real. Também costumo, espontaneamente, sentir a presença de espíritos através da alteração emocional: choro, euforia, depressão, alegria, dependendo situação espiritual ou da condição moral nossa ou de quem está tentando se comunicar.


Grato pelo contato


Max von Sydon, Robin Willians e Cuba Gooding Jr

domingo, 19 de outubro de 2008

Sede perfeitos!

Patton (o segundo sentado da esquerda para a direita) e o alto comando militar dos EUA durante a II Guerra Mundial: velhos companheiros nos mesmos cenários e novas circunstâncias.


O General George S. Patton não se constrangia ao revelar sua convicção de estar revendo durante a II Guerra Mundial os mesmos companheiros, cenários e adversários da época em que existiu como comandante de tropas romanas. Segundo ele , não eram apenas impressões , mas uma sensação real e viva, muito além da simples lembrança.
A reencarnação sempre foi e continuará sendo um assunto fascinante no mundo mortais. Para uns é um absurdo e fantasia, para outros uma lógica e lei natural. Para todos um enigma ainda difícil de desvendar e compreender na sua essência. Filosofia, Ciência e Religião agora buscam um caminho comum para explicar essa enigmática relação entre o tempo biológico absoluto e o tempo psicológico relativo; entre o relógio e a bússola, a unicidade da Vida e multiplicidade das existências, a salvação existencial e a ressureição espiritual.
Mesmo os espiritualistas, que há muito crêem na imortalidade, ainda não conseguem contemplar essa possibilidade do Espírito vir animar outros corpos, preservando a mesma identidade no curso dos milênios, acumulando as experiências da perfeição relativa que caracteriza os seres humanos. Sempre que alguém nos pergunta se fulano é a reencarnação de sicrano ou beltrano respondemos que é possível como lei natural, mas nunca uma certeza como experiência individual.
Quando perguntam de quem somos a reencarnação, respondemos prontamente: de nós mesmos! Somos os mesmos, corpos diferentes, situações diferentes, mas sempre as mesmas individualidades, marcadas pela identidade da Divina Criação , com menos defeitos e mais virtudes, acrescidos de novas habilidades e mais responsabilidades.
Gostaríamos de fazer uma regressão para saber a verdade? Claro! Gostaríamos muito! Só não gostaríamos de saber por que ainda somos tão orgulhosos e arrogantes. De quem será que herdemos essas marcas tão persistentes? Por que ainda temos tanto medo da morte, mesmo sendo apologistas da imortalidade? Por que tanto pavor em mergulhar em nós mesmos e saber o quanto ainda temos para aprender a sermos nós mesmos, certamente em outros corpos?
Quantos Elias tiveram que retornar como João Batistas, mesmo marcados pela responsabilidade de difundir a verdade? Como apagar o remorso de Judas Scariotes sem a possibilidade de retornar como Joana D’Arc e lutar contra o Ego, como se o mundo estivesse sempre contra nós? De que vale ser um Lincoln sem a possibilidade de ser um Kennedy para terminar a obra inacabada?
Famosos ou anônimos, crentes ou descrentes, certos ou incertos, a reencarnação aí está a nos desafiar: quem somos, de onde viemos, para onde vamos?

É possível ser perfeito existindo uma única vez?


domingo, 12 de outubro de 2008

Elementar, meu caro Doyle

Doyle numa entrevista ao comunicador Alan Freed

Desde que me conheço por gente lembro da existência de Sherlock Holmes e o do Dr. Watson. Mas nunca esqueci o susto que tomei ao ver na filial santista da livraria Martins Fontes um exemplar da História do Espiritismo. A partir daquele instante passei a prestar mais atenção no criador dos célebres detetives do que na famosa série de sucesso mundial. O livro me atraía, porém não conseguia ir além das explicações cuidadosas de Herculano Pires sobre Espiritismo francês e Espiritualismo anglo-saxônico. Aquela introdução do tradutor Júlio Abreu Filho, então, me causava receio de não compreender o que se passaria nos capítulos. Nesses anos todos o livro ficou à espera de uma leitura definitiva, pois no dia daquela descoberta, no final dos anos 70, eu tinha apenas uns quinze ou dezesseis anos. Foi numa noite de sábado, de cinema e passeio com colegas no Gonzaga. Como sempre fazíamos, já entrando na madrugada, voltávamos caminhando pela calçada da praia até São Vicente, completamente despreocupados, num tempo em que não havia perigo algum, não como existe hoje. Conan Doyle veio caminhando comigo e nunca mais saiu da minha mente. Sempre que vejo alguma ilustração dos detetives ou o retrato do escritor escocês, imediatamente me vem à memória as cenas daquela noite. Nunca comprei o livro, mas ele sempre dava jeito de chegar em minhas mãos. Quando fui morar em São Paulo ele sempre me surpreendia nas estantes dos sebos. Mas a aquisição final e irreversível somente aconteceu uns vinte anos depois, quando fui visitar minha mãe, que havia voltado a residir em São Vicente. Era um prédio muito antigo, chamado Tumiaru, na praia do Gonzaguinha. Ainda brinco com ela dizendo que o primeiro síndico do edifício deve ter sido o Martim Afonso de Souza. Uma dessas vezes, subindo pela escadaria, deparei com uma pilha de coisas usadas, certamente um bota-fora. A vizinha tinha alertado que deixaria alguns livros no corredor. Entre revistas, cadernos e livros lá estava ele: a mesma capa, o mesmo convite e os receios de outras épocas. Havia também alguns exemplares de Sidnei Shelton. O furto, ou apropriação só reforçou o vínculo espiritual com a obra e adquiriu o caráter de compromisso. Está comigo até hoje. É isso aí, meu caro Doyle, você venceu. A coincidência não foi apenas com o seu livro. Meu exemplar de “Paris Babilônia”, que não tive coragem nem grana para comprar na FNAC de Pinheiros (76 reais), foi adquirido numa loja do Carrefour da Casa Verde. Estava na fila do pão, pronto para ir embora, quando me veio uma vontade irresistível de ir até a seção de eletrônicos. No percurso, com enorme palpitação no peito, deparei com uma mesa de livros em oferta. Inexplicavelmente o livro de Rupert Christiansen também estava lá, somente um exemplar, com a embalagem plástica já violada, por cinco reais. Chamei o vendedor para explicar o equívoco, mas ele confirmou a oferta, quase me implorando para arrematar a banca toda. Nunca senti tamanha pressa de voltar para casa. Esse exemplar não está mais comigo. Emprestei, sem nenhuma esperança de devolução, para o amigo Eugênio Lara. Se não foi para ele, foi para alguém que, como eu, toma emprestado e não devolve. Aliás, por onde será que anda “Os intelectuais e o Espiritismo”, que o Eugênio me emprestou?

sábado, 11 de outubro de 2008

Retratos de Sir Arthur Conan Doyle



Videos

Efeméride , em espanhol:

http://br.youtube.com/watch?v=mWUXwp3dux4


Depoimento sobre Sherlock Holmes, em inglês:

http://br.youtube.com/watch?v=z0d9ufVyn_4

Biografias

Segundo escreveu o saudoso Prof. José Herculano Pires, prefaciando a obra de Arthur Conan Doyle, "História do Espiritismo", é um nome conhecido e lido no mundo inteiro. Dotado Conan Doyle de fértil imaginação, comunicabilidade natural de seu estilo, a espontaneidade de suas criações tornaram-no um escritor apreciado e amado por todos os povos. Em nosso país a série Sherlock Holmes, a série Ficção Histórica e a série Contos e Novelas Fantásticas aqui estão para comprovar a afirmação feita em favor do extraordinário escritor. Entretanto, é bom que se diga que ele não apenas se destacou naquelas linhas compostas com três séries, pois além de historiador, pregou o uso de métodos científicos na pesquisa policial, destacou-se também como um lúcido escritor espírita em todo o mundo, revelando notável compreensão do problema espírita in-totum (como ciência, filosofia e religião). Então, além daquelas séries enumeradas no início destas considerações existem mais duas séries: a de História e a do Espiritismo.

Ao ser lançada a primeira edição da obra "História do Espiritismo", a revista inglesa "Light" destacou o equilíbrio e a imparcialidade com que o assunto foi abordado. Uma extensa Nota assinada por D.N.G. destacou que os críticos haviam sido "agradavelmente surpreendidos", porque Conan Doyle, conhecido como ardoroso propagandista do Espiritismo, fora de uma imparcialidade a toda prova. E o articulista da revista "Light" continuava: "Uma obra de história, escrita com preconceitos favoráveis ou contrários, seria, pelo menos, antiartística, pecado jamais cometido pelo autor de - The White Company -, em nenhum de seus trabalhos".

O próprio Autor define aquele critério ao falar do desejo de contribuir para que o Espiritismo tivesse sua história e o objetivo da obra não era o de fazer propaganda de suas convicções, mas o de historiar o movimento espírita. Daí, colocar-se imparcial e serenamente como observador dos fatos que se desenrolam aos seus olhos, através do tempo e do espaço. (Ipsis litteris). Reconhecendo a magnitude e amplitude do trabalho que se propôs realizar pediu auxílio a outras pessoas e encontrou em Mrs. Leslie Curnow uma dedicada e eficiente colaboradora e com essa ajuda prosseguiu investigações até concluir a obra. Reconheceu não haver realizado um trabalho completo porque não dispunha de recursos necessários e tempo, mas, com satisfação verificou que fez o que era possível no momento, diante da enorme extensão e complexidade do assunto, além das condições de dificuldades do próprio movimento espírita da época. Arthur Conan Doyle nasceu em 22 de maio de 1859, em Edimburgo, faleceu em 7 de julho de 1930, em Cowborough (Susex), após viver 71 anos bem proveitosos.

Em junho de 1887 escreveu uma carta ao Editor da revista "Lìght" explicando as razões de haver se convertido ao Espiritismo. Tal carta foi publicada na edição de 2 de julho de 1887 da referida revista e republicada na edição de 27 de agosto de 1927. Em 15 de julho de 1929 a "Revista Internacional do Espiritismo", de Matão, São Paulo, dirigida por Cairbar Schutel, publicou no Brasil a primeira tradução integral daquela carta, documento importante, onde o jovem médico em 1887 revelava ampla compreensão do Espiritismo e a importância da Mensagem que a Doutrina trazia para o mundo inteiro.

Conan Doyle ainda escreveu um pequeno livro traduzido por Guillon Ribeiro e sob o título "A Nova Revelação", que descreve em detalhes como se deu sua conversão. Outras obras doutrinárias de grande mérito, revelando perfeito entendimento do problema religioso do Espiritismo, afirmando a condição essencialmente psíquica da religião espírita, "A Religião Psíquica". A doutrina da reencarnação determinou o aparecimento de uma divergência entre aquilo que se estabeleceu chamar Espiritismo Latino e Espiritismo Anglo-Saxão. Estes, particularmente os ingleses e americanos, embora aceitassem a Doutrina Espírita não admitiam o Princípio Reencarnacionista e tal motivou os ataques e críticas ao Espiritismo. Embora a resistência mantida na Inglaterra e nos Estados Unidos contra o Princípio Reencarnacionista, Conan Doyle e outros espíritas americanos e ingleses, de renome, admitiam a reencarnação.

Na obra "A Nova Revelação", Conan Doyle declara que "muitos estudiosos têm sido atraídos ao Espiritismo, uns pelo aspecto religioso, outros pelo científico, mas, até agora ninguém tentou estabelecer a exata relação que existe entre os dois aspectos do problema". Tal foi escrito entre 1927 e 1928, sessenta anos após a desencarnação de Kardec. Sabemos que Kardec definiu e solucionou aquele problema ao apresentar o Espiritismo como Doutrina sob tríplice aspecto: filosófica, científica e religiosa. E Conan Doyle identificava-se com o pensamento de Kardec, aguardando que a codificação kardequiana aparecesse, sem perceber que ela já existia e estava ao seu lado, para lá do Canal da Mancha.

Fonte: Panorama Espírita /Grandes Vultos do Espiritismo


A residência de Doyle e uma homenagem dos espiritualistas britânicos.


Sir Arthur Conan Doyle, criador do mais famoso detetive do mundo, Sherlock Holmes, e autor de suas sessenta histórias, nasceu em Edimburgo no dia 22 de Maio de 1859. Filho de Charles Doyle, pintor casual de descendência Irlandesa, e Mary Foley Doyle, também de parentesco Irlandês. Em Outubro de 1876, Conan Doyle ingressou na Universidade de Edimburgo a fim de formar-se em medicina. Foi lá que conheceu o Dr. Joseph Bell, cirurgião do Hospital de Edimburgo e professor na Universidade, cujos surpreendentes métodos de dedução e análise serviram de grande inspiração na futura criação de seu detetive. De maneira similar a Holmes, o Dr. Bell explicava os sintomas de seus pacientes, até mesmo contava-lhes detalhes de suas vidas, antes que eles pronunciassem uma palavra sequer.

Incentivado pelos conselhos de um amigo, que mencionara como suas cartas eram expressivas, Conan Doyle percebeu que algum dinheiro poderia ser efeito fora do campo medicinal. Foi então que ele escreveu sua primeira história, "O Mistério de Sassassa Valley", publicada, anonimamente, por míseros três guinéus no Chamber's Journal, em 1879. O conto revela sua precoce idéia da aparição de uma "besta demoníaca", tema que ele mais tarde explorou na mais famosa história de Sherlock Holmes, "O Cão dos Baskervilles". Foi nas horas de ócio em seu consultório médico que Doyle começou a esboçar o que mais tarde seria seu detetive. Inspirado em Gaboriau, no detetive Dupin, de Poe, e logicamente, no seu tutor Joseph Bell, Conan Doyle criou a primeira versão do que seria o detetive que conhecemos hoje - um tal de Sherringford Holmes, posteriormente Sherlock Holmes.

Depois de muitas tentativas e frustrações, Doyle conseguiu que sua primeira história estrelando o detetive e seu escudeiro Watson fosse publicada. "Um Estudo em Vermelho" apareceu na Beeton's Christmas Annual, em 1887. A boa aceitação do público levou-o a escrever sua segunda história de Holmes, o "Signo dos Quatro". O detetive começava a chamar a atenção, atraindo aos poucos o que se tornariam mais tarde fiéis leitores. Nos intervalos das histórias do detetive, Doyle dedicou-se a obras "mais sérias", mais apreciadas pelo escritor, como "A Companhia Branca", "As Façanhas do Brigadeiro Gerard" e "Micah Clarke". Esse último, um grande sucesso. Doyle acabou, assim, abandonando a medicina para seguir definitivamente a carreira literária.

As histórias de Sherlock Holmes tornavam-se mais e mais populares, obrigando Conan Doyle a continuar criando casos para seu detetive. E quanto mais vezes o detetive expunha suas habilidades para o público estupefato, mais as outras obras de Doyle tornavam-se obscurecidas. Em 1891, escreveu à sua mãe: "Tenho pensado em matar Holmes... e livrar-me dele para sempre. Ele mantém minha mente afastada de coisas melhores". A idéia de acabar com Holmes permanecera com Doyle, e durante sua visita à Suíça, em 1893, conheceu as cataratas Reichenbach, local que escolheu como palco para o encontro fatal entre Holmes e o Professor Moriarty. Pretendia, assim, pôr um fim às histórias de Holmes e dar espaço às suas obras mais clássicas.

Para a grande surpresa de Doyle, a morte de Sherlock Holmes, publicada em 1893 no caso "O Problema Final", chocou milhares de pessoas de todos os cantos do mundo. Muitos marcharam em luto pelas ruas de Londres, em protesto. O público não se conformava e clamava pela volta do detetive. Assim, em meio a um turbilhão de protestos e insultos, Doyle foi obrigado a ressuscitar seu detetive no caso "A Casa Vazia", em 1903. Era a prova de que a criatura tornara-se mais forte do que o criador. Sherlock Holmes tinha tornado-se imortal.
No final de 1899, o conflito iminente entre a Inglaterra e a África do Sul deu a Doyle, um fervoroso patriota, a possibilidade de auxiliar seu país. Conseguiu a supervisão de um hospital estabelecido na África, onde tomou posto em 1900. Juntamente com a guerra, veio de todo o mundo um surto de críticas contra a conduta do Império Britânico. Coube a Doyle defender os interesses de sua pátria, no panfleto amplamente traduzido "A Guerra na África do Sul: Suas Causas e Conduta". Pelos seus esforços na defesa dos interesses de seu país, Conan Doyle recebeu, em 1902, o título de nobreza do Império. Passou, então, a portar o soberbo título Sir antecedendo seu nome.
Em 1912, Doyle introduziu ao mundo da literatura o célebre Professor Challenger, de "O Mundo Perdido", um conto sobre o renascimento da pré-história num lugar remoto da América do Sul.
Em seus últimos anos de vida, Conan Doyle dedicou-se ao estudo aprofundado do espiritismo, assunto sobre o qual escreveu exaustivamente. O espiritismo tornou-se uma religião para ele, e o levou a promover palestras em vários países, como a Austrália e África do Sul. Em 1922, declarou que a famosa foto das fadas de Cottingley era autêntica.

Morreu em 7 de Julho de 1930, debilitado por um ataque cardíaco que o afligira meses atrás.
Fonte: Blog da Beatrix


domingo, 5 de outubro de 2008

Lincoln e Kennedy


Um caso de reencarnação ?


Essa lista de “coincidências” entre Lincoln e Kennedy , hoje publicada em vários idiomas, circula hà décadas e continua fascinando as novas gerações. Entre os espíritas sempre surge a velha questão: Kennedy seria a reencarnação de Lincoln? A semelhança de vocação, missão e provas entre os dois seria apenas fruto do acaso ou uma identificação natural de ideologias?
Um dado interessante é que , apesar de ter sido berço dos fenômenos espíritas no século XIX, com milhares de adeptos, o "spiritualism" nos EUA, como os britânicos, sempre teve dificuldades para aceitar a tese da reencarnação. Kardec afirmava que isso seria uma questão de tempo. Talvez uma das formas encontradas pela espiritualidade para propagar a idéia entre os norte-americanos foi a inspiração dessa curiosa conexão cármica entre os dois grandes líderes daquela nação.


“Veja quantas coincidências envolvem as vidas e as mortes dos ex-presidente americanos Abraham Lincoln e John F. Kennedy:

Ambos estavam comprometidos na defesa dos direitos civis.

Os nomes Lincoln e Kennedy têm sete letras.

Abraham Lincoln foi eleito para o Congresso em 1846.
John F. Kennedy foi eleito para o Congresso em 1946.

Abraham Lincoln foi eleito presidente em 1860.
John F. Kennedy foi eleito presidente em 1960.

As esposas de ambos perderam filhos enquanto viviam na Casa Branca.

A secretária de Lincoln, chamada Kennedy, o advertiu para não ir ao teatro.
A secretária de Kennedy, chamada Lincoln, o advertiu para não ir a Dallas.

Uma semana antes de Lincoln ser morto, ele estava em Monroe, Maryland.
Uma semana antes de Kennedy ser morto, ele estava em Monroe, Marilyn.

Ambos foram assassinados numa sexta-feira e na presença das esposas. Os dois foram baleados por trás com tiros na cabeça.

Lincoln foi morto na sala Ford, do teatro Kennedy...
Kennedy foi morto num carro Ford, modelo Lincoln...

Os nomes dos assassinos de ambos (John Wilkes Booth e Lee Harvey Oswald, respectivamente) têm 15 letras.

Booth e Oswald eram sulistas que apoiavam idéias não populares.

John Wilkes Booth atirou em Lincoln, saiu correndo de um teatro e foi apanhado num depósito.
Lee Harvey Oswald atirou em Kennedy, saiu correndo de um depósito e foi apanhado num teatro.

Booth e Oswald foram assassinados antes de seu julgamento.

Os sucessores deles, ambos chamados Johnson, eram democratas sulistas nascidos em Senate.

Andrew Johnson, que sucedeu a Lincoln, nasceu em 1808.
Lyndon Johnson, que sucedeu a Kennedy, nasceu em 1908”.

Nota do blog: relato de vidas passadas

Em certa ocasião, numa casa espírita em São Vicente (litoral paulista) presenciamos um cena impressionante de relato de vidas passadas e manisfestação da lei de causa e efeito. Durante a aplicação de passes magnéticos os médiuns relataram uma existência de um assistido , animando a personalidade de um líder tribal na África. Uma das cenas descritas por eles foi a cruel execução de um missionário protestante anglo-saxônico, amarrado e amordaçado sobre um grande formigueiro. O missionário tinha todas as características fisionômicas de John F. Kennedy, futuro presidente dos EUA, assassinado em Dallas. O assistido, estudioso do Espiritismo, era portador de faculdades mediúnicas e também vítima de constantes ataques de epilepsia.


Os funerais de Linconl e Kenenedy em 1865 e 1963

sábado, 4 de outubro de 2008

Eleições aqui e no Além



Não nos recordamos de nenhum relato falando especificamente da experiência democrática e eleitoral em mundos superiores ou nas chamadas “colônias” próximas do crosta terrestre. Nas esferas mais escuras sabemos que a ordem é a força, a opressão e o terror. Sobre as esferas mais iluminadas, os relatos se limitam a expor um folclore místico ou mítico falando de assembléias de entidades iluminadas gerindo os destinos das coletividades, algumas, como é caso de Emmanuel no livro “A Caminho da Luz”, na linguagem simbólica e setenária da antiga tradição esotérica. Ou então a existência de uma ordem hierárquica composta de entidades mais experientes, uma “elite” espiritual que adquiriu responsabilidades mais amplas, na medida que contraíam débitos ou conhecimentos mais profundos sobre os processos evolutivos. Conceitos conhecidos pelos encarnados no exercício do jogo político, incluindo nas instituições espíritas, como partido, situação, oposição, debate, divergência e convergência, são informações diluídas nas inúmeras observações dos repórteres do Além. Os mais atrevidos nessas comunicações logo são colocados sob suspeita.

É assim que André Luiz e muitos outros cronistas nos apresentaram, por exemplo, os governadores, ministros e demais dirigentes de Nosso Lar e outras comunidades semelhantes. Não falam em momento algum de forma detalhada sobre os mecanismos de escolha dessas posições estratégicas de administração social no mundo espiritual. Talvez seja porque essa literatura – que criou e gerou tendência de estilo até hoje predominante - apareceu no Brasil numa época em que explodiam os conflitos entre as oligarquias e a novas forças democráticas pela moralização do voto, na época bastante comprometido com a corrupção. Esse processo seria somente normalizado quinze anos após a Revolução de 1930. Mais tarde seria interrompindo por 20 anos de regime militar, experiência que nos fez recuar décadas na albetização democrática e cidadã. O primeiro relato de André Luiz surgiu no auge do Estado Novo, forte regime ditatorial de Getúlio Vargas. Os dirigentes da FEB realmente temiam uma represália por parte do DIP ou do DOPS, caso esses órgãos de policiamento ideológico julgassem a obra como peça de propaganda subversiva. O conteúdo poderia, segundo eles, sugerir as práticas socialistas ou então as liberdades democráticas individuais, ambas muito mal vistas pelo grupo que orbitava em torno do célebre ditador gaúcho. Teria sido essa a causa da omissão de informações sobre os processos de escolha e representatividade política por André Luiz?

Nenhum espírita que seja crítico e consciente vai às urnas sem rever essas questões, que são na verdade a nossa referência ética principal no trato com a política. Questionamos , ainda hoje, como Jesus compartilhou essas experiências de poder com seus discípulos e futuros dirigentes do Movimento Cristão. Como Kardec se portou com seus pares na composição e dinamização da Sociedade Espírita de Paris?

Sabemos que o voto é um dever, mas também sabemos que ele vai além dessa obrigação cívica para significar o gesto grave da escolha, da manifestação da nossa vontade e também comunicar o nosso estado de satisfação ou insatisfação com as formas de governo. Podemos escolher e também podemos deliberadamente não escolher como gesto de protesto, se for da nossa vontade. Antes que alguém pense que se trata da apologia gratuita do voto nulo, devemos lembrar que os espíritas são como todos os demais eleitores, diferenciando apenas no aspecto de que concordamos que o voto é um dever, seja qual for a sua expressão.