quarta-feira, 25 de julho de 2012

E Deus, será que existe?


A dúvida não é somente dos encarnados. Muitos que já passaram para outras dimensões ainda se debatem nessas velhas questões que nos dividem entre o instinto e a intuição, o corpo e a mente, o relógio e a bússola; entre o determinismo e o livre arbítrio; entre o Ser e o existir.

Uma das causas mais comuns do ateísmo e consequentemente do materialismo é a insistente difusão da idéia de que Deus é existência e não Consciência.

A existência é própria de tudo que é mortal e efêmero e não serve como referência para algo que transcende os limites e as manifestações fenomênicas da matéria.

As religiões e filosofias antigas criaram mecanismos intelectuais e dogmas para explicar essas diferenças entre Ser e existir, aplicados ao Ser Supremo e Criador, demonstrando-o com algo abstrato e incompreensível aos sentidos físicos e à razão limitada da experiência humana.

Realmente Deus não existe, pois isso seria restringi-lo aos ciclos de tempo cronológico e no espaço tridimensional. Para que Deus existisse seria necessário conceber a sua origem, bem como seu destino, processo incerto, contraditório e inadequado de análise das coisas que não se enquadram nos paradigmas de causas e efeitos. Deus não existe porque não foi criado; é o Incriado que não teve começo e por isso não tem fim. O Éter sempre foi, sendo inadmissível que a eternidade fosse um ciclo temporal.

Essa tem sido, em síntese, a visão teológica que sustenta a impessoalidade abstrata da Criação, que não é alguém e sim algo que não se pode definir e explicar senão por analogias e figuras de metalinguagem.

A praticidade do budismo e de algumas outras filosofias orientais deixou de lado essas questões e discussões intermináveis para liberar seus adeptos para coisas mais importantes e prioritárias como o auto-conhecimento e a libertação dos rigores da matéria (desejo e ilusão).

O cristianismo, porém, como filosofia nova da passagem da Antiguidade para a Modernidade, insistiu na idéia de criar analogias que pudessem evitar a angústia de não poder explicar o que não tem explicação, alimentando a figura simbólica e humanizada da Paternidade Divina e o dogma da “imagem e semelhança” entre o Criador e suas criaturas.

O Espiritismo, na sua primeira expressão de investigação científica da verdade, típica do século 19 e da pós-modernidade, questiona seus filósofos do Além perguntando “O que é Deus” e não “Quem é Deus”, recebendo do Espírito Verdade e seus colaboradores invisíveis a resposta que não é precisamente resposta, mas que seria a única possível e não contraditória, denominando Deus como uma inteligência que está além da atual capacidade de compreensão humana.

Deus é, portanto, mais uma questão de capacidade de compreensão introspectiva do que propriamente de definição e habilidade intelectiva.

Vai demorar muito para que nós, mentes ainda frágeis e infantis, tenhamos essa maturidade que despreza a concepção humana, paterna e protetora de Deus, para cultivar a concepção avançada de um Zenon, Spinozza ou de um Einstein, que conceberam Deus como uma Grande Mente ou um Logos Spermátikos.

Temos outra opção, enquanto aguardamos uma explicação melhor sobre todas essas coisas: negar, não admitir, não crer, não cogitar, não permitir que essas idéias e reflexões façam parte da nossa experiência cognitiva e ideológica. É também uma forma de compreender o que ainda não é compreensível.

Só que temos um problema: em mentes pacíficas e tranquilas, o ateísmo significa apenas uma aparente indiferença ao universo místico e misterioso da Criação; já para as mentes belicosas e rebeldes ainda predomina o antigo e perigoso conceito materialista: “Se Deus não existe, então tudo é permitido”.



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Espíritas no umbral e as Escolas de Vingança


Edgard Armond dizia, há mais de 60 anos, que o umbral estava cheio de espíritas e essa informação causou na época um tremendo mal estar em muitos adeptos que achavam que só o fato de se declararem espíritas era suficiente para que tivessem uma morte tranquila e fácil acesso às colônias luminosas do plano espiritual. No umbral, segundo André Luiz, existiam eficientes Escolas de Vingança (base dos processos obsessivos) e no movimento espírita havia aquela morosidade doutrinária. Armond estava querendo dizer que a moral espírita não estava fazendo efeito prático nos espíritas e que era necessário criar um método educativo mais eficiente de transformação moral e não somente as leituras e as práticas mediúnicas tradicionais oferecidas nas casas. Ele idealizava também um centro espírita em cada esquina, antecipando a crise moral que sociedade vive atualmente. Foi por isso que ele criou a Escola de Aprendizes do Evangelho (Escolas de Amor e Perdão), uma iniciativa eficiente para acolher esse público flutuante, ensinar a maioria, educar a média e selecionar os mais aptos para tarefas especializadas. Era uma forma de ajudar também os espíritas a controlar melhor suas más inclinações e evitar envolvimentos perigosos, numa sociedade sempre cheias de tentações. Naquela época, nos anos 1950, a FEESP já atendia massas e a gravidade do desvio de público era muito preocupante. Muitos ainda acham que isso foi um exagero de Armond, mas a realidade é que o sistema cumpria rigorosamente objetivos superiores de ensino, educação e capacitação de trabalhadores. Muitos espíritas ainda sucumbem às tentações do mundo porque não possuem conhecimento suficiente, principalmente auto-conhecimento, ferramentas seguras para enfrentar a corrupção e as ciladas do mundo, sobretudo os médiuns.

Muitos pessoas tem ido aos centros espíritas para tomar passes e ouvir palestras. Estão sem rumo e certamente querem consolo e explicações para não sucumbirem em suas tarefas cotidianas. A maioria dos centros não possui programas de ação para receber e esclarecer esse público. Oferecem apenas passes, palestras, água fluidificada e as campanhas de serviço social. É uma atividade benéfica, porém insignificante tendo em vista o grandioso potencial de esclarecimento das casas. Esgotados esses serviços corriqueiros de consolo, a maioria dos freqüentadores se dispersam e pouquíssimos se integram ao trabalho. Boa parte dos dirigentes são inseguros, centralizadores, acomodados aos esquemas tradicionais, preocupados com a estabilidade das casas. Muitos deles temem o ingresso de novas lideranças e, quando isso acontece, não raro, logo dão um jeito de expurgar os que se mostram mais habilidosos na organização e na dinâmica dos serviços. É um lamentável desperdício de tempo e de possibilidades de expandir as casas espíritas através de células novas e bem estruturadas, para dar continuidade à necessária multiplicação. O principal obstáculo desse processo de desenvolvimento, como sempre, é o assistencialismo, que se impõe como prioridade (pois é mais cômodo e não tem implicações morais tão graves), desviando as casas espíritas da sua vocação natural educativa e doutrinária. De um centro bem estruturado doutrinariamente pode sair muitos outros centros semelhantes; todavia, de um centro assistencialista e desviado, quase nada se desprende e se expande.

A maioria dos freqüentadores dos centros não são “espíritas” na verdadeira concepção da palavra, mas apenas consumidores de livros e serviços das casas espíritas. André Luiz fez esse alerta em Os Mensageiros e em muitas outras obras, mas as pessoas continuam achando que tudo é exagero e brincadeira. Desde àquela época pouca coisa mudou. As escolas sistematizadas de esclarecimento e capacitação ainda ocupam pouco espaço. A maioria, com raríssimas exceções, propõe uma complicada sistematização das obras de Kardec, cujas aulas são verdadeiros convites ao abandono. Não existe a ligação necessária entre teoria e prática doutrinária. Algumas levam anos na rotina teórica cultivando um pretencioso domínio intelectual de conteúdos, quando já poderiam impulsionar os alunos para as práticas supervisionadas, sempre incrementadas por reciclagens e atualizações. Aprender a Conhecer, aprender a Fazer, aprender a Conviver e finalmente aprender a Ser, preconiza a ONU na sua bússola curricular e progrmas educativos da Unesco para o século XXI. Tudo a ver com o Espiritismo e com o nosso movimento, não?

Será que o umbral continua cheio de espíritas?

Deve ser terrível para qualquer um de nós, sob as constantes gargalhadas dos adversários nos provocando: “Uai, o espiritismo não os alertou que era preciso ir muito além dos livros e mensagens?

E nós, humilhados, de cabeça baixa e em prantos convulsivos, nos perguntando onde foi que erramos.