Na minha adolescência em São Vicente, sentado no meio fio da calçada com os colegas da rua Rio de Janeiro, ficava admirado, como todos, quando por lá aparecia uma senhora discreta, que descia de um táxi para visitar uma prima na vizinhança. Alguém então comentava: “Aquela é a Ivani Ribeiro, escritora de novelas. É prima da mãe da Silvia Helena".
Ivani Ribeiro era “calunga”, nascida e criada na antiga vila paulista e, de vez em quando, aparecia para matar as saudades. Ela teve o privilégio de ser a primeira autora espírita de sucesso em novelas de TV. Foi precedida nos anos 60 por Wanda Marlene e os pioneiros da TV Itacolomi, de Belo Horizonte, mas foram os seus textos que mostraram definitivamente ao Brasil a cara da doutrina como expressão de arte.
Nos anos 70 a televisão iria explodir no Brasil como meio de comunicação de massa e as telenovelas seriam o principal recurso desse vínculo entre as emissoras e o público. Já em 1973, o Programa Pinga Fogo , da Rede Tupi, mostrara que a relação entre Espiritismo e a sociedade brasileira não era apenas modismo e sim um fenômeno de forte identificação cultural. Não tardaria então para que se cobrasse dos diretores e autores algo mais palpável nesse sentido. A maioria deles tinha relação direta ou indireta com os temas da espiritualidade, mas Ivani Ribeiro foi quem rompeu essa simpatia distante para entrar de cabeça e coração no tema, sem temer as conseqüências. Levou Allan Kardec para a teledramaturgia. E a base literária dessa transmutação de texto escrito para texto visual foi Chico Xavier, com a consultoria impecável de J. Herculano Pires. “Nosso Lar”, de André Luiz, tornou-se então “A Viagem”, um grande campeão de audiência que foi ao ar em duas versões: uma na Tupi, em 1975, e outra na Rede Globo, em 2004.
A partir dessa ousadia de Ivani e dos produtores, a fenomenologia espírita tornou-se praticamente obrigatória nos roteiros dramáticos da televisão brasileira. Os outros autores, também por influência do cinema, mesmo com reservas, começaram a mostrar suas impressões sobre as coisas do outro mundo. Até mesmo o teatro, que certamente havia sido o primeiro formador desse público, voltou a encenar e deu um grande impulso na profissionalização das peças espíritas. Agora só falta o cinema nacional dar a sua contribuição. Aliás, faltava! Em agosto, de Riacho do Sangue para o mundo, teremos finalmente nos cinemas o filme “Bezerra de Menezes- Diário de um Espírito”, interpretado por Carlos Vereza. O longa metragem com grande elenco, é dirigido por Glauber Filho e Joe Pimentel. O roteiro é de Luciano Klein Filho. A estréia é muito emblemática e obrigatória para todos os espíritas: dia 29 de agosto, aniversário do nosso querido Bom Velhinho.
http://ca.youtube.com/watch?v=U2n-hhyXDb8&feature=related
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