quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Simplesmente Hercílio Maes

A biografia de Hercílio Maes e as antigas edições publicadas pela Livraria Freitas Bastos


Um curiosa e realmente simples biografia de Hercílio Maes está sendo lançada pela Editora do Conhecimento (184 páginas, R$30,00). O relato é feito por Mauro Maes, herdeiro não somente do nome do pai, mas sobretudo do estigma construído em torno de Hercílio, simplesmente pelo fato de ter sido o primeiro, o mais prolífico e também o mais conhecido médium do Espírito Ramatis.
Médium de alto potencial e independente, Hercílio nunca escondeu suas tendências e atração por aquilo que hoje se define como movimento holístico, isto é, o reconhecimento de todas as correntes filosóficas e religiosas como fator de evolução espiritual. Maçom, rosacruz e teosofista, Hercílio entrou em choque com o stablishment espírita-kardecista encabeçado por Herculano Pires não apenas por causa dos livros de Ramatis, mas principalmente pela sua postura aberta e autêntica em não admitir uma admiração exclusiva pelo Espiritismo. Era uma época de graves transformações na civilização e também muitas inovações e novidades no movimento espírita. Grupos organizados como o Clube dos Jornalistas Espíritas e líderes formadores de opinião, como Ary Lex, adotaram o estilo defensivo e ortodoxo, causando uma enorme polarização em torno do assunto “pureza doutrinária”. O alvo principal era Hercílio e os livros de Ramatis, que na época estouravam em vendas no meio espírita, superando inclusive os livros de Allan Kardec. O grupo conservador considerou esse aspecto uma verdadeira “infiltração” espiritual “a serviço da confusão” no movimento espírita, sobretudo porque os temas universalistas realçavam as tendências de duplicidade doutrinária já existentes em muitas casas espíritas. Os mesmos críticos que consideravam rículas e fantasiosas as mensagens psicografadas por Hercílio Maes também não se livraram da chacota da opinão pública ao apoiar e organizar "esquisitos" eventos de "música mediúnica". Coisas da mediunidade.
A apologia do vegetarianismo também rendeu a Hercílio Maes alguns inimigos, que simplesmente deixavam de convidá-lo para novas palestras cujo conteúdo principal era extraído do livro Fisiologia da Alma. Esse foi, segundo o biógrafo, o motivo do seu banimento da Federação Espírita do Paraná, na época tendo como dirigentes e conselheiros alguns "adeptos de churrascadas" e “carnívoros inveterados”. Muitos dirigentes espíritas de prestígio sabiam da importância Hercílio como médium, da sua missão e nunca esconderam essa admiração , como foi o caso de Edgard Armond, por quem Hercílio tinha reverência especial reconhecendo nele um espírito que salvou sua vida em épocas remotas. Quando lemos esse texto biográfico, meses antes da publicação, percebemos um certo ressentimento de Mauro ao conduzir o relato, talvez pelo fato de relembrar todos os problemas enfrentados pelo pai no meio espírita. Mas não foram somente os espíritas conservadores que combateram Hercílio. O médium era alvo permanente de ataques de forças trevosas que não gostavam das revelações sobre os processos de magia encontrados nas práticas afro-indigenas e que atingiam diretamente os interesses de manipulação dos médiuns que trabalham nessa linha.
Hercílio Maes era radiestesista e concentrou sua ação de caridade nesse trabalho de cura. Conhecia e também praticava a homeopatia. Como o próprio título afirma, a biografia é simples, mas o conteúdo é muito mais do que isso: é curioso e cheio de revelações, tanto que lemos de uma só vez numa tarde de sábado. É leitura obrigatória para quem apenas “ouviu falar” de Hercílio Maes. Mas, de tudo o que foi escrito, o que mais chama a atenção é o aspecto humano do relato. Hercílio tinha tudo para ser materialmente bem sucedido na vida. Intelectualmente bem preparado, formou-se em Direito e Contabilidade e chegou a cursar três anos de medicina. Mas nem sempre a inteligência entra em sincronia com a oportunidade e ele teve que se contentar apenas com o suficiente para manter a família. Conhecendo essas tramas do destino , aprendemos, mais uma vez, que o médium, seja qual for a sua linha de ação, é sempre alguém que está destinado a enfrentar situações sempre mais dolorosas do que os devedores comuns.

Um comentário:

Consciência Quântica disse...

Estou lendo o livro e estou amando. Adorei sua postagem. Abração!!! Do Tio Dalton de Curitiba.