O movimento espírita e espiritualista no Brasil, no campo
das crenças e das práticas medianímicas, infelizmente, ainda conserva a péssima
pretensão de ser a Casa Grande. Essa negação defensiva e até hostil contra a
Senzala um dia terá que acabar. É preciso conhecer, dialogar, reconhecer e
saber respeitar.
Quando criança tive uma febre fora dos padrões normais.
Minha mãe me levou ao médico e este não conseguiu explicar nem medicar o
problema. Ele mesmo, sabendo das nossas crenças e costumes, sugeriu fôssemos
até uma conhecida médium da cidade. Lá ela foi instruída por um Preto Velho
para que eu tomasse um chá de folha de laranjeira. O problema é que, na época,
a praga do "cancro cítrico" tinha se espalhado na cidade e os pés de laranja e limão haviam sido cortados pelas
autoridades sanitárias. O Preto Velho então indicou que havia ali perto uma
casa na qual ainda tinha um pé de laranja escondido no fundo do quintal. Minha
foi até a casa, bateu palmas, foi atendida e pediu uma folha da laranjeira. A
dona da casa estranhou muito o pedido, pois o pé estava escondido sob um tambor
de latão, mas não negou ajuda. Segundo o Preto Velho, minha febre era emocional
e que teria isso pela vida inteira. Isso pode não ser espiritismo de mesa
branca ou kardecismo, mas certamente se chama sabedoria e caridade.