O crack está literalmente quebrando as nossas fibras e pernas. É um caminho bem rápido e doloroso para o suicídio, no qual as vítimas têm poucas chances de atender aos chamados do instinto de conservação. Acabam, cedo ou tarde, se precipitando no abismo da morte trágica.
Como muitas outras instituições e grupos de ajuda, o Hospital Francisca Júlia – do Centro de Valorização da Vida, recebe constantemente alguns desses dependentes químicos, que para nós nada mais são do que pessoas portadoras de transtornos mentais. A maioria, mesmo passando pelo período de tratamento, por serem detentoras do livre arbítrio, fraqueja nas escolhas e cede ao desejo de voltar ao hábito vicioso. É uma decepção para todos: familiares, profissionais de saúde e principalmente eles mesmos. Quando isso acontece, a auto-estima desaparece quase que completamente dificultando qualquer tipo de dialogo e reflexão. Resta então confiar no tempo e numa remota esperança de reação.
A fotografia publicada na imprensa mostra a luta entre a lei e a transgressão, reflexo de uma medida governamental para limpar a área conhecida como Cracolândia, na capital paulista. Trata-se de um ponto de encontro para onde convergem dependentes químicos não só de São Paulo, mas também de cidades da região e até do litoral.
Seguindo a lei sociológica das minorias, esses dependentes se assemelham, se atraem, se agrupam e passam a criar as próprias regras de convívio e sobrevivência. Essa lei natural tem o poder de protegê-los pelo processo de adaptação. É uma cura provisória, para evitar a morte imediata. O poder público conhece essa lógica social e psíquica e toma as providências reconhecidamente paliativas, ou seja, não é garantia de que as coisas irão mudar. Juntamente com limpeza da área e a oferta de tratamento deveriam vir soluções de reinserção social, mais eficientes, porém muito onerosas.
Todos que ali estão, mesmo que afundados nessa realidade escravizadora, ainda possuem algum lampejo de dignidade e não somente a idéia fixa de satisfazer a fissura de consumo. São seres humanos que se tornaram “trapos ” e que desafiam a nossa dignidade enquanto espécie e gênero.
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