sábado, 9 de janeiro de 2016

Uma escola para suicidas

No Livro “Memórias e um Suicida”, o autor descreve em mais de quinhentas páginas sua triste trajetória após ter tirado a própria vida com um tiro no ouvido. Camilo Cândido Botelho (Camilo Castelo Branco) apresenta primeiramente o Vale dos Suicidas ou dos “Réprobos”, cenário mental escuro e pavoroso onde almas afins se atraem para purgar os mais dolorosos efeitos da autodestruição. Em seguida, sob a condução seletiva e severa da Legião dos Servos de Maria, Camilo atinge a Colônia Correcional ou Burgo Esperança, núcleo menos escuro em cujos departamentos e edifícios são recolhidos e matriculados os criminosos em seus múltiplos e graves delitos contra si mesmos. Ali estão a Torre de Vigia, Isolamento e o Manicômio, partes do grande Hospital Maria de Nazaré (ou Hospital Matriz). Num plano mais iluminado encontra a Cidade Universitária, metrópole de estilo hindu, descrito pelo autor como um padrão de civilização inimaginável na esfera material, formada por avenidas imensas, lagos e arvoredos majestosos e floridos. Ali, alinhadas em posição setenária, estão as Academias iniciáticas de habilitação para reencarnações expiatórias e regeneradoras. Cada uma delas com letreiros indicando as disciplinas a serem cursadas: Moral, Filosofia, Ciência, Psicologia, Pedagogia, Cosmogonia e Esperanto. Das turmas cursantes e aptas (após um longo e sofrível período de adaptação mental), a do narrador era uma das mais vultosas, contando com “cerca de duzentos pecadores”, tendo um grande contingente de damas brasileiras de diversas camadas sociais. Os alunos, após a aula magna dada pelo Diretor do Burgo e da Mansão Esperança (Irmão Sóstenes), foram apresentados aos principais instrutores: o ancião romano Epaminondas de Vigo; o iniciado médio-oriental Souria-Omar e finalmente o jovem, quase adolescente, Aníbal de Silas. Cada um deles se desdobraram no ensino específico dos seguintes conteúdos: Gênese Planetária, Pré-História; Evolução do ser; Imortalidade da alma; A  tríplice natureza humana; As faculdades da alma; A lei das vidas sucessivas em corpos carnais terrenos, ou reencarnação; Medicina psíquica; Magnetismo e noções de magnetismo transcendental; Moral cristã; Psicologia e Civilizações terrenas. Todas as aulas eram alternadas com aulas de Evangelho. Em seguida foram organizados em “agrupamentos homogêneos de dez individualidades”, sendo separadas as damas dos cavaleiros, ainda em desequilíbrio emocional, para evitar a interferência de ideias e inclinações mentais que “oprimem a vontade, turbam as energias da alma e entorpecem as faculdades”. A escola e os cursos ali ministrados tinham como diretrizes os seguintes dizes: CONFIAI! APRENDEI! E TRABALHAI!

PS.  Essa Escola, foi instalada nos mesmos moldes na Federação Espírita do Estado de São Paulo em 1950, pelo então secretário geral, Edgard Armond, tendo como expositores grandes vultos do movimento espírita da época: Canuto Abreu, Ary Lex, Vinícius, Emílio Manso Vieira, Iracema Martins de Almeida, Carlos Jordão da Silva, Sérgio Valle, Júlio de Abreu Filho, Benedito Godoy Paiva, entre outros. Foi denominada Escola de Aprendizes do Evangelho -Iniciação Espírita, sendo depois a base de criação e expansão da Aliança Espírita Evangélica e da Fraternidade dos Discípulos de Jesus. Os fundadores do CVV são originários da 7ª Turma da Escola de Aprendizes da FEESP.

Nenhum comentário: