O que tinham em comum a poetisa paulista Francisca Júlia e o Reverendo anglicano Chad Varah?
Em 1962 o jovem Jacques André Conchon recebeu um bilhete de Edgard Armond, o “Comandante” e Secretário Geral da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Em estilo direto e lacônico, bem ao estilo espartano de Armond, o bilhete vinha acompanhado de um pequeno recorte de jornal e dizia: “Para quem está disposto a servir essa é uma boa oportunidade”. A nota do jornal falava sobre o trabalho de prevenção do suicídio desenvolvido pelos “Samaritanos” de Londres e ele se referia no bilhete ao compromisso assumido pelo jovem discípulo e sua turma formada na Escola de Aprendizes do Evangelho. Pelo currículo iniciático da Escola os alunos que cumpriram as fases teóricas do curso deveriam colocar em prática uma atividade para exemplificar o Espiritismo na sociedade. Era a prova de fogo!
Ansioso por algo novo e significativo, o jovem líder da turma vivia importunando o Comandante para indicar um rumo. O Norte foi dado e assim teve início o CVV, Centro de Valorização da Vida. O assunto era grave, delicado e havia sido abordado pelo Espírito Camilo Castelo Branco através da médium Yvonne Pereira, no livro “Memórias de um Suicida”, permanecendo engavetado por vários anos. Agora chegara a hora. Na Europa o Reverendo anglicano Chad Varah já havia dado os primeiros passos em 1948, quando recebera uma paróquia para dirigir no início da sua carreira sacerdotal. Chad soubera do suicidio de uma menina de 14 anos, que se matara por confundir sua menstrução com uma doença venérea. Não teve dúvida: o problema era desiformação, tabú, solidão, e comunicou imediatamente num anúncio de jornal o número do telefone da igreja e sua disponibilidade em “conversar com pessoas sérias sobre assuntos sérios”. No outro dia já recebia a visita de alguém que havia atravessado o Canal da Mancha somente para conversar. Jacques também não sossegou enquanto não encontrou Chad para conversar. Atravessou o Atlântico para o conhecer o futuro amigo , um padre anglicano que seduziu o jovem espírita através da parábola do Bom Samaritano. A relação entre eles se estendeu por décadas, cada qual com a sua crença religiosa. O segredo da longa e profícua amizade é que Chad havia aprendido com a experiência que o trabalho de prevenção do suicídio não deveria ter bandeira religiosa, pois os seres humanos com esse tipo de risco de vida não dão tanta importância para as suas crenças e sim para as questões mais íntimas que os atormentam. A consciência sempre fala mais alto do que a filosofia. Como Chad, ao voltar ao Brasil o engenheiro Jacques foi estudar psicologia. Queria entender melhor o ser humano. Mais tarde aprendeu com Carl Rogers e Fernando Pessoa, e também com a experiência, que “entender” é discordar e que o melhor seria “compreender”, “estar com”, falar a linguagem dos sentimentos e das emoções, deixando um pouco de lado as questões intelectuais e sociais das pessoas. Para entender é preciso ser profissional, para compreender basta ser voluntário. Esse era o segredo: disponibilidade, voluntariado, “ócio criativo” há quase meio século atrás...
O CVV seguiu a sua trajetória, superou obstáculos, construiu sua experiência, possui cerca de 4 mil voluntários e hoje é referência mundial em saúde pública. Jacques foi também um dos fundadores da Aliança Espírita Evangélica, em 1973, e grande entusiasta das Escolas de Aprendizes. Hoje é um importante engenheiro ambiental e continua inquieto, em busca de novidades práticas para os alunos das inúmeras turmas das Escolas criadas por Armond em 1950. Chad faleceu no dia 8 de novembro último, aos 95 anos. Tinha ganho da rainha da Inglaterra o título de “Sir”, mas continuava o mesmo, simples e discreto. Eu o conheci quando visitou o posto do CVV em Santos em 1983 e queria saber mais sobre amizade entre ele e o Jacques. Chad dava gargalhadas ao lembrar da grande empolgação do amigo ao vê-lo pela primeira vez em Londres: “Jack queria saber de tudo que fizemos durante anos em apenas algumas horas”. Acho que conseguiu.
Trabalho foi inspirado pelo Espírito Francisca Júlia
O CVV foi um trabalho inspirado por Espíritos de ex-suicidas, neste caso específico a poetisa Francisca Júlia. Segundo alguns relatos mediúnicos, encarnados e desencarnados que atuam nesse setor possuem estreitos laços com o problema. A própria Yvonne Pereira foi suicida em existência anterior. A maioria deles estão vinculados a uma fraternidade denominada “Legião dos Servos de Maria”, que se dedica a socorrer os que partiram para o mundo espiritual através do suicídio. A entidade mantenedora do CVV, a Fraternidade Esperança, como complemento do trabalho dos postos de prevenção do suicídio, construiu no início dos anos 1970 em São José dos Campos a Comunidade Terapêutica Francisca Júlia, espaço criado para atender pacientes carentes com disturbios mentais. Não é um hospital psiquiátrico comum. Guarda consigo essa especificidade de amparar suicidas em potencial, mas segue a trajetória histórica dos hospitais espíritas, onde os pacientes sempre foram vistos de forma mais humana e sob a dimensão espiritual.
Vida de conturbada de poetisa
O CVV foi um trabalho inspirado por Espíritos de ex-suicidas, neste caso específico a poetisa Francisca Júlia. Segundo alguns relatos mediúnicos, encarnados e desencarnados que atuam nesse setor possuem estreitos laços com o problema. A própria Yvonne Pereira foi suicida em existência anterior. A maioria deles estão vinculados a uma fraternidade denominada “Legião dos Servos de Maria”, que se dedica a socorrer os que partiram para o mundo espiritual através do suicídio. A entidade mantenedora do CVV, a Fraternidade Esperança, como complemento do trabalho dos postos de prevenção do suicídio, construiu no início dos anos 1970 em São José dos Campos a Comunidade Terapêutica Francisca Júlia, espaço criado para atender pacientes carentes com disturbios mentais. Não é um hospital psiquiátrico comum. Guarda consigo essa especificidade de amparar suicidas em potencial, mas segue a trajetória histórica dos hospitais espíritas, onde os pacientes sempre foram vistos de forma mais humana e sob a dimensão espiritual.
Vida de conturbada de poetisa
"Muito pouco se escreveu sobre o maior vulto feminino do parnasianismo brasileiro. Num universo inteiramente dominado por poetas do chamado sexo forte, Francisca Júlia provou que mulher também sabia fazer poesia de qualidade. Como poucos, criou versos perfeitos e em nada ficou a dever à chamada "trindade parnasiana" (Olavo Bilac, Raimundo Correa e Alberto de Oliveira, que foram seus admiradores e principais incentivadores). Desde a infância, Francisca Júlia já demonstrava pendor para a poesia. O ambiente familiar a isso contribuía: o pai, Miguel Luso da Silva, era advogado provisionado, amigo particular dos livros; a mãe, Cecília Isabel da Silva, professora na escola de Xiririca (hoje Eldorado, no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo). Foi nessa aprazível cidade às margens do Rio Ribeira de Iguape que, a 31 de agosto de 1871, nasceu a poetisa Francisca Júlia da Silva. O ano de seu nascimento é um tanto contraditório: alguns citam 1874, outros 1875. De acordo com o irmão de Francisca, o também escritor Júlio César da Silva, a quem devemos dar crédito, o ano correto é mesmo 1871. Transferindo-se com os pais para São Paulo, Francisca Júlia logo passou a colaborar com os jornais mais importantes da época. Sua estréia deu-se no jornal O Estado de S. Paulo, onde publicou seus primeiros sonetos. A partir de então, começou a colaborar assiduamente para o Correio Paulistano e Diário Popular. Colaborou também para jornais do Rio de Janeiro, com destaque para as revistas O Álbum, de Arthur Azevedo, e, especialmente, A Semana.
(...) Em 1909, a poetisa contrai matrimônio com Filadelfo Edmundo Munster, telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. A bela cerimônia, que teve Vicente de Carvalho como padrinho, realizou-se na capela de Lajeado, Capital (SP). Nessa ocasião, foi convidada (e gentilmente recusou) a fazer parte da Academia Paulista de Letras, então em vias de ser fundada. A partir desse ano, decide deixar a poesia de lado e se dedicar apenas ao esposo e ao lar (...) Acometido de tuberculose, após demorado tratamento, Filadelfo Munster faleceu em 31 de outubro de 1920. A perda do companheiro tão querido foi arrasadora para a sensível poetisa, cuja emoção não pode conter, em nada demonstrando ser a autora daqueles versos frios, impassíveis. Confessou aos amigos que sua vida não tinha mais sentido sem a companhia do marido e deixou claro que "jamais poria o véu de viúva" (seria uma indicação de suicídio?). Retirou-se para repousar em seu quarto e ingeriu excessiva dose de narcóticos. No dia seguinte, ao abraçar o caixão onde jazia o corpo inerte do esposo, num último e emocionado adeus, Francisca Júlia falecia aos 49 anos. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Araçá, em São Paulo, ao meio-dia de 2 de novembro.
(...) A despeito da importância incontestável de sua obra, Francisca Júlia ainda não ocupa o lugar que lhe é devido no cenário da poesia brasileira, talvez por "esquecimento" dos estudiosos da literatura brasileira e dos críticos literários em geral. Nos livros didáticos adotados nas escolas secundárias e nas universidades, pouco ou nada se encontra sobre a poetisa e sua obra. É uma falta de respeito à sua memória e uma dívida a ser resgatada com a literatura de língua portuguesa".
Roberto Fortes
Noturno
Pesa o silêncio sobre a terra. Por extenso
Caminho, passo a passo, o cortejo funéreo
Se arrasta em direção ao negro cemitério...
À frente, um vulto agita a caçoula do incenso.
E o cortejo caminha. Os cantos do saltério
Ouvem-se. O morto vai numa rede suspenso;
Uma mulher enxuga as lágrimas ao lenço;
Chora no ar o rumor de misticismo aéreo.
Uma ave canta; o vento acorda. A ampla mortalha
Da noite se ilumina ao resplendor da lua...
Uma estrige soluça; a folhagem farfalha.
E enquanto paira no ar esse rumor das calmas
Noites, acima dele, em silêncio, flutua
O lausperene mudo e súplice das almas.
3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo
Da EFE em Genebra
Cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata, divulgou nesta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS). A agência da ONU disse hoje, por ocasião do Dia Mundial para a Prevenção do Suicídio, que as estimativas revelam que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso. A OMS estima que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser prevista e evitada. Para isso, é necessário que o Estado adote medidas adequadas e garanta tratamento adequado às pessoas que sofrem de distúrbios mentais.
Segundo a OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular nos países em desenvolvimento. O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos. A organização lembra que cada suicídio ou tentativa provoca uma devastação emocional entre parentes e amigos, causando um impacto que pode perdurar por muitos anos.
A OMS e a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (AIPS) ressaltaram a importância de reforçar todos os programas para identificar e prevenir o comportamento suicida. As duas entidades buscam garantir que o suicídio "não continue sendo visto como um fenômeno-tabu, ou um resultado aceitável de crises pessoais ou sociais", mas como "uma condição de saúde influenciada por um ambiente psicológico-social e cultural de alto risco".
Em 2006, a OMS e a AIPS divulgaram pesquisas apontando que o fator que mais predispõe ao suicídio é a depressão, mas que muitos outros aumentam a propensão, como transtornos bipolares, abuso de drogas e álcool, esquizofrenia, antecedentes familiares, contextos socioeconômicos e educacionais pobres ou uma saúde física frágil.
Fonte: UOL – Ciência & Saúde – 10/09/2007 –08:45h
(...) Em 1909, a poetisa contrai matrimônio com Filadelfo Edmundo Munster, telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. A bela cerimônia, que teve Vicente de Carvalho como padrinho, realizou-se na capela de Lajeado, Capital (SP). Nessa ocasião, foi convidada (e gentilmente recusou) a fazer parte da Academia Paulista de Letras, então em vias de ser fundada. A partir desse ano, decide deixar a poesia de lado e se dedicar apenas ao esposo e ao lar (...) Acometido de tuberculose, após demorado tratamento, Filadelfo Munster faleceu em 31 de outubro de 1920. A perda do companheiro tão querido foi arrasadora para a sensível poetisa, cuja emoção não pode conter, em nada demonstrando ser a autora daqueles versos frios, impassíveis. Confessou aos amigos que sua vida não tinha mais sentido sem a companhia do marido e deixou claro que "jamais poria o véu de viúva" (seria uma indicação de suicídio?). Retirou-se para repousar em seu quarto e ingeriu excessiva dose de narcóticos. No dia seguinte, ao abraçar o caixão onde jazia o corpo inerte do esposo, num último e emocionado adeus, Francisca Júlia falecia aos 49 anos. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Araçá, em São Paulo, ao meio-dia de 2 de novembro.
(...) A despeito da importância incontestável de sua obra, Francisca Júlia ainda não ocupa o lugar que lhe é devido no cenário da poesia brasileira, talvez por "esquecimento" dos estudiosos da literatura brasileira e dos críticos literários em geral. Nos livros didáticos adotados nas escolas secundárias e nas universidades, pouco ou nada se encontra sobre a poetisa e sua obra. É uma falta de respeito à sua memória e uma dívida a ser resgatada com a literatura de língua portuguesa".
Roberto Fortes
Noturno
Pesa o silêncio sobre a terra. Por extenso
Caminho, passo a passo, o cortejo funéreo
Se arrasta em direção ao negro cemitério...
À frente, um vulto agita a caçoula do incenso.
E o cortejo caminha. Os cantos do saltério
Ouvem-se. O morto vai numa rede suspenso;
Uma mulher enxuga as lágrimas ao lenço;
Chora no ar o rumor de misticismo aéreo.
Uma ave canta; o vento acorda. A ampla mortalha
Da noite se ilumina ao resplendor da lua...
Uma estrige soluça; a folhagem farfalha.
E enquanto paira no ar esse rumor das calmas
Noites, acima dele, em silêncio, flutua
O lausperene mudo e súplice das almas.
3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo
Da EFE em Genebra
Cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata, divulgou nesta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS). A agência da ONU disse hoje, por ocasião do Dia Mundial para a Prevenção do Suicídio, que as estimativas revelam que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso. A OMS estima que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser prevista e evitada. Para isso, é necessário que o Estado adote medidas adequadas e garanta tratamento adequado às pessoas que sofrem de distúrbios mentais.
Segundo a OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular nos países em desenvolvimento. O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos. A organização lembra que cada suicídio ou tentativa provoca uma devastação emocional entre parentes e amigos, causando um impacto que pode perdurar por muitos anos.
A OMS e a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (AIPS) ressaltaram a importância de reforçar todos os programas para identificar e prevenir o comportamento suicida. As duas entidades buscam garantir que o suicídio "não continue sendo visto como um fenômeno-tabu, ou um resultado aceitável de crises pessoais ou sociais", mas como "uma condição de saúde influenciada por um ambiente psicológico-social e cultural de alto risco".
Em 2006, a OMS e a AIPS divulgaram pesquisas apontando que o fator que mais predispõe ao suicídio é a depressão, mas que muitos outros aumentam a propensão, como transtornos bipolares, abuso de drogas e álcool, esquizofrenia, antecedentes familiares, contextos socioeconômicos e educacionais pobres ou uma saúde física frágil.
Fonte: UOL – Ciência & Saúde – 10/09/2007 –08:45h
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