Wolf Maya fala sobre a produção da novela
“A viagem foi feita às pressas. Vira-lata ia entrar em cartaz e não entrou, acho que o Lombardi atrasou – característica do nosso Carlos Lombardi, sempre atrasado. Atrasou a Vira-lata, e a gente teve que botar a novela em vinte dias. Eu me lembro que eu achei A viagem. Paulo Ubiratan estava comigo nessa maratona, e ele era, na verdade, o meu chefe. Ele estava acima de mim, era o diretor artístico. Eu ainda não era diretor de núcleo, não existia ainda esse termo. Existia o diretor artístico, que era o Paulo, e foi durante anos. E eu falei para ele: ‘Vamos fazer uma Ivani Ribeiro. Primeiro, porque é a única certeza que temos que existe uma obra que já está pronta. Não vamos poder fazer uma obra que alguém vai escrever. Basta essa que não escreveram. Então, vamos pegar uma coisa que já está escrita.’ E aí fomos lendo Ivani Ribeiro pela ponte-aérea. Íamos conversar com a Ivani Ribeiro em São Paulo. Nós sentamos, eu, um espaço em branco e ele. No espaço em branco, uma pilha de coisas para ver. E nós achamos... Eu achei A viagem. Eu falei para ele, e ele gargalhou: ‘Mas olha que máximo, o brasileiro é extremamente ligado nisso.’ Eu já sabia disso, eu sei disso. Todos nós sabemos como é excitante você falar sobre o mundo sobrenatural, sobre coisas que você não conhece. Se conseguíssemos trabalhar, tratar Kardec, o espiritualismo, sem essa exposição comercial, sem ser doutrinador. Eu não queria fazer uma obra doutrinadora do kardecismo. Ia ficar chata. Então vamos juntar essas duas coisas, temos personagens interessantes, temos uma história que tem o temperamento brasileiro. E o evento dessa história só vai acontecer lá depois do capítulo 50 – porque a história começava de maneira muito simples. Eu podia começar a gravar na semana que vem. O céu, que eu tinha que achar como era, e o inferno, que eu ia quebrar minha cabeça para achar, só apareciam depois do capítulo 60. Então, eu tinha tempo para respirar. Podia botar uma novela em vinte dias no ar. Aí é que está o improviso da televisão. Aí é que está o que a televisão ensina para gente, e ninguém mais ensina. E quem não sabe fazer aqui, se ferra, porque não tem muito tempo para nada. Tem que ser tudo muito preciso, criativo e rápido. E assim nós fizemos A viagem. E foi exatamente assim. Eu tive a parceria de dois grandes atores. A Cristiane Torloni, que eu trouxe de Portugal, ela estava morando em Portugal. Tinha acontecido uma tragédia pessoal na vida dela, tinha perdido o filho e tinha saído do Brasil, muito triste. E eu a chamei para voltar, e ela voltou cheia de energia. Tinha o Fagundes, que é o eterno companheiro, principalmente para grandes desafios. Ele é bárbaro. E eu trouxe o Guilherme Fontes, para fazer o demônio, numa recodificação de uma pessoa que tinha cara de anjo. Ele fazia o cara do mal, mas personificado como se fosse o anjo do bem. Então isso também deu muito charme à obra. E a obra foi um dos maiores sucessos. A maior audiência da TV Globo no horário das sete. Eu fiz 72 pontos de audiência, às 19h. Foi um recorde.”
Um comentário:
Otimo Muinto Bom Mesmo
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