quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Espiritismo e Arte

Sarau na casa de La Sand,sentados: Alexandre Dumas, George Sand, Marie d'Agout e Liszt ao piano. Em pé: Berlioz, Paganini e Rossini. Pintura de Josef Danhauser, 1840.



Como toda idéia inovadora e revolucionária, o Espiritismo logo tornou-se alvo do interesse dos artistas, classe tristemente marginalizada e incompreendida no mundo social estabelecido e cheio de preconceitos. Um dos casos mais notórios foi o do dramaturgo Victorien Sardou. Este tornou-se um dos mais dedicados discípulos de Allan Kardec, a quem acompanhou desde as primeiras experiências das mesas girantes, a elaboração do Livros dos Espíritos e a repercussão social doutrina na Europa e nos demais continentes. Embora não soubesse desenhar, era médium pictógrafo, produzindo ilustrações assombrosas sobre a vida em outros mundos. Apesar de seus biógrafos ignorarem sua dedicação ao Espiritismo, Sardou foi um ativista influente e pioneiro na transposição direta da nova filosofia para a linguagem artística.

Lendo alguns trechos biográficos - como esses que destacamos a seguir - podemos comprender a amplitude social do Espiritismo e por que os artistas foram intensamente receptivos às idéias e valores difundidos pelos Espíritos.




Victorien Sardou e Sarah Bernard em peça de 1897


Sarah Bernard

Nasceu em Paris, França, a 22 ou 23 de Outubro de 1844; morreu em Paris, a 26 de Março de 1923.

Filha natural de uma famosa cortesã holandesa de origem judia, Judith van Hard e de um estudante de direito francês, Edouard Bernard, que se tornará notário no porto do Havre, foi-lhe dado o nome de Henriette-Rosine Bernard. Como a presença de uma criança interferia com a vida da mãe, foi enviada para uma pensão para raparigas de Auteil e mais tarde deu entrada num convento de Versalhes. Criança difícil e de saúde frágil, converteu-se ao catolicismo, sendo baptizada e fazendo a primeira comunhão em 1856, querendo mais tarde professar e tornar-se freira. Um dos amantes da mãe, o duque de Morny, meio-irmão materno do imperador Napoleão III, decidiu que a rapariga deveria ser actriz, e quando completou 16 anos conseguiu que fosse admitida no Conservatório de Paris.

Durante a guerra franco-prussiana de 1870-1871 organizou um pequeno hospital militar nas instalações do teatro. Com o fim da guerra, a deposição de Napoleão III, e a proclamação da República, a actriz, mal vista pelos republicanos, devido às suas conhecidas relações e defesa de personagens do anterior regime, conseguiu o principal papel feminino, o da Rainha Maria, na peça de Victor Hugo Ruy Blas, que tinha acabado de chegar do exílio. A sua actuação encantou as audiências, devido sobretudo ao lirismo da sua voz. Foi a razão da célebre frase de Victor Hugo, que afirmou que a actriz tinha uma «voz de oiro», caracterização que perdurou apesar dos críticos já descreverem a voz de Sarah Bernhardt como sendo prateada, devido à sua parecença com o tom de uma flauta.

Tendo criado a sua própria companhia, com a ajuda do empresário londrino Jarrett, partiu para os Estados Unidos, acompanhada de uma secretária, um mordomo, dois cozinheiros, duas criadas de quarto e um empregado. Durante dois meses percorrerão cinquenta cidades americanas. Nova Iorque é a primeira cidade americana a vê-la, em 8 de Novembro de 1880. Regressará ao Novo Mundo mais oito vezes. De regresso à Europa actua em todo o lado, tirando a Alemanha. Em Odessa, na terra dos czares, ia sendo cachinada por anti-semitas russos. Mas o czar presta-lhe homenagem pública.

Na década de 80 aparece na sua vida o dramaturgo Victorien Sardou, que escreve para a actriz Fédora (1882), Théodora (1884), La Tosca (1887) e Cléopâtre (1890), dirigindo-a nas suas próprias peças e levando-a a actuar de uma maneira extrovertida, em cenários exóticos e com guarda-roupas riquíssimos, no Teatro de La Porte Saint-Martin, de que a actriz se tinha tornado proprietária. Entretanto casara, em 1882 em Londres, com Jacques Damala, um jovem grego amante da sua irmã mais velha, actor sem talento e drogado notário. O casamento não dura devido à morte do marido.

Uma ferida mal curada no joelho direito, provocada por uma queda na última cena da Tosca, durante uma digressão pela América do Sul em 1905, que apanha gangrena obrigou à amputação da perna em 1915. O facto não a impediu de visitar os soldados na frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, e de, no ano seguinte, voltar aos Estados Unidos para uma extenuante digressão de 18 meses. Em Novembro de 1918 regressou a França, aproveitando o fim da guerra para realizar uma digressão pela Europa.

Em 1920 publicou um romance, Petite Idole, obra com algum interesse, já que a heroína é uma idealização da carreira e das ambições da actriz.

Durante os ensaios finais da peça de Sacha Guitry Un sujet de Roman, desmaiou, recuperando de forma a participar no filme do mesmo autor La Voyante, produzido por Hollywood, e filmado na sua própria casa em Paris, mas durante o qual foi acometida de várias síncopes. Acabou por morrer em Março de 1923.

Enciclopédia Britânica


Victorien Sardou

(Paris, 5 de Setembro de 1831 — Paris, 8 de Novembro de 1908)

Era originário de uma família modesta que possuía um olival em Cannet, próximo de Cannes. Depois de um Inverno rigoroso em que a geada causou grandes danos nas oliveiras, a família ficou arruinada. O pai de Victorien, Antoine Léandre Sardou, resolve então instalar-se em Paris onde foi sucessivamente contabilista, professor de contabilidade, director de uma escola privada e preceptor. Para complementar os seus rendimentos, publicava manuais de gramática, dicionários e tratados sobre diversos assuntos. Como os seus ganhos fossem insuficientes, Victorien cedo foi obrigado a granjear a sua própria subsistência, vendo-se obrigado, por dificuldades econômicas, a abandonar o cursos de medicina que tinha começado.

Para sobreviver, Victorien Sardou recorre ao ensino do francês a alunos estrangeiros e a dar explicações de latim, de História e de matemática. Também escrevia artigos para enciclopédias populares. Enquanto isso, esforçava-se por vencer no campo da escrita. Os seus primeiros ensaios foram pouco encorajadores, tendo tentado, sem sucesso, atrair a atenção da actriz Elisabeth Rachel Félix, a famosa Rachel, enviando-lhe o drama, La Reine Ulfra, baseado numa antiga crónica sueca.

A sua estreia teatral foi particularmente difícil: a sua primeira peça a ser levada à cena, La Taverne des étudiants foi representada no Odéon , no 1 de Abril de 1854, mas recebeu um acolhimento tempestuoso, pois tinha corrido o boato que o autor tinha sido contratado pelo governo para provocar os estudantes. A peça foi retirada de cena depois de apenas cinco representações.

Um outro drama, Bernard Palissy, foi caeite pelo Odéon, mas uma mudança de gerência levou ao anulamento do contrato. Outra peça, com um tema relacionado com o Canadá, intitulada Fleur de Liane, deveria ser levada à cena no Théâtre de l'Ambigu, mas a morte do director daquele teatro gorou o projecto. A obra Le Bossu, escrita de propósito para Charles Albert Fechter, não agradou ao actor e quando finalmente subiu à cena, com sucesso, a autoria foi atribuída erroneamente a outrem.

A peça Paris à l'envers, submetida à apreciação de Adolphe Lemoine, director do Théâtre du Gymnase Marie Bell, foi por ele rejeitada, a conselho de Eugène Scribe, que considerava revoltante a cena de amor, que depois ficaria célebre na peça Nos Intimes.

Sardou encontrava-se na miséria, quando, para piorar as coisas, sofreu um ataque de febre tifóide, que o deixou à beira da morte. Metido no seu miserável quarto, rodeado dos manuscritos rejeitados, quando já desesperava de se salvar, foi socorrido por uma mulher que vivia no mesmo prédio. Esta alma caridosa chamava-se Laurentine de Brécourt, a qual tinha amizades nos meios teatrais, nomeadamente com a célebre actriz Virginie Déjazet, com da qual era amiga íntima. Quando Victorien Sardou se restabeleceu, foi-lhe apresentado pela sua amiga. Em consequência desse encontro, a velha actriz deixa-se encantar pelo jovem autor, tomando nas suas mãos o lançamento da sua carreira. Victorien Sardou casaria entretanto com Laurentine de Brécourt. Especificamente para Sardou e para as suas peças, a já idosa actriz adquire, em 1859, um teatro, as Folies Déjazet, sito no n.º 41 do boulevard du Temple, então rebaptizado Théâtre Déjazet. Para cobrir o custo de exploração, ela vê-se obrigada a retomar as suas tournées pela Europa.

A peça Candide, a primeira peça escrita por Virginie Déjazet, foi interdita pela censura, mas as três peças seguintes, escritas quase em simultâneo, – Les Premières Armes de Figaro, Monsieur Garat, Les Prés Saint-Gervais – tiveram um grande sucesso. O mesmo aconteceu com a obra Les Pattes de mouche (1860), que foi levada à cena no prestigioso Gymnase.

Victorien Sardou rapidamente ombreou com os dois mestres do teatro de então, Émile Augier e Alexandre Dumas, filho. Embora não tivesse o sentido do cômico ou a eloquência e a força moral do primeiro, ou a convicção apaixonada e os espírito acutilante do segundo, ele revelou-se um mestre do diálogo. As suas réplicas desenvolviam-se com inspiração e ritmo.

Wikipédia

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