O cineasta Silvio Back está retomando uma antiga prática para fazer as pedras falarem, um recurso nada ortodoxo para revelar a identidade dos personagens mortos da Guerra do Contestado (1912-1916). Ele utilizou 30 médiuns nas filmagens explorando livremente os transes para criar, segundo o crítico Luis Carlos Merten, uma “estética espírita” e recontar a tragédia ocorrida no início da República Velha. Back já havia abordado essa temática histórica num longa metragem chamado A Guerra dos Pelados(1971), mas sem a encenação de recursos mediúnicos.
Para Merten, o crítico do Estadão, essa é uma estética já incorporada (sem trocadilhos) e utilizada anteriormente pelo cineasta. Segundo ele, para fugir das narrativas óbvias quando o assunto é morte, Back "radicaliza" ao apelar para o espiritismo como linguagem e expressão cultural popular:
“Ele encena, por meio de sessões espíritas, a possessão mediúnica que dá voz às vítimas dos massacres do Contestado. Seu filme não deixa de se inscrever nesta vertente do espiritismo que parece tão forte no cinema brasileiro atual. Além de Chico Xavier e do inédito Nosso Lar, o tema está em O Último Romance de Balzac, de Geraldo Sarno, que também concorre em Gramado. O que representa essa estetização do espiritismo? Para alguns críticos, é um retrocesso, mas o espiritismo já vem de longe na obra de Back. Aparece em O Auto-retrato de Bakun*, por exemplo”.
E sobre as reações obviamente já esperadas por parte do público e de alguns especialistas em cinema , o crítico do Estadão explica esse comportamento:
“Uma nova representação do transe? O autor é mais inteligente do que os críticos medíocres, que fazem chacota de O Contestado por sua trágica incapacidade de entender que o realismo não é a única ferramenta, ou linguagem, para investigação da dor do mundo no cinema.
*Essa abordagem cinebiográfica do pintor paranaense Miguel Bakun, que suicidou-se em 1963 aos 54 anos, também é realizada através de sessões espíritas e da história oral. Nota do blog.
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