quarta-feira, 5 de março de 2008

O incêndio do Gran Circus Norte-Americano




Na tarde de 17 de dezembro de 1961, um domingo de muito sol, Niterói – então capital do estado do Rio de Janeiro – se arrumou para ir ao circo. Era a primeira matinê da temporada do grandioso Gran Circus Norte Americano, que prometia ser de apenas 10 dias. Naquela tarde quente, que beirava os 40 graus, Adilson Marcelino Alves, o “Dequinha”, convidou dois amigos para tocar fogo no circo. O crime faria parte de um plano de vingança idealizado um dia antes por Dequinha, que fora contratado como mão-de-obra temporária para a montagem do circo, mas desentendera-se com um funcionário e acabara sendo expulso do local debaixo de agressões. O convite para cometer o ato criminoso foi feito a José do Santos, o “Pardal”, ladrão que cumpria 10 anos de cadeia e que estava nas ruas sob licença especial do diretor do presídio; e Walter Rosa dos Santos, o “Bigode”, um morador de rua e alcóolatra. Além dos três, estavam a companheira de Bigode, Regina Maria da Conceição, e a companheira de Pardal, Dirce Siqueira de Assis. No meio do caminho, Bigode comprou um litro de gasolina num posto, por 20 cruzeiros. O espetáculo já tinha começado. Bigode e Dequinha conseguiram entrar sem pagar, removendo uma folha de zinco e passando por baixo da lona. Antes, porém, Bigode escondeu a garrafa com gasolina no pé de uma árvore. Pardal ficou de fora com as mulheres, bebendo. Dequinha e Bigode ocuparam os últimos degraus da arquibancada. Assistiram a vários números e chegaram a aplaudir os artistas. Quando faltavam poucos minutos para o fim do espetáculo, durante a apresentação dos trapezistas, Dequinha teria notado que fora visto por Maciel Felizardo e dado a ordem a Bigode: "tá na hora". Bigode ainda teria advertido Dequinha de que o circo estava muito cheio e alguém poderia morrer. Dequinha retrucou: "Que nada, rapaz. Eu tô invocado com o homem do circo. Ele me deve". Os dois saíram por onde entraram e chamaram Pardal e as mulheres para ver o circo pegar fogo. Dequinha ordenou: "joga a gasolina". Bigode derramou o combustível sobre uma das laterais da lona e desafiou Dequinha: "já botei a gasolina, se quiser tacar fogo, taca! A cabeça é sua". Dequinha aproximou-se da lona, riscou o fósforo e o jogou. A platéia presente era de cerca de três mil pessoas, 70 por cento de crianças. A trapezista Nena Stevanovich não chega a concluir o tríplice mortal e cai sobre a rede de proteção. Ela é a primeira a gritar fogo! A multidão também percebe o perigo e tenta fugir desesperadamente. Todos tentam sair pelo corredor onde entraram. O rugir das feras, que estavam presas em jaulas nos fundos, era tão assustador quanto o fogo. E segundo testemunhas, chovia labaredas sobre o público: o derretimento da lona parafinada provocou os pingos incandescentes. Era uma visão apocalíptica. Na correria, muitos tropeçam e caem, obstruindo a passagem dos que vinham atrás, que acabam caindo por cima. Saldo final: cerca de 500 mortos e outras centenas de feridos. O incêndio do circo em Niterói é considerada a maior tragédia em recinto fechado que se tem notícia. Dequinha, Pardal, Bigode e as mulheres foram presos na mesma semana e confessaram o crime. Os homens foram condenados a 16 anos de prisão e as mulheres absolvidas. Passados mais de 40 anos, a tragédia permanece como uma ferida aberta na cidade de Niterói. (Linha Direta)

4 comentários:

Fabi Biglia disse...

Que dor no peito...só reforça meu desgosto:O SER HUMANO NÃO É GENTE!

Aliás, desculpem-me a revolta: O PROFETA GENTILEZA ERA GENTE!

Fabi Biglia

Anônimo disse...

Perdi uma tia e um sobrinho os quais nunca conheci. Escaparam uma tia e uma prima. Fui saber depois de décadas que minha mãe tinha crises de falta de ar em função dessa tragédia, mas nunca deixou passar essa dor para nós seus filhos. Já minha tia viveu com semblante triste toda a vida e minha prima é uma parente isolada. Hoje circo é uma atração em extinção e , graças à Deus, não permite mais animais na maioria dos estados brasileiros.

marcus benedictus disse...

Eu estava lá no momento. Eu e meu avô iamos a esta seçaõ maios uma emergencia fez com que fossemos primeiro visitar um amigo de meu avô e depois nos dirigimos para o circo. No caminho encontramos um homem correndo e gritando que o circo estava pegando fogo, meu avo riu e disse ele desve estar maluco. Pegamos o onibus e ao chegarmos na avenuda Feliciano Sodré, do onibus conseguimos ver o desastre. Tivemos que saltar pois ali era o ultimo pnto. Ficamos alguns momentos olhando parados aquela cena dantesca. Me marcou muito aqueles momentos em que via pessoas atonitas, meu avo chorando, sirenes pessoas rasgadas, em fim, uma tragpédia a qual meus olhos de menino nunca mais esquecerazam. Tinha na época 4 anos, e me lembro integralmente da cena.
Por pouco n´pos não seriamos uma das vítimas. Agradeço até hoje a Jesus e aos mestres ter dado um "contratempo" ao meu avô que salvou nossas vidas.

Marcus Benedictus

Natalia Froz disse...

Que tragédia! Faz 50 anos essa semana. Sinto pela perda de todos! Não so dos parentes, mas todos os cariocas, brasileiros! Saber que 2/3 das vítimas foram crianças entristece ainda mais.