sábado, 6 de dezembro de 2008

A famosa entrevista do Padre Gino Concetti


Publicada inicialmente no “Osservatore Romano”; no jornal suiço “Ansa”, em novembro de 1996; traduzido do italiano para o francês por Pierre R. Théry, e para o português por Terezinha Rey, publicada no jornal “A Flama Espírita”, São Paulo, junho de 1997.




A entrevista circulou em inúmeras publicações espíritas na década passada e revela o pouco avanço que as religiões dogmáticas tiveram em relação ao conhecimento e ao paradigma espíritas. Nela o padre Gino Concetti faz algumas afirmações sobre alguns conceitos espíritas, já adaptados para o catecismo moderno da Igreja. São teorizações absurdas e até infantis, que navegam entre, não se sabe ao certo, a ingenuidade e a dissimulação, defendendo a idéia de que o Plano Divino Universal é uma espécie de empresa organizada nos moldes humanos, com chefes, gerentes, departamentos, regras, etc. Não dá para perceber se realmente trata-se de uma crença por parte de quem fala ou se é uma instrução codificada para convencer e manipular adeptos ainda inseguros sobre essas realidades:


Pergunta: - O senhor pode nos explicar essa nova concepção teológica, como as comunicações com o Mais Além?

Resposta: Tudo parte da constatação que a Igreja é o único organismo do qual Jesus Cristo é o chefe. Esse organismo é composto dos vivos, quer dizer, tanto os fiéis sobre a Terra como os falecidos, que sejam beneficiados, e os santos que estão na paz do Espírito no Paraíso, como as almas que devem expiar seus pecados no Purgatório. Essas dimensões não somente estão unidas a Jesus, segundo o conceito da “Comunhão dos Santos”, mas estão reunidas juntas. O que significa que uma comunicação é possível.


Pergunta: - Segundo a Doutrina Católica, como se produzem os contatos?

Resposta: As palavras podem nos chegar não através das palavras e dos sons, quer dizer, como os meios normais dos seres humanos, mas através de sinais diversos: por exemplo, pelos sonhos que às vezes são premonitórios ou através de impulsões espirituais que penetram nosso Espírito – impulsões que podem transformar-se em visões e conceitos.

Pergunta: - Todas as pessoas podem ter essas percepções?

Resposta: Aquelas que captam mais freqüentemente esses fenômenos são mais sensitivas, isto é, pessoas que têm uma sensibilidade superior em relação a esses sinais ultraterrestres. Eu me refiro aos clarividentes e aos médiuns. Mas as pessoas normais podem ter algumas percepções extraordinárias, um sinal estranho, uma iluminação repentina. Ao contrário das pessoas sensitivas, podem, raramente, conseguir interpretar o que se passa com elas em seu foro interior.

Pergunta: - Para interpretar esses fenômenos, a Igreja lhes permite recorrerem aos chamados sensitivos e aos médiuns?

Resposta: - Sim, a Igreja permite recorrer as essas pessoas particulares, mas com uma grande prudência e sob certas condições. Os sensitivos aos quais podem pedir assistência devem ser pessoas que levem suas experiências, mesmo aquelas com técnicas modernas, inspirando-se na fé. Se essas últimas forem padres, será ainda melhor. A Igreja interdita todos os contatos dos fiéis com aqueles que se comunicam com o Mais Além, praticando a idolatria, a evocação dos mortos, a necromancia, a superstição e o esoterismo. Todas as práticas ocultas que incitem à negação de Deus e dos Sacramentos.

Pergunta: - Com que motivações um fiel pode encetar um diálogo com os falecidos?

Resposta: - É necessário não se aproximar muito do diálogo com eles, a não ser nas situações de grande necessidade. Alguém que perdeu, em circunstâncias trágicas, familiares e não se resigna com a idéia de seu desaparecimento. Ter um contato com a alma de tais entes queridos pode aliviar um Espírito perturbado por esse drama. Pode-se, igualmente, dirigir-se aos falecidos sem a necessidade de resolver um grave problema de vida. Nossos antepassados, em geral, nos ajudam e nunca nos enviarão mensagens contra nós mesmos ou contra Deus.

Pergunta: - Que atitudes convém evitar durante os contatos mediúnicos?

Resposta: - Não se pode brincar com as almas dos falecidos. Não se pode evocá-las por motivos fúteis para obter, por exemplo, um número de sorteio. Convém também ter grande discernimento a respeito dos sinais do Mais Além e não muito ‘enfatizá-los’. Arriscar-se-ía a cair na mais suspeita e excessiva credulidade. Antes de mais nada, não se pode abordar o fenômeno da mediunidade sem a força da fé. Arriscar-se-ia a perder o equilíbrio psíquico e mergulhar, inteiramente, na possessão demoníaca. Os padres exorcistas continuam a assinalar milhões de casos de pessoas dominadas pelo demônio por ocasião de sessões de Espiritismo.”



Aqui percebemos que a Igreja Católica já se apropria, explicitamente, de conceitos doutrinários espíritas que antes eram sistematicamente condenados e rejeitados. Tudo indica que ela tem planos de, futuramente, admitir o Espiritismo, porém com absoluto controle sobre os adeptos. Mesmo o argumento bíblico contido no Deuteronômio (18, 10), no qual Moisés proíbe essa prática, largamente utilizado nos catecismos, já está sendo colocado de lado para justificar essa histórica necessidade profissional e institucional de exercer e manter o monopólio clerical na comunicação com Deus e com os mortos. O aspecto inegavelmente liberal do Espiritismo, como prática privativa familiar ou socialmente pública, ainda é um estorvo para a Igreja. O único jeito de modificar tal situação seria então clericalizar esse processo livre de comunicação e expressão. Admitir o Espiritismo não significa adotá-lo como doutrina independente, mas aproveitar seus princípios que são convenientes, como foi feito com o Cristianismo e inúmeras práticas religiosas da Antiguidade. A intenção é sempre manter o Espiritismo como doutrina inimiga, herética e perigosa, porém explorando sua riqueza de idéias através dos tradicionais elementos manipuladores.


In Nova História dos Espiritismo - Editora Corifeu

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou espirita praticante, gostei muito da entrevista do Padre Gino Cencetti, quanta lucidez, coerência, respeito desse dignissimo Padre por essa doutrina racional que é o espiritismo. Por aí vemos que não estamos tão distantes, espiritismo e catolicismo, tenho conhecimento de Padres e Bispos, que também são simpáticos e conhecedores dessa doutrina até nos consideram aos bons samaritanos. Fiquemos na Paz do Mestre Jesus, e que Deus nos abençoe a todos.