sexta-feira, 17 de abril de 2009

18 de abril de 1857

Retrato de Aurore Dupin (George Sand) , a quem Allan Kardec teria oferecido o primeiro exemplar de O Livro dos Espíritos

A tradição lendária – utilizando a expressão de Canuto Abreu para conceituar esses registros da tradição oral a respeito dos trabalhos da Codificação – conta que Rivail, antes de dirigir-se à Livraria Dentu, havia lido em casa uma sugestiva nota de jornal falando da presença da famosa George Sand (Aurore Dupin) em Paris. “La Sand”, com o era conhecida a grande escritora feminista, viera especialmente de Nohant , em longa excursão feita de carruagem, para assistir a peça “Demi Monde”, da qual faria sua prestigiada crítica teatral. Rivail e Sand eram velhos conhecidos, desde os tempos de estudos de magnetismo e das primeiras reuniões de mesas-girantes, bem como de animadas conversas sobre as novidades do espiritualismo. Foi então que ocorreu ao professor que a amiga poderia tomar conhecimento da síntese das suas últimas pesquisas. Sobre esses acontecimentos, hoje de valor inestimável para a memória do Espiritismo, há uma curiosa revelação feita pelo médium Francisco Cândido Xavier, transmitida em conversa informal e assim anotada por Suely Caldas Schubert:

“(...) E assim foi que, andando pelas ruas de Paris, com o primeiro exemplar do livro nas mãos, e por isso, pleno de alegria, o professor avistou a carruagem de Sand, reconhecendo-a em seu interior. Imediatamente acenou e, cumprimentando-a, disse:

- Madame Sand, venho oferecer-lhe o primeiro livro da Doutrina dos Espíritos! Ao que ela retrucou:

- Ah, professor Denizard, - ela assim o chamava – eu sei que o senhor está fazendo experiências verdadeiras. Eu mesmo sou delas testemunha , porque desde quando muito jovem, abservava alguém , um vulto, a me acompanhar o tempo todo, a me espreitar! De pequena, lutei muito para que os demais compreendessem o que se passava comigo, mas em vão!... Bem, não nos importemos com as incompreensões e sigamos avante!... O senhor está de parabéns, professor!

O professor Rivail agradeceu-lhe a acolhida fraterna, dizendo-lhe que estimaria muitíssimo ver sua apreciação da obra. “La bonne dame de Nohan” respondeu-lhe afável:

- Professor Denizard, guarde para si este exemplar, do qual não sou digna. Alegrar-me-ei bastante em opinar sobre ele mais tarde, quando o tempo me permitir. Atualmente, tenho a vida atribulada de compromissos. Prometa enviar-me outro volume posteriormente.

A 20 de maio do mesmo ano, Allan Kardec endereçava-lhe expressiva carta, com um exemplar de “ O Livro dos Espíritos”, em anexo. Madame Sand leu a obra com atenção e, três meses depois, procurando o amigo falou-lhe:

- Professor Denizard, gostaria muito de acompanhá-lo em suas demandas por estas idéias renovadoras de nosso mundo, mas sinto que somente iria atrapalhar seu livre desenvolvimento. Minha condição de mulher, com conceitos e comportamentos revolucionários, não ajudaria em nada a verdade que esta filosofia representa. Recuso-me, pois, a escrever qualquer artigo sobre este livro de luz. Eu, certamente, apenas contribuiria para nobel. Conto com a sua compreensão e prometo, outrossim, colaborar com o senhor no que estiver ao meu alcance.

Dez anos mais tarde, na edição de janeiro de 1867 da Revista Espírita, sob o título “Os Romances Espíritas”, Allan Kardec comentaria, da seguinte forma, algumas obras literárias de George Sand: “Em Consuelo e na Comfesse de Rudolf-State, da Srª George Sand, o princípio da reencarnação representa papel capital. O Drag, da mesma autora, é uma comédia representada, há alguns anos, no Vaudeville, cujo enredo é inteiramente espírita”. Kardec igualmente comentaria ser a obra Mademoiselle de La Quintine, de Sand, uma obra que encerrava pensamentos eminentemente espíritas.

Allan Kardec e George Sand novamente se encontraram, em 18 de abril de 1957, cem anos decorridos sobre aquele encontro nas ruas de Paris e, desta vez, despojados da veste corporal.

George Sand foi um dos espíritos de elite que compareceu à grande solenidade espiritual, em homenagem a Allan Kardec, levada a efeito na Vida Maior por ocasião do primeiro centenário do livro”.

In Nova História do Espiritismo – Corifeu Editora

Gravura da Galeria D'Orleans, Palais Royal em 1850


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