terça-feira, 19 de maio de 2009

Então, o que vos parece?


A pergunta do título foi feita por Santo Agostinho aos presentes numa reunião da Sociedade Espírita de Paris. O Espírito Voltaire terminara a sua dissertação demonstrando que a mudança do ponto de vista é o começo da mudança dos sentimentos, a principal causa do preconceito. Quem diria que Voltaire pudesse mudar de opinião sobre seus exageros e intolerâncias quando encarnado? O episódio foi registrado por Kardec na Revista Espírita.

Escolhemos o exemplo para tocar num assunto atual, polêmico e extremamente importante para compreender a pluralidade e a diversidade cultural que vai marcar as próximas décadas do nosso século. Escolhemos essas duas imagens fortes e artísticas do conhecido fotógrafo italiano Oliviero Toscani, cujo estilo provocador nos leva sempre à reflexão sobre os nossos limites de aceitação e coragem. Depois dos embates históricos da emancipação feminina, este certamente será próximo grande desafio ético da Humanidade. O que será que o futuro nos reserva?

Anos atrás escrevemos um artigo sobre o assunto, comentando as preferências religiosas dos participantes da 9ª Parada Gay de São Paulo em 2005, hoje muito utilizado em fóruns de debate na internet. Muitos outros articulistas vêm se esforçando muito para clarificar o assunto para a opinião pública à luz do Espiritismo. Em 1971 Chico Xavier foi questionado publicamente sobre isso no programa Pinga Fogo, da antiga TV Tupi, e recebeu de Emmanuel um cuidadoso comentário aventando a necessidade de contínuos estudos para melhor compreensão do problema. Era uma época libertária, mas alguns assuntos teriam ainda que esperar algumas décadas para sair da obscuridade e da lista dos tabus.

Mas o nosso interesse pessoal pelo tema é mais antigo. Quando tínhamos quatro ou cinco anos de idade vimos nossa mãe chorando na varanda de casa ao receber a notícia da tentativa de suicídio de um tio, irmão mais velho dela. Ele havia usado um velho revólver do nosso avô para tirar a própria vida, disparando contra o ouvido. Não conseguiu e durante anos a bala ficou alojada no maxilar, obrigando-o a mastigar lentamente durante as refeições. Anos depois desencarnou vítima de complicações cardíacas. No mesmo dia soubemos que o seu companheiro também havia falecido. Naquela altura já podíamos entender boa parte de tudo que se passara e sobretudo compreender os por quês daquela amargura constante, o perfeccionismo, a agressividade e todos os problemas decorrentes do preconceito e da própria auto-rejeição que lhe marcaram a curta existência. Em todos os lugares por onde passamos, incluindo nos trabalhos espíritas e assistenciais, os homossexuais sempre se aproximaram de nossa mãe, mesmo aqueles que contavam com a compreensão da família. Ficávamos curiosos por essa atração e logo ela nos explicava lembrando da sua tolerância natural, por causa de tudo o que havia acontecido com o nosso tio.

Esta semana lemos uma nota no jornal que dizia que uma juíza paulista havia reconhecido a união formal de um casal homossexual numa pequena cidade do interior. O fato aconteceu em nossa cidade de origem. O caso é de duas companheiras que escolheram a cidade para viver e, depois de dez anos, resolveram legalizar o relacionamento. Levamos o jornal para nossa mãe e ela simplesmente comentou: “Essa cidade sempre foi pioneira nesses assuntos polêmicos e também nas idéias avançadas, apesar do conservadorismo dos forasteiros. O outro avô de vocês (paterno), sempre foi olhado com desconfiança e muitas vezes ouvi comentários maldosos sobre suas atividades pioneiras no Espiritismo. Ela lembrou-se de muitos outros casos de preconceitos sociais que permaneceram anônimos durante anos ( e ainda permanecem) , mas no fundo estava se lembrando do nosso tio, cuja prova não suportou como todos esperavam que suportasse. Não pudemos conter o impulso, resolvemos escrever e enviar para os amigos um comentário, seguido da nota e da notícia sobre a decisão da juíza, publicada pela Agência Estado.

E finalmente, lembramo-nos também do Espiritismo, cujo movimento tem sido uma verdadeiro oásis para acolher toda sorte de incompreendidos, muitos deles hoje mais tranqüilos e conscientes da sua condição conflituosa e muito atuantes nas suas obrigações morais e doutrinárias. Lembramos também da opinião ingênua (ou seria sínica?) de um dirigente espírita que conhecemos, que afirmava que alguns dos nossos mais destacados médiuns já havia sublimado a sexualidade... E nós rebatíamos: “Sim, é possível, mas antes disso são realmente homossexuais, lutando digna e arduamente para evoluir e superar suas difíceis provas pessoais”.


Oliviero Toscani (Milão, 28 de fevereiro de 1942) é um fotógrafo italiano, que inventou campanhas publicitárias polêmicas para a marca italiana Benetton durante os anos 90. A maioria de suas campanhas é institucional, propagandas de marca e não de produto, normalmente composta apenas por uma fotografia polêmica e o logo da companhia. Uma de suas campanhas mais famosas inclui um homem morrendo de AIDS (SIDA), chorando em uma cama de hospital, rodeado por seus parentes. Outras incluem alusões ao racismo (uma muito notável mostra três corações humanos quase idênticos com as palavras branco, preto e amarelo como legenda), a guerra e a religião. No começo dos anos 90 Toscani fundou, juntamente com o designer gráfico estadunidense Tibor Kalman, a revista Colors. O slogan era "uma revista sobre o resto do mundo". Toscani também lançou um livro chamado "A públicidade é um cadáver que nos sorri", no livro o fotógrafo conta suas experiências e fala sobre ética publicitária.

Fonte: Wikipédia


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