Pesquisa do Datafolha, realizada em São Paulo durante a 9ª Parada GLBT revelou um dado muito interessante quanto a concepção filosófico-religiosa dos participantes: católicos, 36% Espíritas kardecistas e espiritualistas (19%), Nenhuma (18%), Evangélica Pentecostal (4%), Não Pentecostal (3%), Umbanda (3%), Candomblé e outras afro-brasileiras (3%), Judaica (1%), Outras (9%), Ateus (5%). A pesquisa teve uma pequena variação entre a diversidade de preferência sexual dos pesquisados (gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e outros diversos).
Os dados do Censo 2000 escondiam essa particularidade cultural GLBT e colocava as concepções filosófico-religiosas da seguinte forma: católicos (73,8%), evangélicos ou protestantes (15,5 – 10% pentecostais) e espíritas kardecistas (1,4%).
Segundo a reportagem da Folha de São Paulo ( 19/06/2005), que foi comentada pelo sociólogo da USP, Antonio Flávio Pierucci, essa preferência do grupo sócio-cultural GLBT pelo kardecismo seria motivada forte rejeição dos evangélicos ou protestantes pelo homossexualismo e, por outro lado a rejeição da população pelas igrejas pentecostalistas.
Os números do censo também mudam, embora na mesma ordem, quando se trata do perfil da população da cidade de São Paulo: católicos (59%), evangélicos ou protestantes (23%) e kardecistas (6%).
Mas não podemos deixar de lado uma dúvida: por que esse grupo sócio-cultural GLBT mantém alta sua preferência pelo catolicismo e salta numericamente em relação ao kardecismo?
Em relação ao seu passado histórico, o catolicismo tem sido progressivamente mais tolerante com as preferências sexuais. Tanto entre os adeptos como no quadro de sacerdotal, a presença declarada GLBTs é uma realidade incontestável. Historicamente, grande parte do clero e de suas congregações sempre funcionaram como oásis de proteção social ( tolerância e aceitação, ainda que camufladas) das pessoas que não se enquadravam nas convenções sexuais individuais e familiares. O sacerdócio sempre serviu de escudo para ocultar esse preconceito e rejeição da sociedade pelos homossexuais. Historicamente também, a atração de alguns tipos homossexuais pelas corporações disciplinares rígidas e dogmáticas, incluindo as militares, sempre foi um fato notório, igualmente como forma de camuflagem social. Nas décadas de 60 e 70, quando da explosão da liberdade sexual, essas corporações, sobretudo do clero, passaram por uma grave crise vocacional. Só voltaram a se recuperar quando uma outra crise atingiu a sociedade: a instabilidade econômica. Essas corporações sempre foram também um porto seguro diante da incerteza e instabilidade.
A rejeição pelas Igrejas Pentecostais mostra uma lamentável relação reciprocidade: “Eu só vou gostar de quem gosta de mim”. Na concepção protestante, com raríssimas exceções, os homossexuais continuam sendo vistos como desvios ou aberrações da natureza, quando não instrumentos de Satanás para perversão social da família. Essa concepção ilógica mítica da teologia medieval – que se rivalizava radicalmente com o paganismo – coloca Deus e o Homem bem abaixo da idéia de perfeição e evolução. Nesses grupos protestantes o homossexualismo é tratado como uma questão de “regeneração pela salvação”, ou seja, o abandono da “degeneração”, a negação da condição homossexual como característica autêntica, pois esta é um desvio, um vício sexual; e finalmente o resgate da heterossexualidade. Regenerado ou convertido, o indivíduo que estava “invertido” encontrará o equilíbrio e a conseqüente harmonia social que lhe impede de ser visto como pessoa “normal”. Poderá, inclusive constituir família e freqüentar as igrejas.
Já os 19% de preferência pelo kardecismo revela algumas particularidades também curiosas. A doutrina espírita é essencialmente progressista, embora grande parte dos seus adeptos não consiga acompanhar essa constante progressão diante das transformações do mundo e da Ciência. Segundo o Livro dos Espíritos e as demais obras da Codificação, os seres humanos são Espíritos encarnados. Na essência, os Espíritos são bissexuais e se manifestam na carne pela lei biológica do gênero: ora pode ser masculino, ora pode ser feminino. Os ciclos evolutivos de reencarnações é que determinam a manifestação do sexo, pela prova (escolha) ou pela expiação (relação traumática de causa e efeito). O caso do homossexualismo é bastante semelhante com as transições ou mutações orgânicas, com o importante diferencial psíquico: o Espírito que realizou muitas encarnações num determinado sexo geralmente traz na existência atual os traços mentais das encarnações anteriores e isso muitas vezes marca o próprio corpo físico. A herança e as tendências de quem encarna não diz respeito apenas ao aspecto biológico, mas principalmente aos hábitos mentais e suas conseqüências carnais. Portanto, em tese e essência, o homossexualismo não é um desvio ou aberração natural, a não ser nos excessos passionais, possíveis pela liberdade de ação humana em qualquer opção e característica sexual. Pode ser, do ponto de vista moral ou das conseqüências de atitudes morais – nas relações afetivas -, um desvio relativo das referências éticas e dos valores cultivados socialmente pelo indivíduo ou pelo grupo do qual faz parte. Homossexuais também têm suas crenças e valores, liberais ou conservadores, formados em suas origens familiares.
O livro Sexo e Destino, da série André Luiz (FEB Editora), psicografado pelo médium Chico Xavier, revela informações bastante compatíveis com a doutrina contida nas obras de Allan Kardec. Ali encontramos, por exemplo, relatos ilustrativos sobre a dinâmica social e espiritual das leis naturais e morais que afetam os Espíritos e os seres humanos encarnados nessa rotina das múltiplas existências. São experiências dramáticas de pessoas envolvidas em tramas afetivas, quase sempre solucionadas pela mudança de mentalidade em exercício pessoal e social, no próprio ambiente onde ocorreram os erros e danos morais. A reencarnação funciona, nesses casos, como veículo reparador de experiências fracassadas.
Ora, esse tipo de conhecimento, para quem o aceita e digere mental e filosoficamente, provoca mudanças significativas na mentalidade e no comportamento. Muda pontos de vistas e conseqüentemente atitudes preconceituosas. É claro que nem todos os espíritas conseguem digerir plenamente tais informações, mas é o início de um processo de educação ou reeducação de conceitos e atitudes. Para os homossexuais esta pode ser, em tem sido, uma explicação bastante razoável para sua condição sexual conflitante, individual e coletivamente. A partir delas é possível refletir com mais clareza e maturidade sobre um assunto ainda tão polêmico e constrangedor para milhões de seres humanos.
Como herdeiro do pensamento socrático, bem como da tradição herética e libertária do cristianismo, a doutrina espírita é revolucionária de paradigmas e conceitos, adversária natural do preconceito e do pensamento retrógrado. Nascemos dos preconceitos materialistas do século XIX que ainda hoje insiste em ver os fenômenos espíritas e o universo metafísico com coisas absurdas e sobrenaturais. Sabemos também que o conhecimento desperta para Verdade e que esta gera uma responsabilidade que muitos ainda não se sentem preparados para abraçar.
Esperamos que esses números estatísticos cresçam cada vez mais entre os GLBTs. Muito mais importante ainda não é apenas a aceitação da Doutrina Espírita pelos homossexuais, mas aceitação incondicional dessa condição e opção sexual pelos espíritas e nas instituições sociais espíritas.
Os dados do Censo 2000 escondiam essa particularidade cultural GLBT e colocava as concepções filosófico-religiosas da seguinte forma: católicos (73,8%), evangélicos ou protestantes (15,5 – 10% pentecostais) e espíritas kardecistas (1,4%).
Segundo a reportagem da Folha de São Paulo ( 19/06/2005), que foi comentada pelo sociólogo da USP, Antonio Flávio Pierucci, essa preferência do grupo sócio-cultural GLBT pelo kardecismo seria motivada forte rejeição dos evangélicos ou protestantes pelo homossexualismo e, por outro lado a rejeição da população pelas igrejas pentecostalistas.
Os números do censo também mudam, embora na mesma ordem, quando se trata do perfil da população da cidade de São Paulo: católicos (59%), evangélicos ou protestantes (23%) e kardecistas (6%).
Mas não podemos deixar de lado uma dúvida: por que esse grupo sócio-cultural GLBT mantém alta sua preferência pelo catolicismo e salta numericamente em relação ao kardecismo?
Em relação ao seu passado histórico, o catolicismo tem sido progressivamente mais tolerante com as preferências sexuais. Tanto entre os adeptos como no quadro de sacerdotal, a presença declarada GLBTs é uma realidade incontestável. Historicamente, grande parte do clero e de suas congregações sempre funcionaram como oásis de proteção social ( tolerância e aceitação, ainda que camufladas) das pessoas que não se enquadravam nas convenções sexuais individuais e familiares. O sacerdócio sempre serviu de escudo para ocultar esse preconceito e rejeição da sociedade pelos homossexuais. Historicamente também, a atração de alguns tipos homossexuais pelas corporações disciplinares rígidas e dogmáticas, incluindo as militares, sempre foi um fato notório, igualmente como forma de camuflagem social. Nas décadas de 60 e 70, quando da explosão da liberdade sexual, essas corporações, sobretudo do clero, passaram por uma grave crise vocacional. Só voltaram a se recuperar quando uma outra crise atingiu a sociedade: a instabilidade econômica. Essas corporações sempre foram também um porto seguro diante da incerteza e instabilidade.
A rejeição pelas Igrejas Pentecostais mostra uma lamentável relação reciprocidade: “Eu só vou gostar de quem gosta de mim”. Na concepção protestante, com raríssimas exceções, os homossexuais continuam sendo vistos como desvios ou aberrações da natureza, quando não instrumentos de Satanás para perversão social da família. Essa concepção ilógica mítica da teologia medieval – que se rivalizava radicalmente com o paganismo – coloca Deus e o Homem bem abaixo da idéia de perfeição e evolução. Nesses grupos protestantes o homossexualismo é tratado como uma questão de “regeneração pela salvação”, ou seja, o abandono da “degeneração”, a negação da condição homossexual como característica autêntica, pois esta é um desvio, um vício sexual; e finalmente o resgate da heterossexualidade. Regenerado ou convertido, o indivíduo que estava “invertido” encontrará o equilíbrio e a conseqüente harmonia social que lhe impede de ser visto como pessoa “normal”. Poderá, inclusive constituir família e freqüentar as igrejas.
Já os 19% de preferência pelo kardecismo revela algumas particularidades também curiosas. A doutrina espírita é essencialmente progressista, embora grande parte dos seus adeptos não consiga acompanhar essa constante progressão diante das transformações do mundo e da Ciência. Segundo o Livro dos Espíritos e as demais obras da Codificação, os seres humanos são Espíritos encarnados. Na essência, os Espíritos são bissexuais e se manifestam na carne pela lei biológica do gênero: ora pode ser masculino, ora pode ser feminino. Os ciclos evolutivos de reencarnações é que determinam a manifestação do sexo, pela prova (escolha) ou pela expiação (relação traumática de causa e efeito). O caso do homossexualismo é bastante semelhante com as transições ou mutações orgânicas, com o importante diferencial psíquico: o Espírito que realizou muitas encarnações num determinado sexo geralmente traz na existência atual os traços mentais das encarnações anteriores e isso muitas vezes marca o próprio corpo físico. A herança e as tendências de quem encarna não diz respeito apenas ao aspecto biológico, mas principalmente aos hábitos mentais e suas conseqüências carnais. Portanto, em tese e essência, o homossexualismo não é um desvio ou aberração natural, a não ser nos excessos passionais, possíveis pela liberdade de ação humana em qualquer opção e característica sexual. Pode ser, do ponto de vista moral ou das conseqüências de atitudes morais – nas relações afetivas -, um desvio relativo das referências éticas e dos valores cultivados socialmente pelo indivíduo ou pelo grupo do qual faz parte. Homossexuais também têm suas crenças e valores, liberais ou conservadores, formados em suas origens familiares.
O livro Sexo e Destino, da série André Luiz (FEB Editora), psicografado pelo médium Chico Xavier, revela informações bastante compatíveis com a doutrina contida nas obras de Allan Kardec. Ali encontramos, por exemplo, relatos ilustrativos sobre a dinâmica social e espiritual das leis naturais e morais que afetam os Espíritos e os seres humanos encarnados nessa rotina das múltiplas existências. São experiências dramáticas de pessoas envolvidas em tramas afetivas, quase sempre solucionadas pela mudança de mentalidade em exercício pessoal e social, no próprio ambiente onde ocorreram os erros e danos morais. A reencarnação funciona, nesses casos, como veículo reparador de experiências fracassadas.
Ora, esse tipo de conhecimento, para quem o aceita e digere mental e filosoficamente, provoca mudanças significativas na mentalidade e no comportamento. Muda pontos de vistas e conseqüentemente atitudes preconceituosas. É claro que nem todos os espíritas conseguem digerir plenamente tais informações, mas é o início de um processo de educação ou reeducação de conceitos e atitudes. Para os homossexuais esta pode ser, em tem sido, uma explicação bastante razoável para sua condição sexual conflitante, individual e coletivamente. A partir delas é possível refletir com mais clareza e maturidade sobre um assunto ainda tão polêmico e constrangedor para milhões de seres humanos.
Como herdeiro do pensamento socrático, bem como da tradição herética e libertária do cristianismo, a doutrina espírita é revolucionária de paradigmas e conceitos, adversária natural do preconceito e do pensamento retrógrado. Nascemos dos preconceitos materialistas do século XIX que ainda hoje insiste em ver os fenômenos espíritas e o universo metafísico com coisas absurdas e sobrenaturais. Sabemos também que o conhecimento desperta para Verdade e que esta gera uma responsabilidade que muitos ainda não se sentem preparados para abraçar.
Esperamos que esses números estatísticos cresçam cada vez mais entre os GLBTs. Muito mais importante ainda não é apenas a aceitação da Doutrina Espírita pelos homossexuais, mas aceitação incondicional dessa condição e opção sexual pelos espíritas e nas instituições sociais espíritas.
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