Com o seu novo livro, Caim, José Saramago volta a infernizar a vida dos religiosos. É a especialidade dele, um descrente convicto e profissional. A convicção não é verdadeira, é claro. Trata-se, segundo a teoria dele mesmo, de um mecanismo de defesa do “cérebro”, em operação idêntica àquela que mantém a crença em Deus. Suas declarações são desconcertantes e provocam a irritação dos mais emotivos e sectários, que no fundo no fundo não possuem fé suficiente para sustentar essa opinião tão delicada em tempos pós-modernos. Minha filha de 7 anos já me disse que não tinha certeza se Deus existe. Fiquei chocado por alguns segundos e logo tratei de me posicionar dizendo a ela que essa idéia não está à altura de seres humanos como nós e que certamente um dia vamos compreender Deus de forma diferente de tudo isso que vem sendo ensinado sobre Ele. É o que aprendemos no Livro dos Espíritos, que para muitos espíritas ainda funciona – não deveria- como um “catecismo”. O Deus que Saramago tanto detesta realmente só existe na mente dos dogmáticos, sectários e hipócritas. É o Deus do clero, de todas as religiões que tratam o assunto com estupidez e política. Esse Deus é imoral e morreu no século XIX, condenado 100 anos antes pela pena de Voltaire.
O Deus do Espiritismo não é o mesmo Deus da Bíblia vertida para os ocidentais e da cultura dogmática judaico-cristã desenvolvida pelas teologias católica e protestante. Veja a coragem da pergunta de Kardec e a transparência da resposta dos Espíritos. O diálogo que abre o Livro dos Espíritos é direto, franco e não há submissão ou adoração supersticiosa por parte de Kardec. A conversa é dinâmica e os Espíritos estimulam ainda mais a curiosidade, embora recomendem a prudência filosófica. Nosso Deus é o Deus de Zênon(Logos Spermatikos) Sócrates (Pneuma), o de Spinoza e de Einstein ( O Universo pensando). Nosso Jesus também não é mesmo. Nosso Cristo é o educador, o libertador de consciências e não o salvador absoluto e que assumiu irresponsavelmente as nossas responsabilidades sobre os nossos destinos.
Com o advento de novos conhecimentos científicos e a ampliação da nossa capacidade de ler esse novo universo, a nossa concepção sobre Deus vai sofrer mudanças irreversíveis. Nosso respeito pela Divindade vai adquirir um novo sentido e a nossa conduta religiosa um novo significado. Uma coisa é certa: nos ensinaram muitas coisas absurdas sobre Deus e esqueceram de ensinar como manter ideologicamente vivas essa coisas que já nasceram mortas. Precisamos reaprender a ver e adorar a Deus. Os Espíritos já nos ensinaram os primeiros passos. Muitos ainda não conseguem andar sozinhos nesse terreno novo da incerteza. Enquanto isso fazemos preces amedrontadas e com muitas chantagens. Mas já estamos aprendemos a rir das nossas criancices teológicas. Isso é muito importante.
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