quarta-feira, 7 de maio de 2014

FEB adota postura dogmática em campanha contra o suicídio



A Campanha pela Vida, da Federação Espírita Brasileira, infelizmente, contém um grave erro de abordagem no opúsculo sobre o suicídio. O mesmo pode ter ocorrido também no tratamento de comunicação dado no material de propaganda sobre eutanásia e aborto, assuntos tabus nas culturas religiosas e que precisam ser revistos com urgência, em nome do bom senso. (http://www.febnet.org.br/blog/geral/divulgacao/midias-espiritas/ultimas-noticias-midias-espiritas/defesa-da-vida-20-anos/)

Ao adotar uma postura de propaganda doutrinária condenatória - que não dever ser confundida com o pensamento doutrinário da entidade -  a FEB foi socialmente indelicada e ameaçadora ao se dirigir às pessoas com transtornos mentais que passam por esses problemas. Isso não é recomendado e seguro de acordo com  os manuais da OMS (Organização Mundial de Saúde) nem das entidades de prevenção que possuem larga experiência no assunto. A prevenção do suicídio por meio de comunicação, por exemplo, não se faz com a condenação do ato e sim com muito cuidado e respeito aos sentimentos dos suicidas em potencial. Mesmo não concordando com o gesto, não se pode condenar nem fazer proselitismo religioso e doutrinário sobe o sofrimento das pessoas que estão momentâneamente perturbadas. Os Samaritanos de Londres e o CVV no Brasil -  ambas de origem religiosa e há mais de 50 anos lidando com essa questão – mudaram radicalmente suas abordagens, reconhecida por por eles como  preconceituosas, exatamente porque perceberam esse grave erro.  Condenar o suicídio é uma prática histórica das religiões dogmáticas e isso só tem piorado a situação e as estatísticas de autodestruição. Suicídio e aborto são ações carregadas de alta carga de culpa e precisam ser tratadas de forma contextualizada e não apenas cultural. Existem, por exemplo, razões e situações inconfessáveis que levam  às pessoas ao suicídio e que nenhuma religião ou doutrina filosófica conseguem neutralizar com suas dissertações morais. Um caso real ocorrido no CVV (relatado na revista Veja) revelava que um adulto idoso que abusava sexualmente dos netos optou pelo suicídio por acreditar que seus atos não tinham justificativa nem perdão e que morrer seria a única solução possível, pois não poderia compartilhar isso com a sua família  e com a sociedade. Essa combinação de pedofilia e suicídio jamais seria aceita pela religião e pela sociedade com seus códigos condenatórios.

Esse material publicado pela FEB repete a posição moralista da religiões dogmáticas e não progressivas. Reafirma - repetimos, como propaganda e não como doutrina) também um grave tabu social. Antes de publicar deveriam ter ouvido os especialistas (psicólogos e psiquiatras), bem como instituições experientes e que sabem como lidar com o assunto. Recomendamos que o material seja recolhido e revisado, antes que produza mais efeitos nocivos do que preventivos.

 

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