domingo, 17 de agosto de 2008

A Cidade Luz no tempo de Kardec



Boulevard des Italiens, por Edmond Granjean. Cenário do encontro de Rivail e Carlotti.


Paris retratada nas gravuras de Rouarque. Rua Rivoli.

Palais Royal


Escola de Belas Artes


“(...) Atualmente, o visitante que chega a Paris encontra de 1,5 a 2 milhões de habitantes. Em 1860, os muros fortificados se tornaram limite da municipalidade – são mais de 35 quilômetros de circunferência, com 66 entradas ou portões. A cidade é dividida em vinte arrondissements, ou circunscrições administrativas, governadas pelo prefeito do Sena, o barão Georges Haussmann, e seu conselho municipal. O moderno e elegante quarteirão compreende a alegre e magnífica rue de Rivoli, a Place Vendôme, o Boulevard des Italiens e Champs Elysées. O palácio das Tulheries é a residência do imperador e da imperatriz, em Paris; na Île de la Cité estão os tribunais, a chefatura central de polícia e o grande hospital; não há nada de semelhante à “City” londrina – a Bolsa de Valores perto do quarteirão da moda. No Faubourg Saint-Germain, situado na margem esquerda do Sena, localizam-se as grandes e belas mansões da nobreza, em algumas das quais se mantêm as tradições da velha sociedade francesa; no vizinho Quartier Latin, milhares de estudantes levam uma vida de rebeldia e desregramento moral que o estrangeiro mal consegue entender. A leste, Faubourg S. Antoine, outrora estufa de terror e insurreição, há numerosas manufaturas e moradias operárias. Nas cercanias, como no Faubourg S. Vitor, Mouffetard, Belleville, etc., vivem os segmentos mais pobres da população.


Paris, entretanto, pode se orgulhar de ter menos antros de miséria, devassidão e vício do que as vizinhanças de Tottenhan Court Road ou Drury Lane exibem. Há cerca de 4 mil hotéis e hospedarias, carregando em seus nomes sinais da entente cordiale – daí, Chathan, Bristol, Windsor, Manchester, Brighton, Liverpool, Westminster, Dover, Bedford, Canterbury, Richmond, Lancaster, Clarendon, Nelson, Byron, Walter Scotch, Prince Regent, e vários Albions, Londres, Victorias, Îles Britanniques e Angleterres.
(...) Paris exibe com orgulho pelo menos 20 mil cafés. Os mais higiênicos apresentam ao visitante um cenário animado, decorado com sofás luxuosos, espelhos, enfeites e adornos dourados de bom gosto; todos os artifícios capazes de atrair e reter o visitante estão expostos – jornais diários, tabuleiros de damas e xadrez, dominós, baralhos e bilhares. Servem-se café, chocolate e excelentes licores a preços razoáveis. Os salões podem ser freqüentados livremente por senhoras. Prevalecendo o máximo decoro, as conversações transcorrem em voz baixa, o que constitui uma atração a mais nesses lugares populares de diversão. Em geral, só se permite fumar à noite. Tortoni, no Boulevard des Italiens, é famoso por seus sorvetes cremosos e de frutas. O Café du Helder é conhecido por seu absinthe, um licor alcoólico que, tomado em qualquer quantidade, pode ser danoso ao bem-estar físico e moral; abre depois do teatro e a comida é caríssima (meio frango, quatro francos!) O Café Leblond Favre, na Passage de l’Opéra, é onde os corretores de ações da Bolsa tomam seu desjejum; refrigerantes à base de vinho de xerez, limão, açúcar, xarope de menta, grogue norte-americano e outras bebidas ianques à disposição. O Café de Suède fica no Boulervard Montmartre; em cubículos fechados, depois do teatro, servem-se sopas de ganso aux marrons, chucrute e salada de batatas a uma clientela literária e jornalística, de tendências políticas radicais. Le Guillois, excêntrico editor do jornal Le Hanneton, costuma ser visto por lá, sempre fingindo ler um exemplar e resmungando alto, ridiculamente: “Este jornal é extraordinário! Críticas excelentes, paginação inteligente! É tão barato! Realmente, esse Le Guillois é um homem incrível, merece fazer sucesso.


(...) Quando a noite chega, Paris, a Cidade-Luz, converte-se num verdadeiro charivari de prazeres, cabendo ao visitante apenas uma certa cautela, para não lamentar, mais tarde, ter cedido com presteza ávida demais aos apelos da sereia – tentações e bebedeiras – cujos efeitos podem ser catastróficos.Grand Opéra, na rue Lepelletier, é a Ópera francesa, construído às pressas, em 1821, em substituição ao prédio da rue Richilieu, na porta da qual o duque de Berri foi apunhalado, e que por isso foi abaixo. Em 1858, defronte ao seu pórtico, três italianos tentaram assassinar o imperador e a imperatriz, de sorte que essa edificação também está sendo substituída por uma esplêndida construção projetada por Monseur Garnier, e deve ser inaugurada em 1871 (...) As reservas para todas as apresentações teatrais parisienses podem ser feitas num escritório central, situado no Boulevard des Italiens; evite os cambistas, que vagueiam do lado de fora dos teatros mais populares – suas ofertas são excessivamente caras e quase sempre inteiramente falsificadas!(...)


Além da profusão de igrejas, monumentos, galerias e vistas que todo turista conhece bem, chamaríamos a atenção dos visitantes para a MARCHA DO PROGRESSO evidenciada por essa grande cidade. Cada quarteirão de Paris parece admiravelmente renovado. O antiquário sentimental pode chorar a perda da velha Paris e seu passado romântico, assim como o moralista empedernido há de deplorar a glória atribuída à riqueza; mas com toda a justiça outros devem rejubilar-se pelo triunfo da ciência e da higiene modernas.
(...) São 35 linhas de ônibus que cobrem os principais pontos da cidade, das 8:00 à meia noite. Damas não podem viajar no andar superior: são freqüentes as quedas fatais de gente que escorrega na hora de descer os estribos... Pequenos botes a vapor cruzam o Sena: são conhecidos como muches – moscas, ou andorinhas. Cuidado! Recomenda-se a maior precaução com as floristas, nos bals publics, cafés chantants e à saída dos teatros, e com os manhosos avanços de mulheres bem-vestidas e falantes... Nos mercados, barganhar é regra... Não há vendedores ambulantes de peixe em Paris. Todo o pescado é vendido no mercado. Atenção com os judeus vendedores de binóculos para teatro, jóias folheadas, etc., que podem oferecer ao visitante literatura e ilustrações licenciosas: tais artigos são proibidos. Cautela com os zeladores ou encarregados de prédios de apartamentos. Caso se sintam ofendidos, eles poderão causar terríveis aborrecimentos, extraviando cartas, dando informações erradas às visitas e espalhando maledicências nas redondezas.Deve-se evitar discussões políticas. A vigilância policial é ubíqua, e seus agentes detêm amplos poderes para fazer detenções e prisões. Sábio será quem se expressar com grande comedimento ao falar do imperador e do governo da França, eximindo-se de fazer ou comentar qualquer coisa que possa acarretar diminuição da entente cordiale que existe entre nossas nações.”


Guia turistico londrino sobre Paris - Citado por Rupert Christian in "Paris Babilônia"

Nova História do Espiritismo


Moda em 1860

Paris em 1859

Paris romana: Lutécia

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