terça-feira, 7 de julho de 2009

De novo a pedagogia espírita

José Pacheco durante um work-shop no Colégio Puri Domus em São Paulo.


A amiga e educadora santista Ana Lúcia Caetano enviou-nos por e-mail uma entrevista do educador português José Pacheco falando sobre a revolução educacional feita por Eurípedes Barsanulfo em Sacramento. Pacheco é o criador da famosa Escola da Ponte, um ambiente educativo também revolucionário e que foge totalmente dos padrões sistemáticos vigentes.

Naturalmente a amiga Ana Lúcia e muitas outras pessoas se lembraram das críticas e questionamentos que fizemos há alguns anos sobre a chamada pedagogia espírita, enfatizando que Eurípides colocou em prática um projeto altamente inovador, tão inovador que não pôde ser sustentado após o seu desencarne. Fracassou como instituição, mas rendeu os frutos humanos que todos nós conhecemos e que são citados por José Pacheco.

Mas a nossa antiga pergunta persiste: Por que esse fator revolucionário não se sustenta?

Nossa grande preocupação com o rótulo “pedagogia espírita” é que o Espiritismo do qual Herculano Pires tornou-se fiel defensor não é o mesmo Espiritismo dogmático e lamentavelmente sectário que se pratica atualmente no movimento espírita brasileiro. Claro que sabemos que o ser humano Rivail era produto pedagógico de Pestalozzi e Rousseau e que Kardec foi muito além disso na sua educação pessoal e andragógica. Achamos inclusive que o conceito espírita que se pratica hoje seria extremamente prejudicial à pureza universalista desses pensadores, daquilo que se praticou em Yverdon ou mesmo inicialmente em Sacramento. Colocar um rótulo espírita numa escola é muito fácil. Difícil é manter-se fiel aos seus princípios.

Continuamos achando também que a experiência pestalozziana ainda é uma excelente proposta e que qualquer pessoa progressista – incluindo alguns espíritas – poderia confiar a educação dos seus filhos à tal projeto. Com a marca espírita seria mais uma escola confessional, restrita, com espírito de seita, discriminatória, etc. É triste dizer, mas é a realidade. Um dia, quem sabe, quando estivermos devidamente educados no próprio espírito universalista da Doutrina poderemos sustentar o conceito “espírita” em nossos projetos educacionais. Antes disso – embora sejamos sempre favoráveis às tentativas – achamos que é utopia (no sentido de projeto em construção) e que dificilmente será dissociada do sectarismo religioso que hoje fanatiza o movimento espírita. A própria a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita poderia mudar o nome para algo mais abrangente como Humanista e vão perceber que as pessoas deixarão de torcer o nariz, como fazem hoje quando ouvem a definição de “pedagogia espírita”, não somente por causa do preconceito contra o Espiritismo, mas por causa dos limites dos sistemas educacionais. Releiam o relato de Ary Lex no seu livro de memórias (50 anos de Espiritismo em São Paulo) e vão entender um pouco essa nossa desconfiança em relação a tudo isso. Vejam bem: é apenas desconfiança. Não é raiva, nem teimosia.
Herculano Pires teve pouquíssimas limitações ao tratar de Espiritismo. A educação foi uma delas e o motivo dessa limitação talvez tenha sido o fato de nunca ter sido educador de fato. A maioria dos intelectuais tem essa dificuldade de harmonizar a teoria com a prática. A reciproca também é verdadeira para educadores leigos e empíricos.

Ao nosso ver essa questão da educação espírita continua indefinida e inconsistente, tanto quanto outras questões filosóficas como a arte, a política e o partido espíritas. Esse assunto também nos lembra da relação entre esperanto e espiritismo. De onde surgiu essa relação histórica e filosófica? E sempre que esse assunto vem à tona, nos questionamos também: Que tipo de idioma seria ideal para a educação dos nossos filhos num mundo globalizado?

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