domingo, 19 de julho de 2009

Paixão pelos livros


Diversos companheiros reclamam constantemente dos rumos que as editoras espíritas estão tomando. De certa forma ficamos tocados pelos lamentos e protestos dos colegas com a falta de cuidado dos editores e livrarias na manutenção dos clássicos e estímulo aos bons títulos. Romances, romances e mais romances, muitos de gosto e conteúdo duvidosos, sem falar que já existe entre nós a triste afronta dos redatores anônimos disfarçados com pseudônimos de Espíritos escritores (não deixam de ser).

O que fazer? Mesmo as editoras que foram fundadas com a missão clara e definida de publicar títulos realmente à altura dos objetivos dos Espíritos Superiores já estão aderindo ao sistema do lucro pelo lucro - "livro bom é o que vende"- e outras ao conceito maquiavélico de que "os fins justificam os meios", isto é, primeiro vendemos coisas de baixo nível e essas futuramente irão financiar as obras de qualidade e que não vendem tão facilmente. São tempos de decadência, mas também são de mudanças.

Quando colocamos nossa a Nova História do Espiritismo em um blog de acesso gratuito achamos que o motivo tinha sido somente a recusa por parte dos editores alegando principalmente questões ideológicas ou doutrinárias. Que nada. Era pura rejeição mercadológica. Se fosse uma história romanceada... Quando soube que também haviamos publicado pelo sistema de demanda um editor lamentou que havíamos "queimado" o livro. Ora, se está queimado, então vamos torrá-lo no forno digital de um blog. E lá está: impresso, a preço de custo; ou digital, totalmente gratuito, com milhares de acessos, elogios sinceros, agradecimentos e uma enorme sensação do dever cumprido. É uma alternativa nessa nova realidade de competidores tão repetitivos. Antes de cometer esse "crime" mercadológico fizemos uma prece para Benjamin Franklin (editor) e outra para Tom Paine (panfletário). Não tivemos mais dúvidas: vamos digitalizar e disponibilizar os textos.

O livro, tal qual o conhecemos hoje, foi inventado no século XV, como efeito cultural da Renascença e complemento tecnológico da imprensora de Gutenberg. O criador desse formato octagono foi o tipógrafo e livreiro italiano Aldo Manuzio, gênio da comunicação moderna cuja criatividade teria duração de seis séculos. Sua logomarca era uma âncora envolvida por um golfinho, simbolizando ao memo tempo solidez e flexibilidade. Com o advento do hipertexto digital não sabemos com certeza qual será o futuro do livro impresso e do texto plano. Tudo que sabemos é que ele ainda é uma mídia respeitável e continuará sendo por muitos anos. Ele reinou nesses séculos todos e era tão prestigiado quanto as mais inovadoras invenções da indústria mecânica e analógica. Allan Kardec não poderia ter escolhido outro nome para a obra básica da doutrina sem incluir no título a natureza da mídia que seria utilizada para difundir o Espiritismo. Se aparecer algo novo e revolucionário para substituir esse formato impresso certamente teremos que mudar o nome de O Livro dos Espíritos para Algo Novo dos Espíritos.

Pena que a maioria dos nossos atuais editores, com raríssimas exceções, não sejam pessoas cultas e preparadas para exercer função cultural tão importante. Muitos são meros mercadores de objetos que eles chamam de livros e que talvez nem saibam que sua profissão um dia foi exercida por grandes personalidades da cultura literária. Talvez ainda ignorem que o negócio vai sofrer mudanças irreversíveis nas próximas décadas.



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