Conhecemos Dona Martinha quando, na adolescência, acompanhávamos nossa mãe nas reuniões gerais da Aliança Espírita Evangélica, nos finais de ano em São Paulo. Eram reuniões cerimoniais cujo ponto máximo acontecia com a manifestação dos Espíritos mentores. Não havia nenhuma badalação em torno das pessoas que faziam esses intercâmbios mediúnicos, pois todos eram muitos discretos nessas horas. Dona Martinha estava entre esses. Em reuniões menores e mais privativas conhecemos outros médiuns que transmitiam orientações mais técnicas e especificas daquele movimento, sem nunca interferir em questões administrativas dos grupos. Todos eles, como Dona Martha, tinham sido educados na escola mediúnica armondiana, criada originalmente nos anos 1940 na Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Anos mais tarde revimos dona Martinha, reencontro unilateral porque ela não nos conhecia. Fomos apresentados pelo amigo Arnaldo Coutinho, da Fraternidade Esperança, um ativista que havia trabalhado mais de vinte anos com o Comandante Armond. Aliás, a única vez e o mais próximo que chegamos de Edgard Armond foi quando, certa vez , ele conversava pelo telefone com o Coutinho na Secretaria da Aliança, na rua Genebra. Aparentemente parecia um cabo falando com o General. Na verdade era uma relação de amor e respeito, fruto dessa longa convivência.
Dona Martha segurou então a nossa mão por alguns instantes e olhou fundo em nossos olhos. Foram alguns segundos que nos pareceram uma eternidade. Ela olhava para nós e depois olhava para o Countinho e não dizia nada. Sorria educadamente, entre o espanto e a preocupação. Nosso rápido encontro ficou nisso e nunca perguntamos ao Coutinho se ela viu ou pensou algo que fosse do nosso interesse ou que deveríamos saber. No mínimo deve ter percebido que o nosso compromisso com a doutrina espírita estava defasado e que ainda deveríamos passar por umas “poucas e boas” para chegar ao ponto ideal de trabalho.
Mais alguns anos se passaram. Estávamos agora concluindo as nossas pesquisas para a publicação de um livro e resolvemos pedir ajuda para Dona Martha. Tínhamos muitas dúvidas e precisávamos falar com alguém "confiável" que nos desse "acesso" aos Espíritos. Não ligamos inclusive para a experiência mediúnica de nossa mãe, que humildemente nos forneceu algumas informações que buscávamos e, como todo filho teimoso e ingrato, não poderia valorizar a lição de casa. Novamente o Coutinho nos ajudou. Telefonamos para Dona Martha e ela nos atendeu prontamente. Pediu que enviasse as nossas dúvidas e nos alertou que o pedido seria submetido a um grupo mediúnico e que, se houvesse divergência, outros médiuns seriam consultados separadamente. Com grande expectativa, certamente estávamos dando muita importância ao assunto pessoal e, mesmo assim, recebemos um tratamento muito atencioso.
É claro que não houve nenhuma revelação bombástica, muito menos algum tipo de alarde que pudesse realçar a nossa personalidade. Havíamos mandado algumas questões sobre o nosso trabalho e, ao nosso ver, todas elas foram respondidas. Nãoo ficamos totalmente satisfeitos porque na época não conseguíamos enxergar as coisas com "os olhos de ver". Somente depois de algum tempo fomos comprendendo o que havia de mais importante naquelas respostas.
Dessas instruções, especificamente dirigidas a nós , separamos quatro que consideramos essenciais para a nossa experiência, espiritualmente falando:
“Tarefa de divulgação Evangélico-Doutrinária, através da vivência cristã”.
“Tudo que um médium faz tem influência espiritual. É preciso orar e vigiar para conhecê-la”.
“Conhecimento é positivo, polêmica traz perturbação”.
"Demolir dogmas exige conhecimento, compreensão, amor e humildade"
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