Somente agora, quatro anos depois do seu lançamento, conseguimos ver “Jornada pela Liberdade” (2006), uma das mais comoventes histórias sobre as lutas pela abolição da escravatura. Ela também nos faz lembrar que no mundo atual ainda existem milhões de pessoas submetidas ao cativeiro do trabalho compulsório dando-nos a impressão que recuamos no tempo e na história
Apesar de ser uma atividade degradante e moralmente inaceitável , a escravidão foi aos poucos sendo encarada com naturalidade nas civilizações modernas, por incrível que pareça inclusive nas sociedades cristãs. Essa naturalidade se propagou como senso comum principalmente por causa da intensa e lucrativa atividade comercial. Se não houvesse o comércio como estabelecimento legal, o tráfico de pessoas teria se desgastado rapidamente. Por causa do comércio e dos lucros, as vítimas simplesmente tiveram negadas a sua condição humana e o seu valor cultural. Eram vistos como animais cujos costumes primitivos e não “civilizados” justificava a atividade nefasta e criminosa dos seus exploradores. Esse era o pensamento de Willian Wilberforce (1759-1833), membro do parlamento inglês que liderou a cruzada contra escravatura no Império Britânico. Esse raciocínio também se aplica perfeitamente ao Brasil, que só conseguiu iniciar a extinção dessa doença social quando, por pressões inglesas, a Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico em 1850. Uma nação que construiu a sua história com essa mancha não poderia passar impune aos olhos da justiça Divina e o nosso país ainda tem muito que resgatar dessa pesada dívida espiritual. Nas poucas vezes em que citou o Brasil nas suas reflexões Allan Kardec não deixou de lembrar os leitores que o progresso da doutrina e da nação passava necessariamente pelo fim da escravidão. A mensagem foi compreendida pelo editor Telles de Menezes e o Echo Além Túmulo passou a fazer sua conhecida campanha abolicionista na Bahia. A religião oficial e dominante, como não poderia deixar de ser, foi durante muito tempo conivente com essa situação constrangedora, contrariando os princípioshumanitários seguidos por muitos dos seus membros e ativistas. Em Brasil Coração do Mundo, obra que ainda provoca a desconfiança de intelectuais avessos à verdades espirituais, Humberto de Campos nos conta que muitos escravos trazidos ou nascidos no Brasil eram antigas almas romanas já iniciadas nos valores da humildade e que aqui reencarnaram para auxiliar seus irmãos e cúmplices em graves provas o destino.
A prática odiosa da escravidão, muito comum na Antiguidade, havia sido restaurada nos moldes capitalistas mantendo os mesmos abusos e requintes de crueldade. Portugueses e espanhóis, herdeiros da cultura escravista fenícia e moura, rapidamente foram imitados pela Holanda , França e Inglaterra. Segundo o Espírito Emmanuel, enquanto a França tinha como compromisso a difusão da liberdade, o Império Britânico tinha como missão civilizatória extinguir a escravidão e resgatar grande parte dos débitos trazido pelo antigos cidadãos romanos agora reencarnados nos territórios da comunidade britânica. A luta seria longa e exaustiva, pois ali também estariam, ocupando postos importantes, as mesmas almas que comandaram a poderosa máquina da escravidão romana.Wilberforce e seus colaboradores usaram dos mais variados expedientes para implantar essa idéia no cérebro político da Inglaterra conservadora. Um deles foi um passeio pelo rio Tâmisa, conduzindo uma elite formadora de opinião. Numa certa altura do percurso e em meio a um sofisticado coquetel, o barco encosta ao lado de um fétido e repugnante navio negreiro atracado no porto de Londres causando horror e vômitos nos convidados. E Wilberforce se dirige assim aos ilustres turistas, para depois convencê-los pacientemente das suas incríveis intenções: “ Senhores, respirem fundo, pois este é o cheiro morte”.
Entre os colaboradores de Wilberforce estava John Newton, ex-capitão de navio, traficante de escravos convertido ao evangelismo e também autor do famoso hino que deu otítulo original ao filme (Amazing Grace ) estrelado pelo ator Ioan Gruffudd. O pastor John Newton, morreu em 1807, cego e ainda corroído pelo remorso, no mesmo ano em que o Parlamento se rendeu e aprovou o ato contra o comércio de escravos.
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