sábado, 31 de janeiro de 2009

A mansão e o templo interno de Figner

Mansão de Figner na rua Marquês de Abrantes, no Flamengo


Na maioria das biografias relacionadas ao mundo artístico e ao mercado fonográfico Fred Figner quase sempre aparece como um imigrante de origem judaica e proveniente da antiga Tchecoslováquia, primeiro radicado nos EUA e depois estabelecido e naturalizado no Brasil. Poucas falam da trajetória do proprietário da Casa Edson como militante espírita, menos ainda da revelação da sua identidade como Irmão Jacob, no livro “Voltei”, psicografado por Chico Xavier. Mesmo assim, nesses relatos biográficos quase sempre também aparece a obra filantrópica do empresário, apontando-o, por exemplo, como doador da área onde foi construído o Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro. O mais recente relato biográfico de Figner rompeu esse silêncio e mostrou ao público-alvo do livro – artistas e admiradores de arquitetura e patrimônio histórico – o outro lado da experiência existencial do empresário. O livro de Marcos Moraes de Sá não trata exclusivamente da apresentação da antiga residência de Figner como exemplo e expressão da ascensão social burguesa no início do século XX. Mostra também imagens belas e raras da vida familiar de Fred no celebrado reduto doméstico, hoje transformado em sede do Arte Sesc, no bairro do Flamengo. É uma leitura verbal e visual imperdível para esse público culto, mas também obrigatória e deliciosa para o leitor espírita que conhece Figner sob três aspectos: o imigrante e empresário próspero, o ser humano convertido ao espiritismo e militante da doutrina e finalmente o Espírito, que volta preocupado em alertar os confrades sobre os equívocos da militância doutrinária e a prática da caridade. Essa última vivência – o problema da iluminação pessoal - tem sido objeto não de curiosidade, mas intenso interesse daqueles que já percebem os diferentes graus da capacidade de compreensão e aplicação da filosofia espírita

“Antes de 19o3, Fred Figner adota a doutrina espírita de Allan Kardec como sua religião, da qual participa ativamente até o fim de sua vida. A apresentação do espiritismo a Figner se deu por intermédio de Pedro Sayão, pai da cantora lírica Bidu Sayão. Desde então, a abnegação ao próximo e a caridade passam a ser uma constante na vida de Fred Figner. Ele fez parte da Federação Espírita Brasileira como vice-presidente, tesoureiro e membro do Conselho Fiscal, e divulgou a religião da doutrina em uma coluna do jornal Correio da Manhã, que assinou até o seu falecimento.

Figner é considerado uma figura memorável nos quadros do espiritismo cristão brasileiro e contribuiu, segundo registros, “com vultosas rendas em obras de beneficência” para diversas instituições, um filantropo dos mais legítimos e dedicados. Sua participação, contudo, não era feita à distância. Todos os dias, antes de ir para a empresa, prestava assistência na Federação e para lá retornava após a quatro horas da tarde.
Sua caridade era tão explícita que, em 1918, durante o surto de gripe espanhola, que não raramente conduzia à morte, ele acolhe 14 enfermos em sua própria casa, mesmo estando adoentado e febril. Por solicitação da cantora e atriz Pepa Delgado, Figner doa um terreno de sua propriedade em Jacarepaguá para a construção do Retiro dos Artistas. “...não deixou jamais que os bens materiais o impedissem de ver e amparar os mais necessitados que lhe cruzavam o caminho. Faleceu aos 81 anos de idade, em 19 de janeiro de 1947, 25 anos após naturalizar-se brasileiro”.

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