A Vida e as Existências
Sempre somos questionados se é correto na concepção espírita o uso da expressão "vidas passadas", muito utilizado em língua inglesa (past life) e se esta é o equivalente para o termo "reencarnação", mais utilizado na cultura espírita.
Pensamos que reencarnação é uma nova experiência na carne e não uma nova vida. Voltar à carne significa uma nova existência e não uma nova consciência, uma nova individualidade. Trata-se de um recomeço existencial, uma nova consciência existencial, no sentido de renovação de experiências, que no universo simbólico das religiões e filosofias se expressa como renascimento da alma ou "ressurreição", no sentido de despertamento, quebrar o ciclo da alienação orgânica-material e acordar para a Vida.
Assim, pensamos nós, que as existências podem ser muitas, mas a Vida é única.
A fragmentação existencial das encarnações e suas variações sociais, espaciais e temporais é necessária para resgatar e repor experiências perdidas ou traumáticas.
Essa tem sido a grande dificuldade que muitas pessoas ainda experimentam para compreender a reencarnação, esforço que não é fácil até mesmo para mentes intelectualizadas, mas ainda espiritualmente imaturas e que precisam de "tempo" para aceitar e compreender essa realidade. Confundem consciência com existência e até se remetem aos antigos preceitos populares e deterministas da metempsicose, na qual a alma humana regride em experiências irracionais. Mesmo com o suporte das experiências científicas, que mostram evidências e provocam reflexões positivas, este é um assunto de repercussão íntima e que exige um sólido preparo emocional para suportar a dolorosa desestruturação de antigos paradigmas internos e culturais. Na processo perturbador do despertar da mediunidade de prova é que podemos mensurar o quanto é crítica e traumática essa experiência.
Foi também nesse sentido que Kardec se referiu aos espiritualistas ingleses e norte-americanos, sobre o conflito aceitação-rejeição desse tema na cultura racionalista anglo-saxônica.
No universo espírita essa concepção se desdobra para outras esferas, como por exemplo na educação, na qual podemos avaliar a nossa capacidade de compreender e medir o impacto da filosofia espírita individualmente em nossas vidas. Muitos ainda pensam que ensinar e aprender espiritismo se restringe ao aspecto existencial do intelecto e que a transformação da consciência é consequência natural. Outros, não tão simplistas, acham que tal transformação, apesar de concordarem com esse processo natural, entendem que o mesmo é complexo, dialético, e que normalmente ocorre em situações de crise espiritual. Uns preferem o ritmo da existência, protegido pelos mecanismos racionais e disfarces sociais; outros optam pela abertura emocional (sentimentos) e que dão acesso rápido ao cerne da crise ou da insatisfação do espírito encarnado. Ambos são processos graduais, porém com metodologia e epistemologia diferentes entre si. Questão de preferência e também de necessidade pessoal. Cada um no seu tempo, cada um no seu ritmo. Essa é a distinção que também fazemos entre pedagogia (existência) e andragogia (consciência) espírita.
Um comentário:
Prezado Dalmo,
Concordo com vc.
A Vida (ou Consciência) é patrimônio do Espírito e é uma só porque imortal.
As existências físicas é que são várias experiências necessárias ao inexorável propósito evolutivo do Espírito. A existência da Consciência no físico começa no nascer e finda no morrer. Antes, duarnte e depois da existência, há a Vida.
Como espíritas, deveriamos evitar dizer "vidas passadas" quando queremos dizer memórias ou vivências de "EXISTÊNCIAS passadas".
De quebra, lembro-lhe que em jan/2010 citei uma opinião sua sobre uma família que processou um médium num blog que mantinha. Vc sabe em que deu esse processo?
O fato é que recentemente um internauta entrou e opinou sobre a notícia e eu o respondi. Compartilho com vc:
http://blog.opovo.com.br/conexaoespirita/autor-espirita-e-alvo-de-processo/comment-page-1/#comment-1004
Paz e Bem!
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