Óleo atribuído a Simon Vouet e Petro Novelli
746- O homicídio é um crime aos olhos de Deus?
- Sim, é um grande crime porque aquele que tira a vida do seu semelhante corta uma vida de expiação ou de missão, e aí está o mal.
- Sim, é um grande crime porque aquele que tira a vida do seu semelhante corta uma vida de expiação ou de missão, e aí está o mal.
– O Livro dos Espíritos . Ver também a questão 861 – O homem que comete um homicídio sabe, ao escolher sua existência, que se tornará um assassino?
O Brasil é um país cristão, socialmente de maioria católica e protestante cuja moral religiosa cultiva uma ética que rejeita o homicídio, denunciado nos textos revelados e teológicos como “pecado mortal”. Essa mesma ética repudia a pena de morte, mesmo porque o próprio Cristo foi vítima de um julgamento tendencioso e de uma execução cruel e desumana.
O Espiritismo, cuja moral tem similaridades com a cultura judaico-cristã, também vê como extrema gravidade o ato de tirar a vida humana, como apontam as questões propostas por Allan Kardec aos Espíritos.
Mesmo assim, a experiência humana parece brincar com o destino e com as leis da Natureza. Antigos estudos sociológicos já indicavam que havia uma diferença entre as sociedades católicas e protestantes a respeito do homicídio. Nas católicas mata-se muito mais, com o agravante de que os assassinos possuem comportamento e veneração religiosa, fazendo am alguns casos, questão de obterem “sacramentos” antes e depois do gesto insano. Outros se apóiam na idéia do arrependimento como único neutralizador dos erros. No Brasil, os estados que lideram a triste estatística são aqueles que, contraditoriamente são os mais devotos em religiosidade tradicional. Em alguns estados nordestinos, onde há uma secular cultura da vingança e do ódio , misturando problemas sociais e questões políticas, as autoridades temem seriamente a perda de controle com a onda de assassinatos por encomenda comercial. Nas regiões do norte e centro-oeste, onde se perpetuou o conceito popular de justiça privada, persistem os desmandos e abusos contra a vida humana. Nas regiões mais desenvolvidas do sul e sudeste, como demonstram as notícias publicadas na mídia, o crime organizado e a violência se alastram por força das graves diferenças sociais e a rápida urbanização, somada às péssimas condições de educação, bem como à ausência do Estado nas comunidades carentes. A pena de morte não é legalizada, mas ocorre livremente através das inciativas criminosas paralelas. Ocorre também, como bem descreveu o poeta João Cabral de Melo Neto, de forma lenta e perversa, através das injustiças sociais, morte antecedida e anunciada pela difícil vida severina.
E nós, os espíritas, longe da perfeição e críticos das teologias tradicionais, apesar das explicações lógicas dos Espíritos, também estamos estupefatos e em busca de respostas e soluções. Perguntamos, naturalmente esquecendo das nossas leituras e discussões: Em que mundo estamos? Que tempos são esses? Onde vamos parar?
Nesses momentos de medo e desespero, a nossa utopia de um planeta regenerado e “Brasil coração mundo, pátria do evangelho”, parece desvanecer.
Realmente o mundo não está mais o mesmo. Está cada vez mais incerto. São outros tempos, outras circunstâncias, embora sejamos as mesmas almas. Os problemas continuam os mesmos. Como dizia o velho Karl Marx, no seu cínico materialismo, a história não se repete senão como farsa. A repetição dos fatos é apenas uma impressão de que as circunstâncias são as mesmas. Na verdade, mesmo sem ter consciência plena do que estava dizendo, Marx estava reafirmando o princípio da Lei de Ação e Reação: os problemas que não são realmente solucionados retornam como a mesma intensidade e características do passado, facilitando as quedas, as cobranças e também o viciamento no erro. Nenhuma sujeira empurrada para baixo do tapete poderá ficar escondida por muito tempo. Nenhuma mentira poderá ser sustentada com lastros tão frágeis.
Mas o que nos deixa confusos e perplexos é que a nossa moral parece ser impontente e insignificante diante dessas tragédias coletivas. Aliás, falando em coletividade, é possível que o nosso planeta esteja há algum tempo sendo alvo da reencarnação de grandes grupos credores e agressivos, portadores de uma moral bem diferente daquela que as religiões tradicionais difundiram e também daquela que os Espíritos nos indicaram como reta e segura. Os mil anos de Satanás, ainda que simbolicamente, estão em pleno curso. As portas do umbral há muito já foram abertas. Diante das novas Noites dos Cristais só nos resta ficar atentos e orar.
Em 3 décadas, 1 milhão de homicídios
Wilson Tosta, RIO
Quando completar 30 anos, no fim de 2008, a mais antiga e confiável base de dados sobre mortes do Brasil, o DataSUS, do Ministério da Saúde, iniciada em 1979, apontará um número de homicídios acumulado nessas três décadas bem próximo - um pouco maior, um pouco menor - de 1 milhão. A conta é comparável à de países em conflito bélico. Angola levou 27 anos para atingi-la, mas estava oficialmente em guerra civil.
Os números são apresentados por um estudioso do fenômeno da violência, o economista Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para chamar a atenção para a "tragédia anunciada" da segurança pública brasileira. "A questão social não seria unicamente responsável se a gente tivesse um sistema coercitivo que funcionasse. Temos um sistema de segurança pública falido. A violência é como um barco à deriva desses problemas sociais, socioeconômicos", diz.
Na década iniciada em 2000, a taxa de homicídios chegou a 28,5 por 100 mil habitantes em 2002, quando foram mortas 49,5 mil pessoas. Houve queda nesse ritmo de 2003 para cá, mas Cerqueira aposta que, pela evolução dos números, a marca de 1 milhão de mortos será atingida até o fim deste ano. Outra projeção, feita pelo Estado com base nos dados do SUS, indica que esse número será alcançado em 2009.
Cerqueira aponta alguns sinais preocupantes na área de segurança. Um deles é a falta de vontade dos políticos para adotar estratégias de médio ou longo prazo, o que não se enquadra no calendário eleitoral. Outro é o atraso no enfrentamento da criminalidade, ainda refém do modelo meramente reativo dos anos 60, baseado, quando muito, em patrulhamento e investigações, não em estatísticas confiáveis, na antecipação aos problemas e no uso de programas sociais e de policiamento adaptados a cada realidade.
Um dos autores do estudo O Jogo dos Sete Mitos e a Miséria da Segurança Pública no Brasil, publicado pela Editora FGV no livro Homicídios no Brasil, Cerqueira vê, porém, pontos positivos em São Paulo, onde os homicídios têm diminuído. O ranking proporcional de assassinatos é liderado por Pernambuco, seguido de Espírito Santo e do Rio.
DRAMAS
Por trás das estatísticas, estão histórias como a de Inês Maria da Silva, de 67 anos, que perdeu cinco filhos assassinados no Recife, e a de Elizabeth Medina Paulino, de 44, que teve dois filhos e um sobrinho mortos por policiais no Rio. Conseqüências dramáticas, na opinião do especialista em Brasil da Anistia Internacional, Tim Cahill, de décadas de negligência do poder público frente a um abismo de desigualdade social e uma política de segurança pública baseada apenas em repressão. "Um milhão de mortes em 30 anos é um número simplesmente inaceitável", resume.
''Marco de 1 milhão de mortes é inaceitável''
Tim Cahill: especialista em Brasil da Anistia Internacional é cético quanto a queda de mortes em SP e critica violência da polícia, citando tortura de garoto em Bauru
Adriana Carranca
O especialista em Brasil da Anistia Internacional - organização de direitos humanos -, Tim Cahill, nega-se a comparar a violência no País a guerra. Mas diz que "um milhão de mortes em 30 anos é inaceitável".
Como o senhor vê a violência no Brasil?
A violência urbana é uma realidade em todo o mundo, mas no Brasil atingiu proporções extremas graças a décadas de negligência do poder público diante de um abismo de desigualdade social e uma política de segurança pública baseada em repressão.
A violência aqui pode ser comparada à de países em conflito?
Só em números. No mais, não é possível paralelo. O conflito no Brasil não tem base nacionalista, territorial, étnica ou política. Do ponto de vista do direito internacional, se classificarmos a violência no Brasil como guerra, incluiremos a situação no País num conceito em que há aceitação, por parte da comunidade mundial, de que pode haver mortes, como no Iraque e Afeganistão. E não acreditamos que a questão do Brasil justifique essa aceitação. Um milhão de mortes em 30 anos é simplesmente inaceitável.
A queda de homicídios em São Paulo desde 1999, segundo a Secretaria de Segurança, puxa os índices do Brasil para baixo. Isso não é positivo?
Embora queira acreditar em tendência de redução, vejo os números com descrédito. Os dados são controversos e não há estudo que explique as causas. Só quando pudermos entender a queda dos homicídios poderemos comemorar. Por enquanto, o que temos são projetos entre comunidade, polícia, ONGs e governos com bons resultados, como em Diadema.No mais, a situação continua frágil.
Por quê?
O Estado precisa reformar mecanismos de segurança que mantêm atitudes arbitrárias como a morte, por policiais, de um jovem de 15 anos em Bauru. O sistema carcerário continua sem controle externo. E a Anistia, a receber denúncias de graves violações, inclusive na Fundação Casa. A qualquer momento esse caldeirão explode, como em 2006 com os ataques do Primeiro Comando da Capital.
Domingo, 20 de Janeiro de 2008 Agência Estado - Versão Impressa
O Brasil é um país cristão, socialmente de maioria católica e protestante cuja moral religiosa cultiva uma ética que rejeita o homicídio, denunciado nos textos revelados e teológicos como “pecado mortal”. Essa mesma ética repudia a pena de morte, mesmo porque o próprio Cristo foi vítima de um julgamento tendencioso e de uma execução cruel e desumana.
O Espiritismo, cuja moral tem similaridades com a cultura judaico-cristã, também vê como extrema gravidade o ato de tirar a vida humana, como apontam as questões propostas por Allan Kardec aos Espíritos.
Mesmo assim, a experiência humana parece brincar com o destino e com as leis da Natureza. Antigos estudos sociológicos já indicavam que havia uma diferença entre as sociedades católicas e protestantes a respeito do homicídio. Nas católicas mata-se muito mais, com o agravante de que os assassinos possuem comportamento e veneração religiosa, fazendo am alguns casos, questão de obterem “sacramentos” antes e depois do gesto insano. Outros se apóiam na idéia do arrependimento como único neutralizador dos erros. No Brasil, os estados que lideram a triste estatística são aqueles que, contraditoriamente são os mais devotos em religiosidade tradicional. Em alguns estados nordestinos, onde há uma secular cultura da vingança e do ódio , misturando problemas sociais e questões políticas, as autoridades temem seriamente a perda de controle com a onda de assassinatos por encomenda comercial. Nas regiões do norte e centro-oeste, onde se perpetuou o conceito popular de justiça privada, persistem os desmandos e abusos contra a vida humana. Nas regiões mais desenvolvidas do sul e sudeste, como demonstram as notícias publicadas na mídia, o crime organizado e a violência se alastram por força das graves diferenças sociais e a rápida urbanização, somada às péssimas condições de educação, bem como à ausência do Estado nas comunidades carentes. A pena de morte não é legalizada, mas ocorre livremente através das inciativas criminosas paralelas. Ocorre também, como bem descreveu o poeta João Cabral de Melo Neto, de forma lenta e perversa, através das injustiças sociais, morte antecedida e anunciada pela difícil vida severina.
E nós, os espíritas, longe da perfeição e críticos das teologias tradicionais, apesar das explicações lógicas dos Espíritos, também estamos estupefatos e em busca de respostas e soluções. Perguntamos, naturalmente esquecendo das nossas leituras e discussões: Em que mundo estamos? Que tempos são esses? Onde vamos parar?
Nesses momentos de medo e desespero, a nossa utopia de um planeta regenerado e “Brasil coração mundo, pátria do evangelho”, parece desvanecer.
Realmente o mundo não está mais o mesmo. Está cada vez mais incerto. São outros tempos, outras circunstâncias, embora sejamos as mesmas almas. Os problemas continuam os mesmos. Como dizia o velho Karl Marx, no seu cínico materialismo, a história não se repete senão como farsa. A repetição dos fatos é apenas uma impressão de que as circunstâncias são as mesmas. Na verdade, mesmo sem ter consciência plena do que estava dizendo, Marx estava reafirmando o princípio da Lei de Ação e Reação: os problemas que não são realmente solucionados retornam como a mesma intensidade e características do passado, facilitando as quedas, as cobranças e também o viciamento no erro. Nenhuma sujeira empurrada para baixo do tapete poderá ficar escondida por muito tempo. Nenhuma mentira poderá ser sustentada com lastros tão frágeis.
Mas o que nos deixa confusos e perplexos é que a nossa moral parece ser impontente e insignificante diante dessas tragédias coletivas. Aliás, falando em coletividade, é possível que o nosso planeta esteja há algum tempo sendo alvo da reencarnação de grandes grupos credores e agressivos, portadores de uma moral bem diferente daquela que as religiões tradicionais difundiram e também daquela que os Espíritos nos indicaram como reta e segura. Os mil anos de Satanás, ainda que simbolicamente, estão em pleno curso. As portas do umbral há muito já foram abertas. Diante das novas Noites dos Cristais só nos resta ficar atentos e orar.
Em 3 décadas, 1 milhão de homicídios
Wilson Tosta, RIO
Quando completar 30 anos, no fim de 2008, a mais antiga e confiável base de dados sobre mortes do Brasil, o DataSUS, do Ministério da Saúde, iniciada em 1979, apontará um número de homicídios acumulado nessas três décadas bem próximo - um pouco maior, um pouco menor - de 1 milhão. A conta é comparável à de países em conflito bélico. Angola levou 27 anos para atingi-la, mas estava oficialmente em guerra civil.
Os números são apresentados por um estudioso do fenômeno da violência, o economista Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para chamar a atenção para a "tragédia anunciada" da segurança pública brasileira. "A questão social não seria unicamente responsável se a gente tivesse um sistema coercitivo que funcionasse. Temos um sistema de segurança pública falido. A violência é como um barco à deriva desses problemas sociais, socioeconômicos", diz.
Na década iniciada em 2000, a taxa de homicídios chegou a 28,5 por 100 mil habitantes em 2002, quando foram mortas 49,5 mil pessoas. Houve queda nesse ritmo de 2003 para cá, mas Cerqueira aposta que, pela evolução dos números, a marca de 1 milhão de mortos será atingida até o fim deste ano. Outra projeção, feita pelo Estado com base nos dados do SUS, indica que esse número será alcançado em 2009.
Cerqueira aponta alguns sinais preocupantes na área de segurança. Um deles é a falta de vontade dos políticos para adotar estratégias de médio ou longo prazo, o que não se enquadra no calendário eleitoral. Outro é o atraso no enfrentamento da criminalidade, ainda refém do modelo meramente reativo dos anos 60, baseado, quando muito, em patrulhamento e investigações, não em estatísticas confiáveis, na antecipação aos problemas e no uso de programas sociais e de policiamento adaptados a cada realidade.
Um dos autores do estudo O Jogo dos Sete Mitos e a Miséria da Segurança Pública no Brasil, publicado pela Editora FGV no livro Homicídios no Brasil, Cerqueira vê, porém, pontos positivos em São Paulo, onde os homicídios têm diminuído. O ranking proporcional de assassinatos é liderado por Pernambuco, seguido de Espírito Santo e do Rio.
DRAMAS
Por trás das estatísticas, estão histórias como a de Inês Maria da Silva, de 67 anos, que perdeu cinco filhos assassinados no Recife, e a de Elizabeth Medina Paulino, de 44, que teve dois filhos e um sobrinho mortos por policiais no Rio. Conseqüências dramáticas, na opinião do especialista em Brasil da Anistia Internacional, Tim Cahill, de décadas de negligência do poder público frente a um abismo de desigualdade social e uma política de segurança pública baseada apenas em repressão. "Um milhão de mortes em 30 anos é um número simplesmente inaceitável", resume.
''Marco de 1 milhão de mortes é inaceitável''
Tim Cahill: especialista em Brasil da Anistia Internacional é cético quanto a queda de mortes em SP e critica violência da polícia, citando tortura de garoto em Bauru
Adriana Carranca
O especialista em Brasil da Anistia Internacional - organização de direitos humanos -, Tim Cahill, nega-se a comparar a violência no País a guerra. Mas diz que "um milhão de mortes em 30 anos é inaceitável".
Como o senhor vê a violência no Brasil?
A violência urbana é uma realidade em todo o mundo, mas no Brasil atingiu proporções extremas graças a décadas de negligência do poder público diante de um abismo de desigualdade social e uma política de segurança pública baseada em repressão.
A violência aqui pode ser comparada à de países em conflito?
Só em números. No mais, não é possível paralelo. O conflito no Brasil não tem base nacionalista, territorial, étnica ou política. Do ponto de vista do direito internacional, se classificarmos a violência no Brasil como guerra, incluiremos a situação no País num conceito em que há aceitação, por parte da comunidade mundial, de que pode haver mortes, como no Iraque e Afeganistão. E não acreditamos que a questão do Brasil justifique essa aceitação. Um milhão de mortes em 30 anos é simplesmente inaceitável.
A queda de homicídios em São Paulo desde 1999, segundo a Secretaria de Segurança, puxa os índices do Brasil para baixo. Isso não é positivo?
Embora queira acreditar em tendência de redução, vejo os números com descrédito. Os dados são controversos e não há estudo que explique as causas. Só quando pudermos entender a queda dos homicídios poderemos comemorar. Por enquanto, o que temos são projetos entre comunidade, polícia, ONGs e governos com bons resultados, como em Diadema.No mais, a situação continua frágil.
Por quê?
O Estado precisa reformar mecanismos de segurança que mantêm atitudes arbitrárias como a morte, por policiais, de um jovem de 15 anos em Bauru. O sistema carcerário continua sem controle externo. E a Anistia, a receber denúncias de graves violações, inclusive na Fundação Casa. A qualquer momento esse caldeirão explode, como em 2006 com os ataques do Primeiro Comando da Capital.
Domingo, 20 de Janeiro de 2008 Agência Estado - Versão Impressa
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