A América Latina, com exceção do Brasil, ainda vive os tempos primitivos da história do Espiritismo. Alguns grupos militantes estão entrando num período de lutas, fase difícil de afirmação e reconhecimento no qual a filosofia é praticamente desconhecida e os adeptos, sem experiência social no assunto, sofrem todos os tipos de perseguições. Não sabemos o que é pior: lutar onde há resistência e inimigos definidos ou combater em lugares nos quais predominam a indiferença e o desinteresse, onde os inimigos são imaginários, nos fazendo de bobos, perdendo tempo e atirando no escuro.
No início da década de 1980, quando frequentávamos as reuniões da então jovem Aliança Espírita Evangélica , deparávamos com histórias de companheiros do Uruguai e da Argentina relatando suas dificuldades para praticar o Espiritismo ou vir ao Brasil visitar seus companheiros de ideal. Uns tinham que dar satisfações aos bispos e autoridades locais, como na época de perigosos regimes ditatoriais. Outros relataram que tiveram que cortar e vender lenha como forma de reunir recursos para o envio de apenas dois ou três representantes. Olhávamos uns para os outros, brasileiros, envergonhados com a nossa excessiva liberdade, causa da nossa preguiça e acomodação.
Na América espanhola, com raríssimas exceções, não haverá tão cedo o amadurecimento do Movimento Espírita, primeiro porque há nessa cultura uma forte influência católica e uma agressiva organização clerical. Segundo, porque são escassas as condições favoráveis precursoras da mediunidade social. O caminho escolhido pelos movimentos hispânicos, até por imposição das condições citadas, foi o de natureza científico-positiva e filosófica, não religiosa, o que não os isenta de incomodar também o clero acadêmico, em muitos casos mais reacionário e intolerante do que a própria Inquisição.
No Brasil o Espiritismo se estabeleceu pela caridade social, pela exemplificação de médiuns de grande impacto vivencial, pelas práticas curativas populares do passe, enfim, pelo Evangelho aplicado em áreas carentes do pão e do espírito. O fato é que não somos mais gravemente incomodados, mesmo porque as igrejas estão ocupadas na intensa disputa de adeptos. Não sabemos se esse caminho deve ser seguido pelos irmãos latinos, mas achamos que pode ser uma alternativa para evitar conflitos previsíveis e o estacionamento nessa fase primitiva. Estamos falando de Espiritismo prático, para o povo, fora dos livros, sites, blogs, de congressos e escolas. Fora da caridade não há salvação.
Mensagem de um Espírito aos irmãos de outras terras
“Estás de volta, meu amigo, e não perdeste teu tempo. Trata de trabalhar, para que não se esfrie a bigorna. Forja armas de boa têmpera; repousa de teu trabalho com outros trabalhos mais árduos. Serão postos em tuas mãos todos os elementos, à medida que deles necessitares.
Chegou a hora de a Igreja prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira como praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que conduziu os Espíritos. Chegou a hora de ela dar a César o que é de César e sentir a responsabilidade de todos os seus atos. Deus a julgou e reconheceu-a imprópria, de agora em diante, para a missão de Progresso que cabe a toda autoridade espiritual. Só com uma transformação total é que ela poderia sobreviver, mas resignar-se-ia a isso? Não, porque, então, deixaria de ser a Igreja. Para assimilar as verdades e as descobertas da Ciência seria preciso renunciar aos seus dogmas fundamentais. Para voltar à prática rigorosa dos preceitos do Evangelho teria que renunciar ao poder, à dominação, trocar o fausto e a púrpura pela simplicidade e pelas humildades apostólicas. Há duas alternativas: ou se transforma, e suicida-se; ou fica estacionária e sucumbe esmagada pelo progresso.
Além disso, Roma já sofre essa angústia e sabe-se, por revelações irrefutáveis, que na Cidade Eterna a Doutrina Espírita está destinada a causar grande amargura ao papado, porque, fatalmente, se prepara o Cisma na Itália. Não é de admirar, então, o encarniçamento com que o clero combate o Espiritismo, pois é levado pelo instinto de conservação. O Clero, porém, já viu suas armas embotar-se contra esse poder nascente; seus argumentos não conseguiram vencer a lógica inflexível; só lhe resta a do demônio, recurso bem fraco para o século XIX.
Além do mais, é uma luta patente entre a Igreja e o Progresso, mais do que entre ela e o Espiritismo. É o Progresso geral das idéias que lhe abre brecha por todos os lados e a fará sucumbir, como acontecerá com tudo o que não se elevar ao seu nível. A marcha rápida dos acontecimentos deve fazer-vos pressentir que o desfecho não tardará muito. A própria Igreja parece impelida fatalmente a precipitá-lo.”
Espírito de E...
Allan Kardec - Óbras Póstumas
No início da década de 1980, quando frequentávamos as reuniões da então jovem Aliança Espírita Evangélica , deparávamos com histórias de companheiros do Uruguai e da Argentina relatando suas dificuldades para praticar o Espiritismo ou vir ao Brasil visitar seus companheiros de ideal. Uns tinham que dar satisfações aos bispos e autoridades locais, como na época de perigosos regimes ditatoriais. Outros relataram que tiveram que cortar e vender lenha como forma de reunir recursos para o envio de apenas dois ou três representantes. Olhávamos uns para os outros, brasileiros, envergonhados com a nossa excessiva liberdade, causa da nossa preguiça e acomodação.
Na América espanhola, com raríssimas exceções, não haverá tão cedo o amadurecimento do Movimento Espírita, primeiro porque há nessa cultura uma forte influência católica e uma agressiva organização clerical. Segundo, porque são escassas as condições favoráveis precursoras da mediunidade social. O caminho escolhido pelos movimentos hispânicos, até por imposição das condições citadas, foi o de natureza científico-positiva e filosófica, não religiosa, o que não os isenta de incomodar também o clero acadêmico, em muitos casos mais reacionário e intolerante do que a própria Inquisição.
No Brasil o Espiritismo se estabeleceu pela caridade social, pela exemplificação de médiuns de grande impacto vivencial, pelas práticas curativas populares do passe, enfim, pelo Evangelho aplicado em áreas carentes do pão e do espírito. O fato é que não somos mais gravemente incomodados, mesmo porque as igrejas estão ocupadas na intensa disputa de adeptos. Não sabemos se esse caminho deve ser seguido pelos irmãos latinos, mas achamos que pode ser uma alternativa para evitar conflitos previsíveis e o estacionamento nessa fase primitiva. Estamos falando de Espiritismo prático, para o povo, fora dos livros, sites, blogs, de congressos e escolas. Fora da caridade não há salvação.
Mensagem de um Espírito aos irmãos de outras terras
“Estás de volta, meu amigo, e não perdeste teu tempo. Trata de trabalhar, para que não se esfrie a bigorna. Forja armas de boa têmpera; repousa de teu trabalho com outros trabalhos mais árduos. Serão postos em tuas mãos todos os elementos, à medida que deles necessitares.
Chegou a hora de a Igreja prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira como praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que conduziu os Espíritos. Chegou a hora de ela dar a César o que é de César e sentir a responsabilidade de todos os seus atos. Deus a julgou e reconheceu-a imprópria, de agora em diante, para a missão de Progresso que cabe a toda autoridade espiritual. Só com uma transformação total é que ela poderia sobreviver, mas resignar-se-ia a isso? Não, porque, então, deixaria de ser a Igreja. Para assimilar as verdades e as descobertas da Ciência seria preciso renunciar aos seus dogmas fundamentais. Para voltar à prática rigorosa dos preceitos do Evangelho teria que renunciar ao poder, à dominação, trocar o fausto e a púrpura pela simplicidade e pelas humildades apostólicas. Há duas alternativas: ou se transforma, e suicida-se; ou fica estacionária e sucumbe esmagada pelo progresso.
Além disso, Roma já sofre essa angústia e sabe-se, por revelações irrefutáveis, que na Cidade Eterna a Doutrina Espírita está destinada a causar grande amargura ao papado, porque, fatalmente, se prepara o Cisma na Itália. Não é de admirar, então, o encarniçamento com que o clero combate o Espiritismo, pois é levado pelo instinto de conservação. O Clero, porém, já viu suas armas embotar-se contra esse poder nascente; seus argumentos não conseguiram vencer a lógica inflexível; só lhe resta a do demônio, recurso bem fraco para o século XIX.
Além do mais, é uma luta patente entre a Igreja e o Progresso, mais do que entre ela e o Espiritismo. É o Progresso geral das idéias que lhe abre brecha por todos os lados e a fará sucumbir, como acontecerá com tudo o que não se elevar ao seu nível. A marcha rápida dos acontecimentos deve fazer-vos pressentir que o desfecho não tardará muito. A própria Igreja parece impelida fatalmente a precipitá-lo.”
Espírito de E...
Allan Kardec - Óbras Póstumas
Nenhum comentário:
Postar um comentário