No tempo em que as favelas ainda não eram instituição social no Brasil, nem tema de novela, o médium Chico Xavier relatou para Ramiro Gama uma explicação do Espírito Bezerra de Menezes sobre as causas espirituais do fenômeno. O texto foi enviado pelo amigo João Cabral, da Associação dos Divulgadores do Espiritismo-Sergipe. As mensagens da ADE-Sergipe sempre chegam em português, espanhol e inglês. Quem se interessar é só acessar o e-mail: jcabral1945@gmail.com
Para contextualizar o assunto, escolhemos a letra de Aldir Blanc, musicada por João Bosco, escrita na década de 1970 (consta no disco do mesmo nome) e um texto do site “Favela tem memória”
http://www.favelatemmemoria.com.br
A Favela do Esqueleto
Falávamos ao Chico Xavier sobre as favelas do Rio de Janeiro, por nós visitadas, de quando em quando, dizendo-lhe das provas cruciais a que assistimos.
As crianças criam-se ao desamparo, sofrendo toda sorte de miséria. Tornam-se adultas e trazendo na fisionomia triste e desanimada os sinais das lutas enfrentadas.
E o caro Médium esclarece-nos:
O Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, há tempos, deu-me, com relação ao assunto, uma explicação importante e na qual devemos meditar profundamente.
Espíritos cheios de dívidas que desestimaram e ainda desestimam a bênção do tempo e o benefício das provas correcionais da pobreza e da riqueza, por ato de Misericórdia Divina, encarnam por uns 40 anos, como filhos de famílias abastadas, nos bairros de Copacabana, Leblon, Botafogo e Ipanema...
Depois voltam à Espiritualidade e são examinados. E, visto que continuam doentes, viciados, incorrigíveis, reencarnam então, por outros 40 anos, como filhos de famílias pobres e residentes nas favelas do Estado da Guanabara.
Em plena infância, ficam sem os pais. Aprendem, sozinhos, a andar os caminhos rudes, espinhosos, da cidade da miséria e do desconforto...
Sofrem moral e fisicamente. Apanham surras continuas de outros companheiros das mesmas lutas...E acabam entendendo as corrigendas amorosas de Deus.
E chegam no além, depois disto, melhorados, com algum mérito para desempenharem, mais tarde, tarefas educacionais e exemplificadoras no discipulado Cristão.
Ramiro Gama, Lindos Casos de Bezerra de Menezes
Para contextualizar o assunto, escolhemos a letra de Aldir Blanc, musicada por João Bosco, escrita na década de 1970 (consta no disco do mesmo nome) e um texto do site “Favela tem memória”
http://www.favelatemmemoria.com.br
A Favela do Esqueleto
Falávamos ao Chico Xavier sobre as favelas do Rio de Janeiro, por nós visitadas, de quando em quando, dizendo-lhe das provas cruciais a que assistimos.
As crianças criam-se ao desamparo, sofrendo toda sorte de miséria. Tornam-se adultas e trazendo na fisionomia triste e desanimada os sinais das lutas enfrentadas.
E o caro Médium esclarece-nos:
O Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, há tempos, deu-me, com relação ao assunto, uma explicação importante e na qual devemos meditar profundamente.
Espíritos cheios de dívidas que desestimaram e ainda desestimam a bênção do tempo e o benefício das provas correcionais da pobreza e da riqueza, por ato de Misericórdia Divina, encarnam por uns 40 anos, como filhos de famílias abastadas, nos bairros de Copacabana, Leblon, Botafogo e Ipanema...
Depois voltam à Espiritualidade e são examinados. E, visto que continuam doentes, viciados, incorrigíveis, reencarnam então, por outros 40 anos, como filhos de famílias pobres e residentes nas favelas do Estado da Guanabara.
Em plena infância, ficam sem os pais. Aprendem, sozinhos, a andar os caminhos rudes, espinhosos, da cidade da miséria e do desconforto...
Sofrem moral e fisicamente. Apanham surras continuas de outros companheiros das mesmas lutas...E acabam entendendo as corrigendas amorosas de Deus.
E chegam no além, depois disto, melhorados, com algum mérito para desempenharem, mais tarde, tarefas educacionais e exemplificadoras no discipulado Cristão.
Ramiro Gama, Lindos Casos de Bezerra de Menezes
Tiro de Misericórdia 2
João Bosco & Aldir Blanc
O menino cresceu entre a ronda e a cana, correndo nos becos que nem ratazana.
Entre a punga e o afano, entre a carta e a ficha, subindo em pedreira que nem lagartixa.
Borel, Juramento, Urubu, Catacumba,nas rodas de samba, no eró da macumba.
Matriz, Querosene, Salgueiro, Turano, Mangueira, São Carlos, menino mandando.
Ídolo de poeira, marafo e farelo,um deus de bermuda e pé-de-chinelo,
Imperador dos morros, reizinho nagô, o corpo fechado por babalaôs.
Baixou oxolufã com as espadas de prata, com sua coroa de escuro e de vício.
Baixou cão-xangô com o machado de asa,com seu fogo brabo nas mãos de corisco.
Ogunhê se plantou pelas encruzilhadas, com todos seus ferros, com lança e enxada.
E oxossi com seu arco e flecha e seus galos, e suas abelhas na beira da mata.
E oxum trouxe pedra e água da cachoeira,em seu coração de espinhos dourados.
Iemanjá, o alumínio, as sereias do mar e um batalhão de mil afogados.
Iansã trouxe as almas e os vendavais, adagas e ventos, trovões e punhais.
Oxum-maré largou suas cobras no chão, soltou sua trança, quebrou o arco-íris.
Omulu trouxe o chumbo e o chocalho de guizos, lançando a doença pra seus inimigos.
E nana-buruquê trouxe a chuva e a vassoura, pra terra dos corpos, pro sangue dos mortos.
Exus na capa da noite soltaram a gargalhada e avisaram a cilada pros orixás.
Exus, orixás, menino, lutaram como puderam,mas era muita matraca e pouco berro.
E lá no horto maldito, no chão do pendura-saia, Zumbi-menino Lumumba tomba da raia
Mandando bala pra baixo contra as falanges do mal, arcanjos velhos, coveiros do carnaval.
Irmãos, irmãs, irmãozinhos, por que me abandonaram?
João Bosco & Aldir Blanc
O menino cresceu entre a ronda e a cana, correndo nos becos que nem ratazana.
Entre a punga e o afano, entre a carta e a ficha, subindo em pedreira que nem lagartixa.
Borel, Juramento, Urubu, Catacumba,nas rodas de samba, no eró da macumba.
Matriz, Querosene, Salgueiro, Turano, Mangueira, São Carlos, menino mandando.
Ídolo de poeira, marafo e farelo,um deus de bermuda e pé-de-chinelo,
Imperador dos morros, reizinho nagô, o corpo fechado por babalaôs.
Baixou oxolufã com as espadas de prata, com sua coroa de escuro e de vício.
Baixou cão-xangô com o machado de asa,com seu fogo brabo nas mãos de corisco.
Ogunhê se plantou pelas encruzilhadas, com todos seus ferros, com lança e enxada.
E oxossi com seu arco e flecha e seus galos, e suas abelhas na beira da mata.
E oxum trouxe pedra e água da cachoeira,em seu coração de espinhos dourados.
Iemanjá, o alumínio, as sereias do mar e um batalhão de mil afogados.
Iansã trouxe as almas e os vendavais, adagas e ventos, trovões e punhais.
Oxum-maré largou suas cobras no chão, soltou sua trança, quebrou o arco-íris.
Omulu trouxe o chumbo e o chocalho de guizos, lançando a doença pra seus inimigos.
E nana-buruquê trouxe a chuva e a vassoura, pra terra dos corpos, pro sangue dos mortos.
Exus na capa da noite soltaram a gargalhada e avisaram a cilada pros orixás.
Exus, orixás, menino, lutaram como puderam,mas era muita matraca e pouco berro.
E lá no horto maldito, no chão do pendura-saia, Zumbi-menino Lumumba tomba da raia
Mandando bala pra baixo contra as falanges do mal, arcanjos velhos, coveiros do carnaval.
Irmãos, irmãs, irmãozinhos, por que me abandonaram?
Por que nos abandonamos em cada cruz?
Irmãos, irmãs, irmãozinhos,nem tudo está consumado.
A minha morte é só uma: Ganga, Lumumba, Lorca, Jesus
Grampearam o menino do corpo fechado e barbarizaram com mais de cem tiros.
Treze anos de vida sem misericórdia e a misericórdia no último tiro.
Morreu como um cachorro e gritou feito um porco, depois de pular igual a macaco.
Vou jogar nesses três que nem ele morreu:num jogo cercado pelos sete lados.
Catacumba, Praia do Pinto e Esqueleto
Marcelo Monteiro
Quem passa hoje pelo Parque da Catacumba, na Lagoa, pela Selva de Pedra, no Leblon, ou pela Uerj, na Tijuca, não encontra qualquer sinal que existiam nestes locais, há pouco mais de trinta anos, três das maiores favelas do Rio de Janeiro: a Catacumba, a Praia do Pinto e o Esqueleto, respectivamente. As três comunidades foram destruídas durante a febre remocionista dos anos 60 e seus moradores transferidos para conjuntos habitacionais no subúrbio ou na Zona Oeste carioca. De 1968 até 75, pelo menos 50 mil famílias carentes foram obrigadas a deixar suas casas. “No começo eu não acreditei, achava que era mentira, mas logo depois começaram os cadastramentos. Foi tudo muito rápido”, lembra o aposentado Ismael Silva, criado na Favela da Catacumba, na Lagoa, e há trinta anos morador de Brás de Pina.
De todas as favelas extintas nos anos 60, o caso mais polêmico foi a da Praia do Pinto, no Leblon. Os moradores souberam dos planos da Prefeitura de acabar com a comunidade ainda na década de 50, mas houve forte resistência. Segundo dados do Censo de Favelas de 1949, pelo menos 20 mil pessoas moravam no local. A remoção só foi concluída após um incêndio, em 1969, durante o mandato do governador Negrão de Lima. “Muitas pessoas não queriam sair. Apesar dos problemas, preferiam continuar morando na Zona Sul. O incêndio obrigou todo mundo a ir embora”, afirma Maria Rosa de Souza Noronha, de 62 anos, ex-moradora da Praia do Pinto, depois removida para o Complexo da Maré.
Praticamente todos os barracos da Praia do Pinto foram destruídos pelo fogo. No dia seguinte, policiais colocaram abaixo as poucas casas que sobraram de pé. Até hoje ninguém confirma se foi acidente ou uma última tentativa do Governo de expulsar os moradores. Mas todos os indícios apontam para um remoção forçada.
A ex-governadora do Rio e atual ministra da Ação e Promoção Social, Benedita da Silva, nasceu na Praia do Pinto e morou lá até sua família se mudar para o Morro do Chapéu Mangueira, no Leme, anos antes do incêndio derradeiro. Na época, a Praia do Pinto era a maior favela horizontal do Rio e recebia a visita constante de moradores da Zona Sul, entre eles, o 'poetinha' Vinícius de Moraes, que, segundo relatos, teve a idéia de escrever a peça 'Orfeu da Conceição' durante um baile na favela. Sobre a sensualidade dos negros, Vinícius teria dito: “Eles parecem gregos. Gregos antes da cultura grega”.
Outra comunidade de grandes proporções extinta nos anos 60 foi a Favela do Esqueleto, na Tijuca, que chegou a ter quase quatro mil barracos e cerca de 12 mil habitantes. Os primeiros moradores se fixaram no local ainda na década de 50. As casas foram erguidas com restos do que seria o Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil. A construção, no entanto, foi interrompida e nunca mais retomada. “Todo o processo de remoção foi conduzido com muita rapidez. As famílias cadastradas eram levadas para os conjuntos habitacionais e os barracos iam sendo derrubados. Achei tudo muito rápido, mas não houve desrespeito”, lembra Dilmo Emídio Ferreira, ex-morador da Favela do Esqueleto, destruída para a construção da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e de um trecho da Avenida Radial Oeste.
Os últimos 495 barracos da Favela do Esqueleto foram demolidos em 1965. Os ex-moradores acreditam até hoje que a ação teve fins políticos. “Foi uma jogada do Lacerda porque ele queria se eleger presidente. Minha família foi toda para a Vila Kennedy”, conta Dilmo, que preferiu ficar na Mangueira por causa do samba. Pouco mais de quatro décadas após a remoção, ele lembra com saudade dos amigos que se espalharam pela cidade. “Muitas pessoas eu nunca mais encontrei. Naquela época, o tráfico ainda estava no começo, tinha o malandro, o jogo de roda, mas ninguém na favela conhecia a cocaína. O clima era muito tranqüilo”, conta.
Catacumba: extinta em 1970
Localizada na divisa entre Ipanema e Copacabana, numa área estratégica e de alto valor imobiliário, a Favela da Catacumba foi extinta em 1970. Com vista privilegiada para a Lagoa Rodrigo de Freitas, a comunidade tinha 2.320 barracos e cerca de 15 mil habitantes. Adetrudes Justino de Souza, o Seu Souza, de 72 anos, foi presidente da associação de moradores local e auxiliou o Estado no processo de cadastramento das famílias que seriam removidas. Trinta e três anos depois, ele ainda comemora a conquista do título de propriedade mas discorda de como o processo foi conduzido. “Foi tudo muito rápido, as pessoas tinham que ser preparadas. Elas foram jogadas para os conjuntos habitacionais”, afirma Seu Souza, que morou 23 anos na Catacumba.
Apesar da distância do Centro, da separação forçada dos vizinhos, e da forma muitas vezes arbitrária com que o Governo conduziu as remoções, para alguns ex-moradores das favelas extintas a mudança teve também seus pontos positivos. Entre prós e contras, eles destacam a conquista dos títulos de propriedade e de sistemas mínimos de infra-estrutura, como água encanada e esgoto. “Essa foi a parte boa. Mas, na verdade, não tivemos escolha”, diz Ismael, que demorou a se acostumar com a distância dos amigos. "Se fizessem um Favela-Bairro na Catacumba, eu voltava para lá correndo", resume.
Favela tem memória - 25/03/2003
Irmãos, irmãs, irmãozinhos,nem tudo está consumado.
A minha morte é só uma: Ganga, Lumumba, Lorca, Jesus
Grampearam o menino do corpo fechado e barbarizaram com mais de cem tiros.
Treze anos de vida sem misericórdia e a misericórdia no último tiro.
Morreu como um cachorro e gritou feito um porco, depois de pular igual a macaco.
Vou jogar nesses três que nem ele morreu:num jogo cercado pelos sete lados.
Catacumba, Praia do Pinto e Esqueleto
Marcelo Monteiro
Quem passa hoje pelo Parque da Catacumba, na Lagoa, pela Selva de Pedra, no Leblon, ou pela Uerj, na Tijuca, não encontra qualquer sinal que existiam nestes locais, há pouco mais de trinta anos, três das maiores favelas do Rio de Janeiro: a Catacumba, a Praia do Pinto e o Esqueleto, respectivamente. As três comunidades foram destruídas durante a febre remocionista dos anos 60 e seus moradores transferidos para conjuntos habitacionais no subúrbio ou na Zona Oeste carioca. De 1968 até 75, pelo menos 50 mil famílias carentes foram obrigadas a deixar suas casas. “No começo eu não acreditei, achava que era mentira, mas logo depois começaram os cadastramentos. Foi tudo muito rápido”, lembra o aposentado Ismael Silva, criado na Favela da Catacumba, na Lagoa, e há trinta anos morador de Brás de Pina.
De todas as favelas extintas nos anos 60, o caso mais polêmico foi a da Praia do Pinto, no Leblon. Os moradores souberam dos planos da Prefeitura de acabar com a comunidade ainda na década de 50, mas houve forte resistência. Segundo dados do Censo de Favelas de 1949, pelo menos 20 mil pessoas moravam no local. A remoção só foi concluída após um incêndio, em 1969, durante o mandato do governador Negrão de Lima. “Muitas pessoas não queriam sair. Apesar dos problemas, preferiam continuar morando na Zona Sul. O incêndio obrigou todo mundo a ir embora”, afirma Maria Rosa de Souza Noronha, de 62 anos, ex-moradora da Praia do Pinto, depois removida para o Complexo da Maré.
Praticamente todos os barracos da Praia do Pinto foram destruídos pelo fogo. No dia seguinte, policiais colocaram abaixo as poucas casas que sobraram de pé. Até hoje ninguém confirma se foi acidente ou uma última tentativa do Governo de expulsar os moradores. Mas todos os indícios apontam para um remoção forçada.
A ex-governadora do Rio e atual ministra da Ação e Promoção Social, Benedita da Silva, nasceu na Praia do Pinto e morou lá até sua família se mudar para o Morro do Chapéu Mangueira, no Leme, anos antes do incêndio derradeiro. Na época, a Praia do Pinto era a maior favela horizontal do Rio e recebia a visita constante de moradores da Zona Sul, entre eles, o 'poetinha' Vinícius de Moraes, que, segundo relatos, teve a idéia de escrever a peça 'Orfeu da Conceição' durante um baile na favela. Sobre a sensualidade dos negros, Vinícius teria dito: “Eles parecem gregos. Gregos antes da cultura grega”.
Outra comunidade de grandes proporções extinta nos anos 60 foi a Favela do Esqueleto, na Tijuca, que chegou a ter quase quatro mil barracos e cerca de 12 mil habitantes. Os primeiros moradores se fixaram no local ainda na década de 50. As casas foram erguidas com restos do que seria o Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil. A construção, no entanto, foi interrompida e nunca mais retomada. “Todo o processo de remoção foi conduzido com muita rapidez. As famílias cadastradas eram levadas para os conjuntos habitacionais e os barracos iam sendo derrubados. Achei tudo muito rápido, mas não houve desrespeito”, lembra Dilmo Emídio Ferreira, ex-morador da Favela do Esqueleto, destruída para a construção da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e de um trecho da Avenida Radial Oeste.
Os últimos 495 barracos da Favela do Esqueleto foram demolidos em 1965. Os ex-moradores acreditam até hoje que a ação teve fins políticos. “Foi uma jogada do Lacerda porque ele queria se eleger presidente. Minha família foi toda para a Vila Kennedy”, conta Dilmo, que preferiu ficar na Mangueira por causa do samba. Pouco mais de quatro décadas após a remoção, ele lembra com saudade dos amigos que se espalharam pela cidade. “Muitas pessoas eu nunca mais encontrei. Naquela época, o tráfico ainda estava no começo, tinha o malandro, o jogo de roda, mas ninguém na favela conhecia a cocaína. O clima era muito tranqüilo”, conta.
Catacumba: extinta em 1970
Localizada na divisa entre Ipanema e Copacabana, numa área estratégica e de alto valor imobiliário, a Favela da Catacumba foi extinta em 1970. Com vista privilegiada para a Lagoa Rodrigo de Freitas, a comunidade tinha 2.320 barracos e cerca de 15 mil habitantes. Adetrudes Justino de Souza, o Seu Souza, de 72 anos, foi presidente da associação de moradores local e auxiliou o Estado no processo de cadastramento das famílias que seriam removidas. Trinta e três anos depois, ele ainda comemora a conquista do título de propriedade mas discorda de como o processo foi conduzido. “Foi tudo muito rápido, as pessoas tinham que ser preparadas. Elas foram jogadas para os conjuntos habitacionais”, afirma Seu Souza, que morou 23 anos na Catacumba.
Apesar da distância do Centro, da separação forçada dos vizinhos, e da forma muitas vezes arbitrária com que o Governo conduziu as remoções, para alguns ex-moradores das favelas extintas a mudança teve também seus pontos positivos. Entre prós e contras, eles destacam a conquista dos títulos de propriedade e de sistemas mínimos de infra-estrutura, como água encanada e esgoto. “Essa foi a parte boa. Mas, na verdade, não tivemos escolha”, diz Ismael, que demorou a se acostumar com a distância dos amigos. "Se fizessem um Favela-Bairro na Catacumba, eu voltava para lá correndo", resume.
Favela tem memória - 25/03/2003
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