O Movimento Espírita não está somente dividido, também está fortemente poluído. Divisão ideológica, provocada pela diversidade de opiniões e enfoques dos adeptos. Poluição de estratégias e ações, causada pela oferta excessiva e desordenada de serviços de informações e eventos.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Diferentes, porém juntos
Edgard Armond discursando em cerimônia na FEESP em 1968. À esquerda Luiz Monteiro de Barros e à direita Carlos Jordão da Silva. Arquivo: Jacques Conchon.
O Movimento Espírita não está somente dividido, também está fortemente poluído. Divisão ideológica, provocada pela diversidade de opiniões e enfoques dos adeptos. Poluição de estratégias e ações, causada pela oferta excessiva e desordenada de serviços de informações e eventos.
Divisão já não é um assunto tão grave porque, apesar de alguns problemas persistentes como a intolerância e o sectarismo, já é consenso que podemos conviver pacifica e respeitosamente com as nossas diferenças. Vai demorar um pouco para atingirmos esse ideal, mas tudo indica que estamos caminhando no mesmo rumo. Somos filhos históricos do Iluminismo e da Revolução Francesa. É uma divisão diferente dos cismas das doutrinas dogmáticas, pois é aberta e espontânea, produto da liberdade de pensamento e expressão que já vem gravada naturalmente no espírito dos adeptos.
Já o problema da poluição é mais grave porque nos impede de cultivar e explorar os recursos da pluralidade e diversidade cultural que existe entre nós. Se conseguíssemos realizar em conjunto coisas comuns - e mesmo coisas incomuns - seria maravilhoso. Os religiosos sectários e fundamentalistas já estão se curando desses males, adotando o princípio da convivência e das ações ecumênicas. Continuam diferentes, mas não dão trelas para o ódio. Continuam rivais, mas fazem dessa rivalidade uma competição sadia em favor da solidariedade e das necessidades humanas. Estão parando com as alfinetadas, pelo menos em público. Precisamos aprender urgentemente essa lição com eles. Eles conversam entre si e não têm mais esse sentimento negativo de desconfiança e suspeita que ainda conservamos no movimento espírita. Se agíssemos dessa forma, sem preconceito, poderíamos, por exemplo, unificar por ordem temática a maioria dos nossos eventos, hoje lamentavelmente fragmentados, sem nenhuma preocupação logística. Temos recebido tantos convites de congressos, simpósios, palestras, cursos, encontros, enfim, tantas e tantas coisas semelhantes e repetitivas que acabamos não indo a nenhum deles. Quando chegam os convites, a primeira coisa que nos questionamos é se vamos nos sentir bem na tribo que está organizando o evento. Será que eles vão gostar de nós? Será que vamos poder falar as coisas que normalmente falamos? Devemos ir a um encontro específico de comunicadores? Devemos participar de um congresso de médicos? Podemos participar de simpósio de juízes ou de educadores? Tem congresso para os Zé Ninguém?
E se de agora em diante parássemos para pensar em estratégias e eventos mais agregadores e plurais? Que tal um congresso interfederativo? O que vocês acham de um simpósio interfilosófico? Não foi lindo aquele ENCOESP feito no Anhembi em 2001 ou 2002, reunindo todo mundo? Tudo bem, não gostei disso ou daquilo; preferia que houvesse X ao invés de Y, mas, no geral estávamos todos juntos.
Certa vez assistíamos pela televisão a entrega do prêmio Grammy e nesse evento geralmente acontece um verdadeiro desfile de modalidades artísticas e estilos musicais, semelhante ao Oscar. Nessa cerimônia subiu ao palco um famoso cantor norte-americano para dizer da sua alegria de estar entre todos aqueles músicos. Disse ele, emocionado: “Os artistas gostam muito de estarem juntos, de reunirem-se e festejar as artes que cultivamos”. Ele também quis dizer que os artistas são incompreendidos e que somente outros artistas podem mensurar os as idéias, os sentimentos e as atitudes que brotam da vivência artística. Criança não gosta de criança? Pois é. Os Espíritas gostam de estar juntos porque espírita simplesmente gosta de espírita. É o primeiro passo para que se realize a nossa utopia do “Amai-vos e instruí-vos”. É assim que aprendemos realmente a gostar dos outros.
Ps. E que tal a realização de um Prêmio "Espírito Verdade", reunindo todos que trabalham por esse ideal e incluindo todas as modalidades de ações no Movimento Espírita? Teatro, música, cinema, TV, literatura, comunicação, ação social, educação, ciência, enfim...
O Movimento Espírita não está somente dividido, também está fortemente poluído. Divisão ideológica, provocada pela diversidade de opiniões e enfoques dos adeptos. Poluição de estratégias e ações, causada pela oferta excessiva e desordenada de serviços de informações e eventos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário